domingo, 28 de dezembro de 2008

Um bom ano

Sexta-feira, um prosseco na casa da amiga querida, papo vai, papo vem, outra amiga presente começa a fazer algumas lamentações. A principal dela é dividir a sala, no trabalho, com um colega gordo e calorento, que tem por hábito colocar o ar-condicionado no máximo.
A anfitriã, pessoa de fina sabedoria, olha-a e comenta.

- Este é o seu grande problema atualmente? Poxa, você é uma felizarda.

Depois da frase, não houve nenhuma contrapartida de sua parte, no estilo 'veja como meus probemas são maiores". Não foi preciso. Todos nós sabemos de seu histórico. Perdera o pai de um infarto repentino e fulminante há 20 anos. Suas duas irmãs padecem de doenças mentais e se transformaram em outras pessoas, como ela mesma classifica 'mortas em vida'. Perdeu cinco membros de sua família em 2008 e tem a irmã do marido passando por uma fase de depressão. Outra amiga muito próxima, mais dela do que das demais, teve um câncer diagnosticado na mama e estará se submetendo a uma cirurgia de retirada do seio amanhã.
E nem por isso minha grande amiga fica a se lamentar pelos cantos. Nunca a vejo reclamando e é de uma generosidade impressionante, capaz de acalentar e dar força para quem estiver ao seu redor.

Tenho pensado muito sobre a felicidade. No fim do ano, aumentou um pouco minha tendência reflexiva, é claro.

Na última segunda-feira morreu o pai de um grande amigo meu. Morte estúpida e inesperada. Dois dias antes, eu estava a conversar com ele, o pai do meu amigo, em um churrasco em sua casa. O homem encontrava-se animadíssimo, a contar suas experiêncuas da forma mais encantadora, mostrando um amor à vida contagiante.

A gente não pode fazer nada mesmo contra a morte. Só podemos fazer tudo a favor da vida.

No fim doa ano a gente faz balanços dos erros e acertos, dos objetivos cumpridos e preparamos listas do que almejamos para o próximo ano.

Não tenho aboslutamente nada para me queixar deste ano que acaba na próxima quarta-feira. Das cinco prioridades que listei, só faltou o amor. Mas ainda faltam reês dias, quem sabe...

No mais, fiquei com vontade de colocar apenas uma meta para o Ano Novo: viver os próximos 365 dias sem uma única lamentação.

E quando eu cair na tentação de sentir peninha de mim, que eu vá até o Inca, a um orfanato, ao cemitério e olhe para a dor dos outros, para as perdas dos semelhantes, para quem está em situação pior e passe a me sentir mal de ter raiva do mundo por causa do carro que jogou água da chuva em mim, ou do chefe que é inábil, ou do taxista chato que fica me perguntando a cada curva qual o caminho que eu prefiro.

E quando eu vir uma borboleta azul, ou o arco-íris, ou quando chegar um e-mail do amigo de Londres, ou quando as sobrinhas me derem um abraço, ou quando eu for ao cinema, ou quando minha mãe me ligar, meu pai me chamar de 'Donana', meus irmãos disserem que eu cozinho tão bem quanto minha avó; quando eu ajudar alguém, quando eu for ajudada, quando eu der uma boa gargalhada, quando eu por um homem interessante for olhada, que eu tenha a hombridade de me sentir grata.

E, desta forma, 2009 também vai se tornar um bom ano.

domingo, 21 de dezembro de 2008

De noite na cama

Hoje faz exatamente uma semana desde a primeira noite juntos.
Levei-o até minha cama com uma certa desconfiança, confesso, embora já houvesse quem me fizera propaganda sobre suas as qualidades.
"Maravilhoso", "diferente" e "delicioso" foram apenas alguns dos ajetivos usados por quem já o tinha , digamos, experimentado.
Quebrei finalmente a resistência no último domingo e o trouxe para casa. Minhas noites clamavam por renovação.
E foi assim, em busca do novo, que ele foi parar na minha cama no último domingo.
Nem sei como dizer o que senti. Depois da primeira noite juntos, pensei em como pude viver tanto tempo sem ele.
Não fui à ginásticaa na segunda pela manhã. Segunda à noite, outra dose dele e não deu para sair da cama mais cedo na terça de novo.
Aí virou vício. Foi assim ao longo da semana.
O pior foi enfrentar aquele tempinho chuvoso, no trabalho, sem tirá-lo da cabeça.
Me senti patética, não parei de pensar nele o dia inteiro, louca para encontrá-lo de novo à noite.
Envolvê-lo em meus braços e colocar minha cabeça juntinho a ele me dá um prazer incrível e há muito tempo não passava minhas noites tão bem acompanhada.
Estou completamente apaixonada pelo travesseiro viscoelástico First Class.
Ele amolda-se à região da cabeça e pescoço sem exercer pressão e oferece maior maciez e muito mais conforto para um sono tranquilo.
Diz ainda a propaganda que o material foi desenvolvido pela Nasa.
Não sei se foi ou não, mas que esse travesseiro tem me deixado meus sonhos nas alturas, isso tem.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Engraçadinha

Na despedida o amigo brada:
- Você não pode ir embora, Ana Paula.
Eu pergunto por que e a resposta vem sem cerimônia:
- Porque você é engraçada!!!!
Não que eu já não soubesse disso de alguma forma, mas me causou certa surpresa. Ainda tive certa presença de espírito de fazer piadinha idiota:
- Você vai me pagar couvert artístico se eu ficar? Não? Então vou embora mesmo...

Agora, vamos às reflexões - algumas doses de ‘mojito’ ajudam no processo:
A vida inteira ouvi que eu sou engraçada. Desde criança. Na escola. No trabalho. Faculdade. Grupo social. Família. Amigos. Amores. Todos riem comigo. Mas eu não sei se gosto disso. Sim eu tenho humor. Sou boba, de pai e mãe. Lá em casa sempre se teve por hábito fazer piada da gente mesmo, nunca nos levamos a sério demais. Acredito no humor e no riso como uma forma de impor uma visão crítica à vida e aos seus acontecimentos. Desde os mais banais, até os mais contundentes. Mas agora, não sei bem o motivo, causou desconforto. Me vejo ‘encucada’ com o comentário do amigo. Sei lá, queria ser agradável, inteligente, charmosa, boa companhia, qualquer coisa, menos ‘engraçada’.

Deve ser a idade...

Quando mais nova, ainda estudante de teatro e jornalismo, precisei fazer um trabalho sobre o riso e a comédia na história da dramaturgia. Foi quando tive um encontro inesquecível com o “ Tratado do riso”, escrito pelo filósofo e pensador de Laurent Joubert , no século XVI. O livro era difícil de encontrar, apenas na rica biblioteca da UniRio, na Urca, encontrei nem bem um exemplar, mas uma cópia autorizada. Passei bons momentos coma publicação. Acabei fazendo um trabalho que me valeu um 10 e ainda foi lido pela professora de Teoria do Teatro em uma turma mais adiantada da faculdade de artes cênicas da UniRio.

Não me lembro de muita coisa, mas recordo-me perfeitamente da comparação feita pelo autor entre a motivação do choro e a do riso. Ele defende que ambos têm a mesma origem, apenas são desencadeadas de forma diferente. Ambas são explosões incontroláveis e causadoras de alívio, indispensáveis no objetivo fim da dramaturgia: a catarse.

Trazendo para minha vida atual, me parece que a ‘bipolaridade’ das emoções causadoras do riso e do choro fazem sentido. Eu não sei por que me acham engraçada, se às vezes eu me acho
triste como um fado caprichado de solos de guitarra portuguesa...

Bateu uma melancolia e estou torcendo que seja apenas pelo alto volume de álcool em circulação no momento em meu sistema sangüíneo...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Inevitável Machado de Assis


2008. Centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, o maior escritor brasileiro. Na minha opinião e na de muitos - bem mais nobres e validados que eu.


Costumo refletir sobre quais seriam os critérios para definir um grande escritor, ou uma obra literária genial. Como uma apreciadora da leitura em qualquer circunstância, acabei criando uma teoria, que nada traz de edificante à humanidade, mas funciona para mim como um indicador de qualidade. Trata-se da capacidade de descrever uma situação, coisa ou pessoa com precisão. Precisão a ponto de surpreender. Precisão que leva à reflexão. Precisão que faz emocionar de tão real, de tão bem traduzida em palavras o amorfo dos sentimentos.


Afinal, parafraseando Nelson Rodrigues "Só os profetas enxergam o óbvio".


Um livro, para mim, só é excelente quando prima, página após página, por trechos marcantes, inesquecíveis, daqueles que fazem a gente ter vontade de sublinhar (sim, eu sublinho livros).


Fiz todo este preâmbulo não apenas porque Machado é o autor de "Dom Casmurro" e esse foi um dos dez mais da minha vida. Nem pelo fato de Capitu ser um dos pesonagens femininos mais fortes da literatura nacional. Não. O que me fez chegar em casa em um dia de folga, abrir o computador e colocar o teclado para funcionar, foi ter ido ver a exposição "Machado no lugar", em cartaz até o dia 20 de dezembro, na Estação de Metrô do Largo da Carioca, Centro do Rio de Janeiro. O horário da exposição é de 9:30 às 21:30 e não se paga nada para entrar.


Poderia ser uma exposição como outra qualquer, não fosse a genialidade de Machado e a sensibilidade de quem a concebeu. Os textos de Jô Galazi, aliados à criatividade do design de Ricardo Gomes, unem-se em a harmonia perfeita, difícil de se ver em outras realizações. A arrumação é simples. Esse é talvez o maior mérito: como filosofou Leonardo DaVinci "A simplicidade é a sofisticação máxima"


E é pela simplicidade que a viagem pelo rico universo machadiano conquista o visitante. A exposição "Machado no lugar" não é só bonita. Ela traz movimento a quem a visita. Impossível não sair de lá sem sentir vontade de ler toda a obra de Machado Assis. E só por isso, como disse minha mãe, mestre em Literatura Brasileira e que me acompanhou na visita, "Só por despertar nas pessoas a vontade de ler, e a vontade de ler Machado, a exposição já vai além de seu papel. Além de engrandecimento cultural, presta praticamente um serviço à sociedade".


A minha teoria sobre genialidade se encaixa perfeitamente no caso da exposição: precisa.

E por ser precisa, é também inesquecível.


Vá até a estação mais próxima, pegue o metrô, salte na Carioca e dê lugar na sua vida para Machado de Assis.

Lê-lo será inevitável depois de "Machado no lugar"

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aliança

Cobertura de um evento de finanças. Várias atividades ao longo da jornada, diversas fontes interessantes e muito trabalho pela frente. O dia já estava terminando e faltava ainda a última entrevista programada. Tratava-se de uma fonte nova, mas de uma empresa velha conhecida. Explico: o antigo diretor era muito acessível e, depois que ele saiu, passei a ter uma certa dificuldade de falar com os técnicos e analistas desta companhia.

Minha missão era, portanto, arrancar umas aspas do novo diretor e, além disso, conquistá-lo como uma fonte novamente 'acessível' para o daqui pra frente. Venci o cansaço e dirigi-me à sala na qual o moço conduziria a palestra de fechamento do evento. Chego lá e me surpreendo. Quem estava palestrando era uma mulher, além de ser uma jornalista conhecida...senti-me meio perdida, olhei novamente no prospecto para ver se estava na sala certa e devo ter feito uma cara tão desolada que acabei atraindo um cidadão, talvez com pena de mim :
- Posso ajudar?
- Eu tava procurando a palestra do...
- Eu sou o ..., mas cedi lugar à esta nossa cliente...etc...etc...
Eu me apresentei e ele imediatamente se colocou à disposição para entrevistá-lo. Saímos da sala, peguei o gravador e só então reparei no homem.
Era a versão do Fábio Assunção, nos tempos pré-Amy Winehouse, só que com 1,90 m de altura!
Aí eu fiquei nervosa.
Para completar a situação, o bem disposto novo diretor daquela conceituada corretora de valores começou a falar com um sotaque muito familiar. Em cinco minutos, eu não prestava mais atenção em nenhuma projeção econômica, tampouco entendia qual seria sua opinião sobre os investimentos em tempos de crise. Para completar o 'mico' balbuciei em voz alta, no meio da entrevista:
- Você é português...
Ele parou de falar, meio atônito, riu e disse:
- Sim, sou.
- Bem que eu desconfiava...esse seu nome... só poderia ser português...
Ele riu de novo, simpático que é, pois a esta altura já me dava como louca na certa.
Para completar o desastre, minha lente de contato resolveu sair do lugar e tive que interromper mais uma vez a entrevista. Ele , muito gentil, disse-me:
- Eu reparei no deslocamento de tuas lentes. Também uso lentes. Queres ajuda?
Pedi para ele segurar o gravador e abri a bolsa em busca de um espelho.
- Pronto - disse já mais recomposta, mas ainda ciente de que era impossível manter-me em estado normal de temperatura e pressão diante daquela boca desenhada pela mais inspiradora das divindades. E que, ainda por cima, emitia aquele sotaque desconcertante e inebriante.
Terminei a entrevista e precisava de fotos . Ele me convidou para ir até o estande. Tirei umas dez fotos do gajo e já estávamos a falar de Vinho do Porto quando ele me entregou seu cartão e eu vi a aliança, bem proporcional ao tamanho das mãos do sujeito.
Imediatamente recobrei meus sentidos.
Se tivesse visto a aliança antes, a entrevista estaria salva...

sábado, 22 de novembro de 2008

Era para ser um dia como outro qualquer...

...mas seus olhares cruzaram-se de forma diferente. Não se reconheceram de cara. Já fazia muito tempo desde a última vez em que se admiraram. O primeiro impulso foi de hesitação. O desvio de olhar foi inevitável. Há algo de adolescente em todo reencontro e o primeiro pensamento sempre é "estou apresentável?". Em frações de segundos, blasfemamos o calçado escolhido no dia e a mão, involuntariamente, dirige-se até cabelo. Ajeitar o cabelo é a simbologia, expressa em gesto, daquilo que queríamos ajeitar se pudéssemos voltar no tempo. A gavetinha empoeirada das sensações guardadas abriu-se no instante imediato no qual decidiram voltar o olhar um para o outro novamente. As sobrancelhas franziram-se. Fingiram um reconhecimento gradual, como se puxassem da memória, com um certo esforço, todas as lembranças já transbordadas pelos poros. Ela foi a primeira a sorrir. Usou a estratégia do sorriso a vida inteira e conservou seus dentes até a maturidade para não abrir mão de sua arma mais eficaz. Mas foi comedida para não acentuar as rugas. Neste momento lembrou-se da falta de viço de sua pele e entristeceu-se. Ele , decidido como nos velhos tempos, correspondeu ao sorriso andando em passos firmes na direção dela. Uma das mãos já se estendida para tocar-lhe os ombros, a outra ajeitava os poucos cabelos que restavam, molhados pela chuva, a mesma chuva que os levaram para dentro daquele lugar, para o abrigo no qual o destino reservara-lhes uma surpresa.
- Nossa, você não mudou nada...
Ela esqueceu-se das rugas e quase gargalhou.
- Também veio abrigar-se da chuva?
- Pelo jeito não vai parar nunca... como vai você, menina?
Ela esquecera que ele a chamava de menina. De fato, era uma menina quando se conheceram. Ela 14 anos, ele 18. Tanto tempo, tantas águas roladas, tantas experiências, tantas sucessos e dissabores, tantas frustrações e realizações... De que vale tanta vivência se a vida só faz sentido em momentos como o de agora? Ser chamada de menina pelo primeiro homem que amou na vida e que, no auge da inexperiência e da mudança hormonal intensa, jurara ser o único e para sempre.
Mas aprenderam, com uma música do tempo em que se conheceram, que o para sempre sempre acaba.
Acabou ali, quando trocaram diversas informações sobre o tempo presente.
E ao se despedirem, a chuva passou e a noite veio.
E o dia terminou como um outro qualquer...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Classificados

Mulher bonita e com muito bom humor procura
boa companhia para cinema e beijo na boca.

Boa companheira, não afeita a "joguinhos" emocionais. Adora tratar bem quem se relaciona com ela. Gosta das coisas boas e simples da vida, mas não descarta uma pitada de requinte eventual.
Corpo bonito e bem distribuído. Carnuda e sensual. Longe dos padrões de beleza vigentes, não é magrela e ossuda. Mulher do mundo real: saudável, com um belo sorriso e do tipo mulherão. Faz bonito no social e na intimidade.
Gosta de ser bem tratada. Elegância e educação são palavras de ordem para ela.
Quanto à aparência, suas exigências são poucas: deve ser mais alto que ela, saudável de corpo e alma, limpo e com dentes bem cuidados. Aprecia homens másculos e gentis ao mesmo tempo. Sabe tratar-se de características de difícil conciliação, mas você é especial, não é?
Indipensável gostar de futebol. E como já ficou claro no começo deste anúncio, faz-se necessário apreciar um bom filme. E um bom beijo.
A quem atender os requisitos, favor marcar encontro em breve, num cinema perto de você.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Perplexidade


Sei que nem deveria mais chocar-me com certas coisas, mas...

Andam engasgados em minha garganta a emoção, o desconforto, a mágoa e a revolta diante de mais um ato brutal contra uma criança neste país (embora saiba que crianças sejam vítimas de violência no mundo inteiro).


A violência sexual, seguida de assassinato de uma menina de 9 anos, em Curitiba. O nome dela é Rachel Genofre e seu corpo foi encontrado no porta-malas de uma carro na Rodoviária da capital paranaense, na última quarta-feira.


Sei que correm em paralelo diversos outros casos de violência contra crianças.


Mas a morte de Rachel me tocou de forma especial.


Talvez porque tenha passado tantas vezes pela rodoviária de Curitiba, pois era onde eu fazia baldeação para pegar um ônibus para Blumenau, quando morava lá e voltava de ou ía para o Rio passar férias ou feriado. Achava a cidade bucólica e a rodoviária local era limpa, dava para sentar em um café e comer um pão na chapa e tomar um café com leite sem sentir nojo, tão diferente da rodoviária Novo Rio...


Talvez porque a menina tenha a idade da minha sobrinha mais nova e fosse até parecidinha com ela, com aquela carinha de índia...


Talvez porque eu tenha ficado deveras sensibilizada com o fato de ela voltar todo dia para casa sozinha depois da escola, tão pequenininha, com apenas nove anos...


Lembrei de mim mesma, com sete anos, voltando da escola sozinha, porque meus pais trabalhavam o dia inteiro e ficamos um tempo sem empregada e meus irmãos estudavam em horários diferentes. Lembro de ficar com medo, de sempre tentar ficar bem perto de umas senhorinhas, na intenção de fingir que estava acompanhadas delas..


Do que tinha mais medo? De seqüestro, de rapto.


Tinha pavor das histórias de homens e mulheres que roubavam crianças - e é claro que sempre havia alguma criança mais velha disposta a contar algum 'caso' apavorante , de tirar meu sono...


Eu me entristeci demais com essa morte.


As crianças deveriam ser protegidas e nada de mal deveria acontecer-lhes.

A história da Rachel é terrivel porque tem os componentes da viloência abrupta contra a ingenuidade, conra os sonhos, a violência praticada desde que o mundo é mundo. Acho que me entristeci mais porque estamos diante de fatos tão absurdos como pai matar filha, mãe espancar bebês ou abandoná-los nos lixos, namorado matar namorada, que o fato de uma criança ter sido violentada e morta por alguém que não foi nem o pai e nem a mãe causou em mim uma dor muito mais profunda.


Estou escrevendo aqui sobre isso motivada por um comentário de uma estagiária da escola onde a menina estudava. Segue:

"Quando acontece longe, você diz: 'ah, tudo bem aconteceu', todo mundo sente, mas quando é do teu lado você sente mais. Quem é mãe sabe disso"


Curiosamente estou bem longe da Rachel.

Curiosamente não sou mãe.

Curiosamente sinto mais do que senti com outros tantos casos recentes.


Não sei explicar, mas este caso está causando uma comoção mais silenciosa, mas não menos dura e dilacerante.


E sabem o que penso? Não há justiça no mundo capaz de compensar uma vida ceifada desta forma.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Palavras que não existem no dicionário

Ando sem inspiração, ocupada e cansada. Meus 20 leitores já devem ter desistido. Pensei em fazer uma enquete, apostar na interatividade e pedir sugestões sobre quais assuntos são pertinentes para colocar em um blog...me deu vontade de falar do Fernando Sabino, um dos meus autores preferidos , que era prodigioso em momentos de falta de inspiração.
Não sou o Sabino. O mais próximo que estive dele foi em uma entrevista em sua casa, em 1990, na qual eu estava tão nervosa, mas tão nervosa, que pareci uma retardada no vídeo. Sorte que ele foi com a minha cara e desembestou a falar. Tenho a entrevista em vídeo e há anos tento levar a algum lugar e passar para DVD, para colocar um vídeo aqui...quem sabe vira uma promessa de fim de ano. Depois meu irmão namorou a Mariana, uma entre os sete filhos do escritor mineiro. Até hoje eles são amigos e eu a encontrei sábado passado, na Feira da Rua do Lavradio. Aliás, seria um outro bom assunto, a feira é ótima, a gente encontra um bocado de gente conhecida querida, ouve sambinha, chorinho e até canja do Dicró, comendo uma feijoada honesta em qualquer boteco que se resolva encostar. E por falar em música, hoje fui apresentada a uma que não conhecia. "Quatro Paredes", da Marisa Monte. Olha, eu nem curto a moça, mas confesso ter adorado o sambinha. Eu adoro ser apresentada a músicas, não sou de ouvir rádio, de pesquisar músicos novos, por isso conto com amigos para conhecer novas canções. A música tem tudo a ver com meu momento de vida. Sabe quando a gente quer decifrar umas coisas que se sente? Não sabe? Pois é..nem eu sei. Só sei que adorei o seguinte verso:" Procuro explicar o meu sentimento E só consigo encontrar Palavras que não existem no dicionário Você podia entender meu vocabulário Decifrar meus sinais, seria bom".
Seria bom se a gente fosse compreendida sempre, de cara, sem precisar falar, sem precisar procurar e usar as palavras certas. Eu queria que fosse igual à voz do atendimento eletrônico do provedor da internet. Adoro quando o robozinho do outro lado grita "Entendi!", quando você fala a frase "Linha com defeito" ou "Problemas de acesso à internet". Falei tão pouco e a moça eletrônica me entendeu...seria tão bom se eu soubesse botar arquivo de música aqui e todo mundo pudesse ouvir, mas não sei. Um dia aprendo. Enquanto não aprendo, vou tentando aprender com os clássicos...atualmente, minha companhia de cabeceira tem sido o centenário Bruxo do Cosme Velho. Creio me entender melhor com as palavras que existem no dicionário...

domingo, 26 de outubro de 2008

Por duas polegadas a mais...

Texto abaixo retirado da revista "Jornais dos Jornais", de maio de 1999:

"Uma derrota brasileira não menos traumática que a perda da Copa para o Uruguai em 1950. Quatro anos depois da tragédia do Maracanã, a alma nacional foi massacrada pelo segundo lugar dado à baiana Marta Rocha no campeonato de beleza realizado em Long Beach, nos Estados Unidos. Marta, com 38 polegadas de quadril, perdeu para a americana Miriam Stevenson, de 36. Os enviados especiais da imprensa brasileira creditaram a derrota às duas polegadas (5 cm) a mais. A explicação revoltou o país e explodiu nas ruas quando Pedro Caetano e Carlos Renato lançaram a marcha de grande sucesso do Carnaval de 1955: “Por duas polegadas a mais / passaram a baiana pra trás / por duas polegadas, e logo nos quadris / tem dó, tem dó seu juiz”.

Eu ainda não existia nem na derrota de Seleção em 1950 e também não vi Marta Rocha ser preterida pela candidata que prenunciava um futuro de ditadura da magreza. Mas hoje fui acometida de sentimento semelhante ao descrito por quem viveu as duas ocasiões.

Não consegui conter as lágrimas ao saber da derrota de Fernando Gabeira para a prefeitura do Rio de Janeiro. É um golpe muito duro estar quase lá e não conseguir chegar. É um golpe muito duro ter a esperança de ver a cidade que amo, a cidade escolhida para se viver, ser governada por um oportunista da pior espécie. É muito triste constatar que o problema do Brasil é mesmo a má formação congênita de boa parte da população, que não quer ver, não quer o progresso, não quer a honestidade, não quer a sinceridade, não aguenta o olho no olho, porque não aguenta viver na ordem. É um duro golpe ver que 50,78% da população carioca optou pela hipocrisia e pelo coronelismo.

O novo prefeito ganhou por uma diferença inferior a um ponto percentual. Por menos de um ponto percentual o povo do Rio terá quatro anos para aprender com o sofrimento.

Ainda choro. Choro porque a eleição de Gabeira era minha última esperança de desistir de sair do Brasil, para nunca mais voltar.

sábado, 25 de outubro de 2008

Inhoaíba

Graças ao candidato adversário a Fernando Gabeira na disputa à Prefeitura do Rio de Janeiro, morrerei menos estúpida. Uma das estações de trem da Zona Oeste, um remoto lugar perdido na cidade, me foi revelado no debate de hoje à noite na Rede Globo: Inhoaíba. Acho natural não se conhecer algum lugar na cidade. Ainda mais quando não há aspiração a concorrer a nenhum cargo eletivo. Garanto que há muita gente em Inhoaíba que também não conhece a Gamboa, por exemplo, bairro no qual fica o Morro da Providência, aquele onde recentemente o exército resolveu executar três moradores. Eu conheço a Gamboa. Conheço também o Engenho Novo, onde fui criada, influenciando em muito na formação de minha vida e visão de mundo. Quando eu morava no Engenho Novo, ía muito a Campo Grande, ou melhor, a Benjamim do Monte, onde uma colega de colégio morava. Realengo era outra paragem, local de moradia de outra grande amiga. A primeira quadra de escola de samba que pisei, aos 15 anos de idade, foi na comunidade de Vila Vintém, em Padre Miguel. Estudando no Cetiqt, no Jacarezinho, frequentava a casa de amigos em Cavalcante, Senador Camará, Pechincha, Copacabana, Vila Isabel, Ipanema, Urca, Méier, Cachambi, Bangu, Tijuca, Laranjeiras, etc..etc..Cada vez que ía a um lugar novo, tinha por hábito observar. Como sempre fui de me manifestar, manifestava-me sobre cada peculiaridade que me chamava atenção. O bom e o ruim. O belo e o feio. O pitoresco e o de sempre. Hoje moro na Zona Sul. Mas tive em minha trajetória rápidas passagens por Tijuca e Recreio. Também até já morei fora do Rio. Nasci na Zona Portuária, meus primeiros seis meses passei em Nilópolis, terra do meu pai, fiz um aninho em Cascadura, transitei por São João de Meriti, de onde é minha mãe e vivi no subúrbio boa parte da minha vida. Mesmo assim, nunca tinha ouvido falar em Inhoaíba.

O adversário de Gabeira quis mostrar que conhece muito toda a cidade, especialmente a Zona Oeste, pregando uma hipocrisia que eu não via desde os tempos de Fernando Collor.

Eu não queria um prefeito hipócrita para essa cidade. Nem um demagogo, típico fingidor, aproveitador da ignorância política predominante no subúrbio, nas zonas mais pobres e nos grotões menos favorecidos. Posso falar de experiência própria: na eleição de 1989, eu fui vaiada nas ruas do Engenho Novo só por andar com minha camisa com o slogan "Sem medo de ser feliz", em favor do Lula. Para quem não lembra, a Zona Norte votou em peso no Fernando Collor de Mello. Conheço também a história de um amigo, gay, indo para boate, montado em estilo moderno, e que foi apedrejado nas ruas de Bonsucesso.

Aí, nessa altura da vida, tenho que aguentar gente me dizendo que o Gabeira não gosta de suburbano. Só porque ele falou da visão suburbana de alguém. Tá legal. Atire a primeira pedra quem nunca fez um comentário preconceituoso. Mas antes disso, olhe ao redor: será que no subúrbio as visões não têm mesmo um ângulo diferente ao da Zona Sul? Isso quer dizer que seja ruim?

Gabeira é o homem menos preconceituoso da política e sua visão do mundo é aberta, vanguarda, mil anos à frente do nosso tempo. Acontece que não podemos negar: no Rio de Janeiro as pessoas como ele migram para a Zona Sul. Por vários motivos, entre os quais, porque não querem ser vaiadas. Nem apedrejadas.

Eu quero um Rio menos dividido. Quero um Rio com pessoas como Gabeira, como eu, como vários amigos que sabem transitar por todos os meios com respeito, admiração e também visão crítica, por que não? Quero uma Zona Sul que não torça o nariz para a farofa da praia e também um subúrbio que respeite o gay, o moderno, o que pensa diferente.

Abaixo a hipocrisia. Por um Rio mais feliz, mais inteligente, menos macomunado com forças politiqueiras.

Vote consciente no dia 26 de outubro e dê de presente um prefeito à altura da Cidade Maravilhosa.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O que faz você feliz?

Adoro o comercial do supermercado 'Pão de Açúcar'. O atual é com o Seu Jorge cantando e indagando, na canção, a pergunta que dá título a este post.

Mas gosto mesmo é do primeiro, com a voz do Arnaldo Antunes narrando...se não viu, da uma olhada no link abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=JoYT8TH_ckY

Tenho mania , meio de brincadeira, de cumprimentar meus amigos e as pessoas que se relacionam comigo com um "Está feliz?", em vez de um "Está tudo bem?".

Noto que as pessoas riem.

Noto uma certa dificuldade em se admitir que se está ou é feliz.

Em geral, se dá um peso muito grande à palavra felicidade.

Mas na verdade, saber exatamente o que faz a gente feliz deveria ser o primeiro passo para se estruturar e escolher a forma ideal para se viver.

Estar com gente, compartilhar momentos e conviver são três coisas que me deixam muito feliz. Me comunicar e trocar idéias com as pessoas sempre foram coisas que me fazem feliz, desde muito cedo. Acho que escolhi a profissão certa. Fico feliz na maior parte do tempo. Também cultivo amizades, outra maneira de alimentar a felicidade , quando se é tão sociável...

Me faz feliz um croissant com nutela. Um bom livro. Cozinhar e servir para outros comerem. Enxergar me faz feliz. Ouvir também. Me faz feliz ajudar as pessoas, com qualquer coisa: uma informação, uma indicação de emprego, um cuidado qualquer, um conselho, uma dica de viagem ou dar uma de cupido. Generosidade me faz feliz. Fazer carinho no gato e brincar com crianças legais também me deixam feliz. Dar festas e ir a festas me deixam imensamente feliz!

Há coisas que não sabemos, mas aspiramos para ser felizes. Ter filhos é um exemplo Eu não sei se me faz feliz, nunca os tive. Mas conheço quem precisa deles para ser feliz. Dinheiro é outra. Quem nunca teve muito nem precisa ter tido para saber como deve dar uma felicidade danada ter dinheiro sobrando...

Por enquanto, vou pensando mesmo é nas coisas mais simples, como um milho verde cozido, com manteiga à beça. Ou uma viagem à Lisboa, muito bem acompanhada. Ou um mergulho no Oceano Atlântico, quando o mar está bem calminho, com temperatura entre 24 e 25 graus e um calor de rachar no Rio de Janeiro. Ou um bom vinho, entre amigos ou entre amores, no frio de Londres.

E você? O que faz você feliz?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Edifício Argentina

Um amigo, nascido e criado nas redondezas de Botafogo, Flamengo e Laranjeiras, me garantiu que o prédio foi construído depois de 1980. Antes, ali existia uma casa onde funcionava o consulado argentino.

Minha memória emocional estava bem anterior ao ano de 1980, mas confio na minha fonte. Deve ter sido em 1981. Eu era uma menina de 11 anos, estudante de uma escola pública do Engenho Novo, cujo nome era de um general argentino, Sarmiento. Estávamos em plena ditadura militar.

Naquela época, era comum os alunos formarem filas no pátio de entrada do colégio e cantar três hinos antes de subir para as salas de aula: o Hino da Bandeira, Hino da Independência e o Hino Nacional, que era o que eu mais gostava. Sempre fui uma das melhores alunas de música, cantava todos os hinos com perfeição.

Por conta da minha performance no coral, numa determinada ocasião fui conovocada para ir cantar o Hino em uma solenidade no Consulado Argentino. Minha mãe precisou assinar uma autorização. Um ônibus com ar refrigerado, daqueles com poltrona em duas posições, e que era um verdadeiro luxo para a época, nos esperava na porta da escola, de manhã bem cedo.

Eu não sabia direito para onde iria e lembro que todos os demais alunos faziam muita bagunça dentro do ônibus. Eu não. Fui uma criança que levava muito a sério as recomendações da minha mãe: era para eu me comportar bem, pois estariam presentes diversas autoridades. Decidi colocar em prática o bom comportamento já durante o trajeto.

O ônibus parou na Praia de Botafogo, descemos todos e as professoras tentavam acalmar a turma em polvorosa. Subimos uns degraus e lembro-me até hoje da sensação. Acho que fora a primeira vez na vida que vi, de tão perto, um edifício tão moderno. Vidros fumê, mármore no chão e aquele jardim com imensas palmeiras dividindo a entrada. As crianças bagunceiras aquietaram-se diante de tamanha imponência. A partir dali o silêncio entre nós era tão grande, que os professores pareciam começar a ter receio de que não abriríamos a boca sequer para cantar.

Os elevadore enormes continuavam a nos impressionar. Chegamos em uma andar intermediário e fomos conduzidos a um salão imenso. Cheio de mesas redondas, arrumadas como nos hotéis de luxo. Sentamo-nos divididos. Em cada mesa cabiam 10 pessoas e, em cada uma, um professor dividia o espaço com as crianças.

Começaram a servir um lauto café da manhã. Garçons de luva nos perguntavam se queríamos suco, leite, chocolate. Depois passavam mais uns três garçons nos oferecendo bolo, pães, doces, brioches com queijo e presunto e frutas. Embora eu já estivesse acostumada a comer em restaurantes - programa usual dos meus pais com os filhos nos fins-de-semana- nunca estivera em um lugar com ritual tão suntuoso.

Tenho a nítida impressão ter sido ali que me apaixonei pela boa vida.

Olhava a vista do Pão de Açúcar, ouvia o tilintar dos talheres, copos e xícaras. Sentia o cheiro doce do chocolate quente e a sensação dos folheados de maçã e dos alfajores derretendo na boca.
Ali decidi: quero isso para mim a vida toda. Quero tomar café da manhã de frente para um cartão postal. Quero ter acesso ao belo, ao bom gosto, ao refinado.

Nunca pensei em abrir mão das coisas simples da vida e nem da 'suburbaneidade' que concede um traquejo fundamental para lidar com a vida numa cidade tão partida, e também no mundo afora. Mas senti, naquele dia, nos início da década de 80, que me transformaria numa cidadã do mundo, capaz de desfrutar com prazer desde um pagode na lage até uma festa black tie... e, tudo isso, devo ao Edifício Argentina, o mesmo que hoje vejo da minha janela... e que me tampa a visão do Pão de Açúcar...

sábado, 27 de setembro de 2008

Carta de despedida - escrita em 29/07/2004

Obrigada por ter me recebido ontem.
Apesar do atrito por causa do celular da paulista, saí de sua casa mais calma e conformada.
Pode ler até o final sem susto. Você não sentirá pena de mim, não vai sentir-se pressionado, irritado e muito menos culpado.

Parei. Pensei. Repensei.
Olhei minhas atitudes com distanciamento e percebi que continuo errando, tentando influenciá-lo a me querer de volta quando - você tem toda razão - isso precisa partir de dentro de seu coração.
E digo mais: eu também só quero se for dessa forma.

Assim como você, saí muito machucada de nosso casamento. Com a auto-estima no ‘ralo do porão do fundo do poço’.
Precisei cair na gandaia, abrir espaço para um monte de flertes que, durante um tempo, foram preenchendo meus vazios e levantando meu astral.
Entendo mesmo o que você está vivendo agora.
É um pouco doloroso, mas aceito isso. Embora saiba do risco de você se apaixonar e começar um novo relacionamento.
Se isso acontecer saberei aceitar, pois a vida é assim.

Aqui, de minha parte, vou desenvolvendo meu auto-amor e tomando consciência daquilo que espero de um relacionamento: sentir-me amada, desejada e importante pelo meu próximo companheiro.
Precisarei sentir que o homem que escolheu ter-me ao seu lado gosta do meu cheiro, minha aparência, meu jeito de ser e até dos meus defeitos. E ele precisará demonstrar isso nas ações e eu retribuirei com todo meu amor e todas as minhas qualidades (que não são poucas! rs,rs...)
Para mim essa é a única e verdadeira forma de se viver um amor.

Minha agressividade está sob controle, ou melhor, agora descobri que eu não sou agressiva. Tratava-se de um mecanismo psicológico, absorvido do ambiente familiar, usado para me defender do mundo, por medo de me mostrar do jeito que sou verdadeiramente: amorosa, romântica e graciosa.
Em contrapartida, talvez eu seja uma mulher de batalha mesmo, que leva mais agitação e movimento do que paz à vida de uma pessoa.
Mas discordo do seu pai. Acho que existem homens que querem mulheres deste jeito.
Pois o meu movimento é sempre em prol do engrandecimento.
Creio ser inegável que, apesar de tudo, comigo você só andou pra frente.

Desta forma, aquilo que você e outros entendem como ‘paz de espírito’ eu nunca poderei oferecer.
Até porque, no meu humilde entendimento, ‘paz de espírito’, o próprio nome já diz: deve vir de dentro de nós.
Posso não ser agressiva, mas intensidade e agitação fazem parte da minha essência.

Prometo que deixarei você "respirar".
Tenho um caminho a ser seguido: conseguir um novo trabalho, continuar a viver minha vida, tentar me apaixonar novamente e ser correspondida.
Pode até ser por você...se for o nosso destino.

Entrego a partir de agora tudo ao tempo que, com sua mão apaziguadora, atenuará todo sofrimento e saberá trazer o que tiver que ser.


Simples assim

sábado, 13 de setembro de 2008

Fiódor e o Cabelereiro

Precisava fazer unha, arrumar o cabelo, delinear a sobrancelha, enfim, essas atividades femininas de primeira necessidade. Eu sabia que só teria o sábado para fazer tudo, mas a logística não me favorecia: cada profissional de confiança escolhido para cuidar da minha estética, fica espalhado em cantos diferentes da cidade. Conclusão: resolvi arriscar e marcar no salão próximo da minha casa, sem medo de entregar bens tão preciosos a mãos desconhecidas...

Chego no salão e o cabelereiro que me atendeu, super gentil, perguntou se eu queria café, água, mate e um pãozinho de queijo. Eu não tivera tempo de tomar café e aceitei o mate com o pãozinho de queijo.

Nunca fui muito de puxar assunto com cabelereiros e manicures. Não por antipatia, mas porque eu gosto de ficar em silêncio nestes momentos. Pensando na vida, meditando. Por vezes, relaxo tanto que até durmo.

Enquanto eu tinha meus pés mergulhados em uma bacia, minhas cutículas sendo retiradas das mãos e o secador bombando no meu couro cabeludo, entra uma cliente e se dirige ao hair stylist que cuidava das minhas madeixas:

- Como vai, Toní? (é, o nome dele é Toní, com a sílaba tônica e ' i' agudo no final). Olha, a minha mãe pediu para eu trazer o livro que você emprestou a ela mas eu esqueci, trago na semana que vem, tá bom?

- Não tem problema não. Ela gostou?

- Disse que adorou...ah, e pediu para recomendar que você leia "A Cabana", do William Young.

- Ah, tá. Bom saber. Vou ler depois que acabar de ler "Crime e Castigo"...

Despertei na hora. Toní continuou:

- É romance russo, né? Já viu...Não é uma leitura fácil...Cada personagem tem um apelido e o autor muda toda hora a forma de se referir aos personagens. Mas é muito emocionante...não dá vontade de parar...

A cliente confirmou tratar-se de uma ótima leitura, de um livro para se carregar na memória para o resto da vida. E Toní acrescentou:

- Pois é, todo mundo fala que o final faz a gente refletir muito. Mas eu acho que ele vai acabar confessando o crime. Tudo bem que foi perfeito, mas ele não vai aguentar o remorso...

- Leia até o final, leia até o fina, Toní... - incentivou a cliente, com um sorriso de sabedoria nos lábios.

"Crime e castigo", de Fiódor Dostoiévski, faz parte da lista de clássicos que ainda não li. Estava programado para este ano (minha meta são dois clássicos por ano), mas emperrei na "Montanha Mágica", de Thomas Mann e já estava achando que não ía conseguir terminar sequer um único este ano. Não gosto de deixar livros pela metade, mas depois do papo entre a cliente e o cabelereiro, fiquei disposta a largar "A Montanha" de lado e partir para o clássico russo.

Quando o trato no cabelo terminou, não resisti e virei-me para Toní:
- Você gosta de cinema?
Ele respondeu, surpreso:
- Sim, gosto muito.
- Já assistiu a "Match Point", do Woody Allen?
- Não.
- Então, ao treminar de ler o livro, pegue o DVD. Dizem que Allen se inspirou em "Crime e Castigo".

Toní pega um papel e pede para eu anotar o nome do filme.

Saio do salão com a cabeça feita.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Cansaço ponto.com

Com tantas opções de lazer pelo mundo, certamenmte poucos perceberam a ausência da blogueira que vos posta. Aos incautos e resistentes visitantes, resolvi dar um alô e avisar que, em função da jornada tripla de duas semanas - por causa de um trabalho como freelancer, mais o trabalho oficial e mais cuidar da casa e de mim - estarei meio fora de órbita.

Vida de jornalista requer muito trabalho, se quiser ganhar algum dinheiro. E justamente os dois setores que estou cobrindo no momento - mercado financeiro e petróleo e gás - resolveram não dar trégua.

E nessas horas de pauleira, quando a gente pára, tudo que se quer na vida são aquelas trivialidades para as quais a gente nem dá importância quando se está no ócio: tomar um sorvete do Mil Frutas olhando para o Oceano Atlântico quebrando nas areias entre o Arpoador e o Morro Dois Irmãos; fazer um balde de pipoca e comer na companhia da sobrinha de nove anos, enquanto ela te explica o desenho animado psicodélico que tá passando no canal Nickelodeon; separar as fotos digitais para colocar em CD e depois levar para impressão; pegar aquele livro do Pessoa e abrir em qualquer página, só para ler um belo poema; comprar um gibi do Cebolinha, só para lembrar de como era bom quando não se tinha tanta responsabilidade na vida...

E, para terminar, dormir profundamente, depois de uma noite inteira namorando, sem ter hora para acordar no dia seguinte, com direito a passar o dia em casa, na maior paz de espírito possível. Ai, ai...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cama, Mesa & Banho

O amigo desabafa ao telefone:

"Não dá, Ana Paula. Ela é bonita, elegante, alta, magra, perfeita para passear no shopping (o amigo é de São Paulo), mas na hora da cama não dá. Sabe o Sérgio Noronha comentando partida de futebol? Pois é...ela parece um comentarista esportivo. Fala coisas do tipo: 'Agora foi muito para esquerda, seria melhor ir para a direita. Essa posição é ótima para eu sentir isto ou aquilo, mas prefiro aquela outra para aquilo outro'. Tem que falar essas coisas durante o jogo? Não dava para ser antes ou depois? Tenho que fazer um esforço hercúleo para não broxar..."

Depois de ajudar o amigo com algumas palavras de consolo, fiquei refletindo. Não me saía da cabeça a história de a mulher ser perfeita para passear no shopping, em compensação, ser o supra-sumo do anticlímax na melhor hora do dia.

Lembrei-me imediatamente de outra definição, partida do meu irmão, quando questionado por qual motivo, aos 40 anos, nunca havia se casado. "Ainda não encontrei a mulher completa".

Lembro ter ficado intrigada na época. Mulher completa é diferente de mulher perfeita. Como sempre gostei muito de ouvir o brother – talvez por ser uma referência da visão masculina sobre o mundo, tão ao alcance das minhas mãos – questionei mais a fundo.

Não seria uma utopia a tal mulher completa?

Vejam a resposta dele:

"Eu acredito que para dividir meus lençóis com alguém, essa mulher precisa ser do tipo cama, mesa e banho".

Como assim??? Indaguei na hora.

"Cama é auto-explicativo. Mesa é quando a gente tem orgulho de apresentar a mulher aos amigos, quando ela é tranqüila no trato social, inteligente, divertida, sociável, quando tem suas aspirações próprias, uma atividade profissional, essas coisas. E banho representa a intimidade. Uma mulher que seja boa de passar um fim-de-semana chuvoso em casa, que não infernize minha vida porque eu tô a fim de assistir o Vasco contra o Paysandu do Pará e nem arme um barraco por causa de um par de sapatos fora do lugar".

Fez sentido para mim, mas o mano continuou:

"A questão é que encontrei na vida algumas mulheres que foram cama e banho, mesa e cama, mesa e banho, mas, até hoje, nunca encontrei a mulher Cama, Mesa & Banho que procuro".

Então talvez esse seja o segredo para poupar frustrações: enquanto a mulher ou o homem completo não aparece, o negócio é ir para cama com quem é de cama, para a mesa com quem é de mesa e para o banho...bem, o banho a gente deixa para quando a cama e a mesa já estiverem em estágio avançado...

Mas se esse ou essa aí que está bem ao seu lado é Cama, Mesa & Banho, está esperando o que para colar com ela(e)??????????????????????

sábado, 30 de agosto de 2008

Correio do Amor

Eu sou cadastrada em alguns sites de relacionamento. Para quem não sabe o que é um site de relacionamento, segue aexplicação: Trata-se de uma espécie de 'Balcão Sentimental' da era da internet, no qual homens, mulheres e demais gênereos constroem seus perfis - onde constam informações resumidas sobre personalidade, tipo físico, gostos, preferências e ainda tem lugar para botar foto - e a partir de então ficam navegando no tal site, em busca de um 'par perfeito', uma 'cara-metade', ou simplesmente uma boa companhia para um cineminha, um beijo na boca e o que mais vier...

Conheci gente bem interessante ao longo de quatro anos 'experimentando' a utilização da internet para um primeiro contato. Muitos encontros partiram rapidamente para o mundo real e , no saldo, fiz pelo menos duas belas e novas amizades, vivi uma grande paixão e ainda rolou um pedido de casamento...

Fora os inúmeros encontros fortuitos, relâmpagos, fugazes, que serviram para diversão, fizeram bem à pela e ainda por cima ajudaram nessa minha louca insistência de tentar entender a humanidade...

Nessa brincadeira, ainda acabo me divertindo com as mensagens bizarras. Escolhi algumas recebidas e vou compartilhar com vocês. Será que as abordagens abaixo conseguem conquistar alguém?????


O direto e reto: "Oi gata, será que esse homem que procura sou eu? Se quiser um homem gentil terá, mais (sic) se quiser um animal na hora de fazer sexo com muito vigor, terá também. Olha o meu perfil e as minhas fotos, acho que vai gostar, assim como gostei de vc. Beijos nessa boca linda, carnuda e apetitosa"


O enigmático: "Manga eh uma fruta gostosa?Eu gosto muito desta frutaUm dia vamos nos encontrar?Mas tudo a seu tempo.Saber ouvir é uma arte.Na verdade eu preciso calcular a nossa distância. É isto de fato vai acontecer!!!!!Acho que seus olhos são claros. Logo logo vou confirmar isto. Òtimo o lugar onde vc está!!!Havia um pássaro sobrevoando em sua foto. Amanhã vou ampliar sua foto.Peter é o nome do meu filho.Eu sou apaixonado por música.Tomei aulas até de violino.Embora vc não tenho posto fotos vê-se que vc eh fotogênica.Reencontrar pessoas tambem eh uma coisa muito interessante.E aí você tem essa facilidade?Leia atentamente, se for necessário, leia mais de uma vez. Beijos para você, os primeiros beijos são inesquecíveis"

O objetivo: "Oi, gostei de você. Eu moro no Leblon, tenho carro e sou advogado. Me liga. Meu telefone é xxxxxx"


O erudito: "Olá meu doce!!É sempre bom encontrar com pessoas bonitas, alegres e joviais, todas essas características são tecidos para a conquista da felicidade. Fazer amigos e nos rodear de pessoas nos torna mais fortes e mais autênticos e muito mais capazes de desafiar nossos próprios limites. Falando em pessoas especiais e alguém interessante, andei olhando seu perfil e você parece ser alguém muito interessante pra se conquistar. Hoje na cultura que vivemos, feita de medo e violência, é necessário que nós tenhamos pessoas de boa fé e de muita reciprocidade pra partilhar. Uma frutuosa amizade se constrói na solidez da sinceridade, com as palavras da verdade e com o respeito da admiração.Convido você a fazer parte do meu grupo de amizade pra nos conhecer melhor e quem sabe construirmos uma ponte mais estreita entre nós? Espero poder acolher você na minha vida pela porta da frente e que você nunca mais encontre a da saída."


O poeta: "Gostei muito do seu perfil e de sua foto. Estou interessado em desenvolver uma grande amizade, que de tão grande, se respeita, se busca, se deseja, se ama. Um grande caso de amor, que seja mais do que chama, que seja uma fogueira amiga que indica direção, como farol no caminho da vida, que seja uma fogueira perene, onde cada um coloque sempre um graveto, mantendo sempre acesa a nossa paixão. Quero um amor de rosto colado, de mãos dadas ao entardecer, de telefonemas inesperados, de corpos suados, de entrega e paixão, de conte comigo, de estou aqui, de muitas palavras, mesmo que em silêncio. Quero um amor assim, com o teu jeito, com teu sorriso, sem o medo do passado e despreocupado do futuro."


O analfabeto : "Gostei do seu perfiu (sic), sou separado, tenho 42 anos, sou um homem carinhoso e romantico(sic), do tipo que gosta de levantar mais sedo (sic) e levar café da manha(sic) para a esposa, mandar flores sem ter uma data especifica(sic), gosto do ser muito carinhoso e receber tb carinhos, procuro uma pessoa que queira mesmo assumir um compromisso serio(sic), de um relacionamento onde os dois teram(sic) dificuldades mais(sic) juntos e com muito dialogo(sic) saberam(sic) superar o dia a dia. Veja o meu perfiu(sic)."


O que manda a fotografia:

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Corpo

Era fim do dia no conceituado jornal onde trabalho, matéria devidamente entregue ao editor, sistema operacional da redação em pane, um clima levemente tenso no local de trabalho. Toca o celular, a amiga querida que não costuma ligar em hora de fechamento. Atendo
- A que devo a honra de sua ligação?
- Tens condição de estar às 8 horas no Teatro Municipal?
- Bem, tenho. Já entreguei a matéria...
- Tenho convite para assistir o Grupo Corpo, quer ir?
- Claaaaaaaaaaro!

A primeira vez - e até ontem única - que assisti a uma apresentação do grupo mineiro, que existe há 33 anos, foi em um festival Carlton Dance ( é, minha gente, sou do tempo em que cigarro patrocinava festival de dança...).

O ano era 1991 e eu uma idealista estudante de teatro e jornalismo, que ainda não sabia bem qual carreira seguir ou se seria possível conciliar arte com imprensa. Na Escola de Teatro Martins Pena, onde eu cursava o profissionalizante de atriz, era comum distribuírem ingressos para os alunos e funcionários. O Teatro Municipal pertence ao estado e a escola também. Na ocasião, a diretora do Teatro era muito amiga de quem dirigia a Escola.

Assim, um belo dia, a minha professora de expressão corporal, Márcia Rubin, chegou à aula com alguns ingressos para diferentes dias do tal festival patrocinado pela Souza Cruz. Tinha desde Pina Bauch até uns grupos alternativos americanos. Ela sorteou e eu fiquei com o Grupo Corpo.

Não lembro qual foi o espetáculo, nem tampouco o nome da apresentação. Só lembro da sensação de hipnose sentida com os movimentos dos bailarinos, com a superação possível do corpo humano. A síntese do grupo liderado pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras é transformar os corpos em obras de arte em movimento.

Depois de assistir ao espetáculo de ontem, posso afirmar que o Grupo Corpo só evoluiu nestes 17 anos em que estivemos afastados...





segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Mais um ouro para ele!



Ele já chegou ao mais alto lugar do pódio ao defender a seleção de basquete masculino dos Estados Unidos, na Olimpíada que terminou ontem.




Agora ele tem chance de ganhar outro ouro ao tornar-se forte candidato ao troféu "Testosterona de Ouro", disputa criada por esta blogueira para premiar a masculinidade intensa, do tipo capaz de exalar pelos poros e que anda tão em baixa por aí...(especialmente nos chororôs de alguns atletas brasileiros...)




Confesso que foi preciso garimpar muito até encontrar o candidato à altura, mas valeu a procura.




Lebron James: 2 metros e 3 centímetros de pura força, raça e beleza.


Quero uma cesta de três pontos dessa lá em casa!!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quero chorar, não tenho lágrimas

Uma vez ouvi de um amigo radicalmente capitalista: "No mundo há dois tipos de pessoas: as que choram e as que vendem lenços. Prefiro a segunda opção."

As Olimpíadas de Pequim fizeram a frase do amigo perdido no tempo vir à tona e não sair mais da minha mente. Não sei se é coincidência, não sei se sempre aconteceu e eu não reparava, não sei se o Pan de 2007 subiu à cabeça dos atletas e os fizeram achar que Pan e Olimpíada era a mesma coisa, não sei... mas ando bem cansada de tanto chororô.

Porque tanta choradeira diante do ouro derramado? Aliás, como disse um outro amigo, um pouquinho mais gaiato, "Chegou a hora dessa gente brozeada mostrar seu valor". É isso, gente. O Brasil é terra de gente bronzeada, tudo a ver coma cor das suadas medalhas trazidas para casa por nossos atletas...

Gracinhas sem graça à parte, não tenho a intenção de defender nenhuma tese sobre a postura do brasileiro diante da derrota. Mas tenho várias hipóteses. Começo pegando carona em uma frase do Tom Jobim "No Brasil sucesso é ofensa pessoal". Temos um certo medo de vencer. É mais confortável, talvez, causar peninha que inveja. Outra frase, de outro gênio: " O brasileiro tem complexo de vira-lata", cunhou Nelson Rodrigues ao defender a tese de que o futebol brasileiro, até 1958, entrava de gatinhos contra os adversários estrangeiros e acabava perdendo sempre para si mesmo.

A gente tem mesmo um pouco a mania de se escorar no "nada dá certo", "não somos bons o bastante", "não podemos arriscar". O próprio Diego Hipólito andou dizendo, depois da derrota, que nem deu o salto mais complexo dele...e mesmo assim, caiu sentado. Então, não seria melhor ter dado tudo de si? Talvez o Cesar Cielo tenha ganho por ter passado bom tempo nos Estados Unidos e agora já sabe que antes de vencer, é preciso acreditar na vitória, projetar até.

Hoje escutei de um economista, em um congresso voltado para o mercado financeiro, que a diferença entre o economista brasileiro e o americano é que o primeiro prevê sempre uma crise pior do que a instaurada, mesmo que os números digam ao contrário, enquanto o segundo sempre projeta que tudo passará rápido e voltará ao normal, mesmo que a recessão já esteja estabelecida.

Para chegar ao primeiro mundo de verdade, seja no esporte ou na economia, a gente precisa aprender a ser um pouco mais otimista, a entender nossas potencialidades sem ufanismo exagerado, mas também sem complexo de inferioridade.

Um pouco mais de equilíbrio poderia ser uma antídoto contra tanta coisa bizarra que acontece com brasileiros por aí. Lembram de 2004? Quase teve ouro para o Brasil na maratona, mas ficou no quase, por causa de um padre irlandês maluco, que invadiu a corrida e empurrou o brasileiro. Agora a vara da atleta some... E enquanto escrevo este post, lá vai o Btasil rumo a mais uma amarelada: 9 x 1 no primeiro set da final do vôlei de pria masculino, ai, ai... tomara eu pague pela língua...

Mas não é só no esporte , não: a polícia inglesa confunde um cidadão de bem com terrorista, mete três balas nas costas do cara e adivinha qual é a nacionalidade da criatura? Os amigos estão passeando por um zoólogico na Califórnia, um tigre foge da jaula, ataca um visitante...sabe de onde o 'sortudo' engolido pela fera nasceu? O avião da Spanair saía de Madri rumo As Ilhas Canárias....adivinha de onde era um dos passageiros a bordo?

Tá na hora dessa gente bronzeada parar de chorar e tomar um banho de sal grosso...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Eu te falei que tinha medo...

E não deu outra: chocolate argentino em cima da seleção (sic) olímpica de futebol masculino. Eu, você, o presidente Lula e todo o mundo sentiu raiva daquela apresentação sofrível. Mas não foi surpresa. Eu levantei a minha placa de "Já sabia, Galvão", minutos antes do apito final.

O que esperar de um time comandado (sic de novo) por Dunga???? E que se submeteu à pressão da mulambada camaronense por 90 minutos no jogo que antecedeu o de ontem?

Vou pegar carona na piada do programa CQC, da Band:

Qual é a diferença entre o Dunga da Branca de Neve e o técnico da seleção brasileira de futebol?
O primeiro não fala, o segundo não pensa.

Agora é botar fé na mulherada...

domingo, 17 de agosto de 2008

O bom da vida é prosseguir...

De repente um olhar de cumplicidade se cruza e vem à tona uma sensação estranha. Quem bate? É o amor. Não adianta bater, que eu não deixo você entrar... só as Casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar. Na verdade, a gente tem que aprender a viver o presente e pensar no futuro, sem essa estranha mania humana de criar medos por causa de experiências passadas desastrosas. Encontrada a chave do sucesso amoroso! Mas quem a coloca no cadeado? E se ao abrir estiver lá ele ou ela, em uma roupa de dormir sensual, entoando cânticos sedutores em meio a lençóis de seda chinesa? Por que eu olho pelo vitrô da porta (alguma porta hoje em dia ainda tem vitrô?), mas não consigo enfiar a bendita chave na fechadura? A amiga do blog ao lado chamou de Commitment-phobe. Olha lá só. E tem gente com a pachorra de discordar! Ai essa gente bem resolvida que pensa entender de tudo...Na teoria, ó, é uma beleza. Vai para a prática que eu quero ver...Eu quero ver você se entregar de novo, abrir a porta, entregar o controle do portão eletrônico, avisar ao porteiro que não precisa interfonar e dar a senha de acesso às mensagens do correio de voz... E o trabalhão depois? Mudar o endereço na operadora de telefone, enfrentar o call center do cartão de crédito só para informar o novo cep ... E o nome no passaporte? Mas quem , pitombas, ainda coloca o nome do outro nos documentos!!!????...Vai lá que eu quero ver...Apresentar à mãe e ser apresentado aos irmãos e aos melhores amigos. E quando a sobrinha de três anos, que nasceu te vendo em única e constante companhia, perguntar porque está só? E quem vai brincar de furar onda na praia com ela? Não dá não...É muita coisa para um compartimento que não mede mais do que 20 centímetros e fica batendo em sincronia com todo o fluxo sanguíneo de um mísero ser humano. É muita responsabilidade para o músculo involuntário que pulsa pela Marisa e mais um monte por aí...Quero ver. Vou ficar aqui, de camarote, para ver como se anda de novo na linha depois que o trem descarrilhou. Quem se atreve? Quem nunca se atreveu! Só pode! Mas até quem nunca se atreveu não tá se atrevendo mais. E aí? O que é que eu faço agora? Já tentei ir embora, mas meu coração está preso a você. Danou-se a nega do doce! Vai lá e encara. Ai, não. A água tá fria, deixa eu me aquecer mais um pouquinho...um, dois, três, um, dois, três e ... já! Já era. Começou a chover, deixa o mergulho para outro dia, né? Quem sabe faz sol...E se não fizer nunca mais? Quando o segundo sol brilhar, vai realmente realinhar as órbitas do meu planeta? E como tem gente que realinha pela segunda, terceira, quarta, quinta vez! Êta gente incansável! Com que facilidade saem de um planetinha e entram em outro, não é não? Ai que inveja! Esse deve ser outro grande segredo: não pensa não, minha filha, quem pensa muito não vive. Vai se divertir, menina! Amanhã é outro dia e a gente nem sabe se vai estar aqui nesse mundo, aproveita! Seja leve, brinque, se abra para o superficial...Finge, pelo menos, criança! Ai, mas eu quero brincar-sério. Esse negócio de simular para ver se dá é coisa para iniciados e eu sou faixa branca...O jeito é voltar para a fechadura, ficar olhando para ela até ter coragem...e quando finalmente virar a chave, entrar e , mesmo ainda titubeante, caminhar para frente, em direção a esse desconhecido com cara de primo distante com quem a gente brincou na infância, mas agora só encontra em casamento e funeral...E quando finalmente entrar, imprescindível é bater a porta atrás de si. Porque passado é bom que fique do lado de fora...

sábado, 16 de agosto de 2008

Camarões à moda do freguês



Empolgada com o desempenho de Cesar Cielo Filho na noite de sexta-feira, coloquei o relógio para despertar às sete, disposta a ver o jogo da seleção masculina de futebol, contra a República dos Camarões, pelas quartas-de-final das Olimpíadas de Pequim.




Quase me arrependi. Digo quase porque no tempo regulamentar o jogo foi uma chatice. Custava-se a crer que naquele campo encontravam-se duas seleções com uma certa tradição no esporte bretão.




De um lado um Brasil medroso, sem categoria ou toque de bola, desesprado com a marcação camaronense.




Do outro lado, uma mulambada dignna de segunda diivisão do estadual carioca. Os caras com postura de traficante de morro em filme brasileiro, tentavam ganhar no grito, na marra e na intimidação. Eu acho que vi o Rafinha fazer beicinho de choro depois de uma dividida com o Baning, camisa 2 de Camarões, que acabou sendo expulso em outro lance. O time de Camarões é formado por um monte de 'Souzas', aquele tipo de jogador que não convence nas jogadas por isso tenta intimidar o adversário na cara feia e na peitada. Sou flamenguiste e posso falar: isso me irrita profundamente.




No Brasil, ao contrário, os meninos queriam era brincar, jogar, mas me pareceram um pouco assustadinhos , sim, com os bois-da-cara-preta do outro lado. Não havia chance de um jogo bonito. E o velho fantasma da 'freguesia' brasileira contra Camarões em Olimpíadas arrastava suas correntes cada vez mais forte...




Aí chega a prorrogação e parece outro jogo. Tudo começa a funcionar, o medo desaparece, os passes saem certos e os contra-ataques acontecem com eficiência. O freguês passou a mandar no jogo e os camaronenses foram fritos em alho e óleo.




Resultado: dois gols e a classificação para a semifinal. Contra a Argentina...




( Aqui entre nós: Ai que medo! )

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Mil perdões

"Na traição, procuramos por aquilo que nos faz falta", disse a terapeuta Mira Kirshenbaum em reportagem sobre o tema na revista Criativa. (clique no link e veja na íntegra).

Todo ser humano que se relaciona deveria ler. O assunto é tabu. Mas faz parte da vida de muita gente boa...e se Nelson Rodrigues estava certo, ajoelhemos e imploremos por perdão. Ou simplesmente, perdoemos os traídos, eles não sabem o que deixaram de fazer para evitar o mal.

"A culpa da traição é sempre de quem é traído", disse o mestre do teatro nacional.


Música do dia:

Mil perdões
Chico Buarque/1983

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Meninos não choram...

Se conheceram em uma roda de purrinha. Primeira semana de aulas. Começava o primeiro ano do segundo grau. Era uma escola técnica. Da turma de quarenta, apenas sete eram meninas. Ele ficou impressionado com o jeito falante dela, ela achou divertido o jeito marrento dele.

Ele torcia pelo Flamengo, ela adorava esporte. Ela namorava um atleta, ele sonhava em cursar Educação Física. Ele organizava as olimpíadas do colégio, ela ficava triste por não haver garotas suficientes para formar times femininos. Ele era o melhor no vôleibol, ela ganhou medalha de bronze na natação. Ele ensinou para ela as regras de impedimento do futebol, ela nunca mais esqueceu.

Ela tomou seu primeiro porre com ele, ele a deixou na porta de casa. Ela fazia confidências sobre seu namoro, ele 'ficava' com todas amigas dela. Ela ensinava literatura para ele, ele explicava física e matemática para ela. Ele matava aula e a carregava para o Tivoli Park, ela o arrastava para os treinos do Flamengo, na Gávea.

Os dois íam ao Maracanãzinho ver os jogos de vôlei. Ele dizia que o Renan era feio, ela não conseguia entender o que ele via na Vera Mossa. Os pais dela o adoravam, a mãe dele a queria como nora. Ela terminou o namoro, ele só pensava nas provas finais. Ela foi fazer estágio em Santa Catarina, ele ficou no Rio.Ela se apaixonou no Vale do Itajaí, ele prestou vestibular para Engenharia Química.

Ela deixou de ser uma menina, ele se aprimorou na arte da sedução. Ela voltou ao Rio, ele a buscou na Rodoviária. Ele reclamou que ela engordara, ela passou a correr com ele na praia. Ela emagreceu, ele tocava violão nas reuniões com amigos. Ele a convidou para ir a Santa Teresa, ela nunca tinha ido lá. Ele achava o bar de chorinho a cara dela, ela reparou no sorriso dele. Ela dormiu na casa dele, ele cedeu seu quarto e foi dormir na sala.

Eles foram ao cinema. Ele chamou a atriz do filme de gostosa, ela ficou desconcertada. Ele disse:"Eu às vezes esqueço que você não é menino". Ela se virou e chorou baixinho, ele não reparou.

Eles ficaram seis anos sem se ver. Ele reapereceu de surpresa em uma festa na casa dela. Ela o chamou pelo apelido da escola, ele a chamou por seu segundo nome, no diminutivo. Ele perguntou se ela gostou da Copa de 94, ela segurou a empolgação. Ele discorreu sobre sua admiração pelo Romário, ela fingiu que nem ligava para o Camisa 11. Ele criticou o Zinho, ela dissimilou e perguntou quem era. Ele a olhou diferente, ela lhe ofereceu uma bebida.

Ele queria saber se ela ainda ía ao Maracanã, ela disse que a última vez fora com ele. Ele queria saber se ela ainda sabia reconhecer um impedimento, ela disse estar destreinada. Ele pediu para ver as fotos dos tempos de colégio, ela levou-o para seu quarto. Na sala a festa estava no segundo tempo, no quarto corriam as preliminares. Ele a chamou de gostosa, ela sorriu baixinho.

Ele foi embora, ela dormiu. Ele deixou um recado na secretária eletrônica, ela retornou dois dias depois. Ela foi fazer compras, ele estava no shopping. Ela sozinha, ele com o irmão. Ela comprara um vestido, ele procurava uma camisa branca. Ele estava nervoso, ela com saudade. Ela o achou estranho, ele suava. Ela não perguntou nada, o irmão contou que ele se casaria no próximo sábado. Ela sentiu o chão abrir, ele baixou o olhar. Ela soube que a noiva tinha o mesmo nome que o seu. Ele soube que nunca mais a veria de novo.

Ela sentiu um nó na garganta. Ele balbuciou algumas palavras.
Ela virou as costas sem dizer nada. Ele continuou de frente, sem fazer nada.
Ela desceu as escadas rolantes, ele ficou olhando.
Ele parado, ela segurando o pranto.
Ele calado, ela a pensando: 'meninos não choram, meninos não choram, meninos não choram...'

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Clarice


Começa no próximo dia 18 de agosto a exposição "Clarice Lispector – A Hora da Estrela", no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. A mostra esteve em cartaz no memorial da Língua Portuguesa em São Paulo e foi um sucesso. Confesso ter pensado em me deslocar até lá apenas para prestigiar a homenagem a uma de minhas escritoras mais queridas. Ou melhor, à escritora por quem sou apaixonada.


É. Paixão é bem diferente de admiração. Clarice Lispector , de fato, se enquadra um pouco na classificação que o senso comum costuma lhe atribuir: em alguns textos, sim, é hermética.


Mas talvez aí esteja o segredo em despertar paixões. Nem sempre gostamos do caminho da facilidade. A gente se apaixona muitas vezes, e justamente, por aquilo que não deciframos, assim, de cara. E quando não deciframos, somos devorados pela esfinge de um sentimento desconfortável e abissal, o qual denominamos 'paixão'. Clarice entendia dessas subjetividades. Uma bela frase, de sua autoria, define um pouco seu jeito de escrever e pode ajudar a quem se aventurar por Clarice pela primeira vez:


"Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"


Apaixonei-me por Clarice ainda menina. Minha mãe, uma intelectual, mestre em Literatura Brasileira, leu o conto 'Uma Galinha', numa noite, antes de dormirmos. Minha mãe sempre contava histórias para mim e meus irmãos antes de dormirmos. Podia ter tido o pior dia, ter brigado com meu pai, ter chegado tarde em casa depois de uma jornada tripla de aulas em colégios e faculdades, mas a nossa historinha noturna era sagrada.


Acho que naquela noite do conto de Clarice mamãe estava meio de saco cheio da coleção "O Mundo da Criança", ou do Monteiro Lobato, ou mesmo dos contos infantis mais corriqueiros e digeríveis. Naquela noite, começou a contar uma história que acontecera com ela: quando criança tentara defender uma galinha de estimação contra seu fatídico destino. Em vão. Ficou traumatizada ao chegar em casa da escola e vê-la já servida para o almoço. Dos sete filhos da minha avó, minha mãe orgulha-se em contar que foi a única que não comeu a galinha naquele dia, trancou-se no quarto para chorar a perda. Não sei se por trauma, até hoje minha mãe não gosta muito de frango... depois do relato pessoal, com o qual eu e meus irmãos já tínhamos nos divertido, começou a leitura do conto.


Obviamente minha mãe contava com o efeito sonífero que um conto de adulto certamente causaria. De fato, meus irmãos sucumbiram rapidamente, eu não. Fiquei impressionadíssima com toda aquela falta de sensibilidade dos adultos, terríveis matadores de galinhas queridas das crianças. Comecei meus questionamentos infantis. Ou seja, perturbei minha mãe como de praxe, pois sempre fui a mais questionadora dos três, até ser vencida pelo cansaço e dormir profundamente.


Já adolescente, folhendo a revista do "Círculo do Livro". (Bem, para quem tem menos de 30 anos, o "Círculo do Livro" era uma espécie de 'Avon' cultural. Os sócios recebiam mensalmente uma revista, que um revendedor vinha trazer em casa. Depois esse mesmo revendedor buscava a revista, devidamente preenchida com os exemplares solicitados).


Lá em casa cada um tínha o direito de escolher um livro por mês. Mas minha mãe sempre comprava muitos, especialmente os clássicos da literatura nacional e internacional, que eram infinitamente mais baratos que nas livrarias.


Voltando a Clarice. Chamou-me atenção o livro "Para não esquecer", classificado como de contos e crônicas de Clarice Lispector. Foi a minha escolha daquele mês, mas minha mãe já o tinha escolhido, o que me deu direito a escolher outro , que não me lembro qual foi. Eu era uma pirralha, de 12 ou 13 anos talvez, e minha mãe deve ter ficado com peninha de mim, achando que eu não entenderia nada...

Mas eu não sei dizer se entendi, mas posso afirmar que senti, profundamente , cada palavra - ou talvez cada entrelinha - dos textos de Clarice Lispector.


Minha paixão por Clarice aconteceu na terceira crônica do livro, que eu nunca mais esqueci e reproduzo aqui aos interessados:



Por Não Estarem Distraídos

de Clarice Lispector.


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

Como eles admiravam estarem juntos!



Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.



segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O antes e o depois

Atendendo a pedidos, publico hoje a foto de 1983, das amigas inseparáveis e populares.
Da esquerda para direita, Marta Monteverde, que botou a mão no rosto na hora da foto, seguida da Tércia Maria, depois eu e a Rosilene.
Marta: Uma pena, não conseguimos a reencontrar. A Marta era a mais doce e romântica, sempre atenciosa com todos os colegas, era de uma beleza de parar quarteirão, sem nunca deixar que isso subisse à cabeça. Tinha uma família meio complicada, vivia trocando de casa, ora morava com a avó, ora com a irmã, ora com a mãe. Mas nunca perdia a alegria de viver, nem a fé no futuro e muito menos a ternura.
Tércia: A atleta do grupo: excelente em todos os esportes, o que só reforçava seu sucesso junto aos meninos. Uma verdadeira moleca. Mesmo com a baixa estatura, arrebentava no vólei, responsável por levantamentos perfeitos e defesas precisas. No handebol era simplesmente a melhor, sem contar na ginástica desportiva. Ela detestava tirar fotos e virou a cara justo na hora do flash. Se formou em educação física e hoje é casada, mãe de 2 lindos filhos.

Rosilene:O cabelo picotado, estilo 'As Panteras' era uma das marcas da Rosilene. Seu cabelo, lindo e perfeito numa época em que nem se sonhava com a escova progressiva, estava sempre impecável, seguindo o corte da moda. Outra característica sua muito marcante era o riso frouxo, Rosilene ria de tudo e era muito linda também. Filha única, seus pais eram severos, quase não a deixavam sair, mas aos poucos foram tomando confiança e a gente viveu bons momentos na adolescência. Se formou em contabilidade, é mãe de um menino e uma menina, casada e continua a boa amiga de sempre.
Quanto a mim, apesar das inevitáveis marcas do tempo, a cara não mudou muito....acho eu.
O depois:




Acima, Tércia, Rosilene e eu em 2007. Ainda estamos em busca da Marta para completar o quadro.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Tempo Seco

A regiãob sudeste do Brasil vem sofrendo neste inverno, em função da umidade relativa do ar abaixo da média normal.
Nossa pele, aparelho respitratório e disposição podem ser seriamente afetados pela estiagem prolongada.
Só fiquei surpresa em saber que os bichinhos também sofrem. O gatinho aí abaixo foi parar no hospital, em São Paulo, com problemas respiratórios causados pelo tempo seco.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Meu primeiro amor



O ano era 1984. Eu e minha irmã éramos duas adolescentes de 14 e 16 anos, respectivamente. Para mim, seria a primeira vez, para minha irmã, talvez a segunda ou terceira. Era o dia de apresentar meu primero namorado aos meus pais.
Quando os dois chegaram lá em casa, lembro-me bem da cara de surpresa de minha mãe. No 'alto' de seu 1,50 metro, mamãe precisou se esticar toda, enquanto os meninos se envergavam. Os rapazaes eram amigos, ambos jogadores de basquete do Mackenzie, clube do Méier, que , na época, tinha a base da seleção brasileira juvenil e acabou exportando atletas para diversos clubes grandes, como Flamengo, Fluminense, Hebraica e Monte Líbano. Minha mãe adorou os dois. Achou-os educadíssimos e muito bonitos.
Meu pai nem tanto. Ficou sisudo o tempo todo e o auge foi quando minha mãe fez uma gracinha ao servir mate gelado na hora do lanche "Podem ficar tranquilos que o que falam sobre o mate é mentira". Para quem não sabe, a gostosa e refrescante bebida tipicamente carioca já teve fama de ser broxante. Meu pai arregalou os olhos e brigou com minha mãe nos bastidores, pois achou um absurdo ela fazer essa brincadeira com os namorados de suas filhas...até hoje morremos de rir ao lembrar desse episódio.
Eu estava apaixoanda. Zé Luiz era tudo de bom: apesar de ser um menino de 17 anos, já tinha uma postura de homem sério, educadíssimo, cavalheiro e mega-inteligente. Lembro-me de ficarmos horas conversando, entre as pausas dos longos beijos . Naquela época, namorados desta idade só se beijavam e se abraçavam. Abraços apertados e intensos, mas apenas abraços. Além de tudo era saudável, atleta, um sonho.
Ele tinha 1,94 de altura, corpo perfeito, sorriso de comercial de pasta de dente e um olhar doce e intenso ao mesmo tempo, mas nem de longe se dava conta do seu potencial. Era modesto e até tinha um ar de patinho feio, motivado, talvez, pelo fato de os demais meninos, os jogadores do clube, serem, em maioria, dotados daquela beleza fácil: olhos verdes, cabelos louros, etc..etc... O Zé, não. Poderia até ter passado despercebido por todo mundo, se eu não o tivesse descoberto no meio de tantos rapazes, tão mais dentro dos padrões vigentes.
Lembro-me de ter ido assistir a um jogo de basquete no clube perto de casa, levada por algumas amigas que já paqueravam meninos do time. Eu me sentei calmamente na arquibancada e fiquei prestando atenção no jogo, pois sempre fora ligada em esporte. Em determinado momento, um adversário tentou segurar a camisa de um dos jogadores do time da casa, rasgando o uniforme dele. O juiz não viu e eu fiquei revoltadíssima com aquilo.
Mas a postura dele foi incrível: dirigiu-se ao juiz com serenidade, mostrou o rasgo e depois disso, não deu mais ninguém em quadra. O moleque, como que tomado por uma sede de vingança, canalizou toda a injustiça do juiz em cestas, cestas e mais cestas. Eu ficara hipnotizada. Era apenas uma menina inexperiente, nunca tinha namorado, não sabia como essas coisas começavam. Mas o instinto se mostrou mais forte, virei-me para amiga ao meu lado e perguntei:" Quem é o menino da camisa rasgada?" Ela me disse: "Ah, é o Zé Luiz".Eu mandei de pronto: "Nossa. Ele é demais!". A amiga espantada ainda comentou: "Mas o Zé? Nunca poderia imaginar".
Rapidamente, a rede de relacionamentos tratou de fazer meu comentário chegar a seus ouvidos. Fomos apresentados pelo namorado da minha irmã, também jogador do mesmo time. Depois do treino daquele dia, haveria 'baile' no clube. Ficamos conversando na escada da quadra, ouvindo as músicas de dentro do salão. Quando começou a tocar uma música lenta, lembro-me até hoje, "Ebony Eyes", do Rick James, nos beijamos e não nos desgrudamos por três anos.

Ele foi jogar no Monte Líbano em São Paulo, depois voltou para o Rio, foi para o Flamengo, fez eu consolidar minha paixão pelo rubro-negro, depois foi jogar em Queluz, Portugal, qaundo, então, o namoro acabou. Guardo até hoje as inúmetras cartas trocadas em uma época na qual não existia tecnologia para aproximar as pessoas. A última vez que o vi foi em 1996. Eu fazia natação no Flamengo e ele chegava para o treino, pois voltara a jogar lá. Nos abraçamos, foi emocionante, chegamos a combinar de nos vermos no dia seguinte. Mas eu não o vi mais. Depois fiquei sabendo que ele se casou e teve um monte de filhos, três ou quatro, eu acho.
Toda essa história foi porque sonhei com ele ontem. No sonho, ele aparecia na minha casa, igualzinho a primeira vez. O engraçado do sonho é que os 'personagens' estavam atualizados: minha mãe o que é hoje, eu e minha irmã também e tanto ele como o então namorado da minha irmã na ocasião estavam coroas, de cabelos brancos e até bem diferentes fisicamente, mas todos com a mesma essência daquele primeiro encontro que deixara todos felizes.
Procurei-o no Google. Poucas informações, apenas agora sei que ele é um dos 10 cestinhas do campeonato de basquete sênior de São Paulo, além de ser o 327º melhor jogador no ranking da Confederação Brasileira de Basquete (CBB).


Tirei do baú toda uma história por causa de um sonho com alguém que andava bem longe do plano consciente.
Fiquei pensando no porquê de ter sonhado com ele.
Teria sido para lembrar o quanto é gostoso viver um amor quando a gente ainda não tá calejado pelas decepções? Para lembrar de como era bom quando o medo ainda não funcionava como antídoto contra as possibilidades de ser feliz ao lado de alguém legal?
Foi bom lembrar dessas sensações e devo agradecer pela lembrança. Meu primeiro contato com essa crazy little thing called love foi com o Zé Luís. Daí por diante, virei uma mulher muito exigente na escolha de quem vai ficar a meu lado.
O lado ruim desse padrão alto é porque acaba prolongando o tempo de entressafra, entre um amor e outro.
A parte boa, no entanto, compensa: devo a essa primeira boa experiência o fato de optar por ter uma vida amorosa mais qualitativa, em vez de quantitativa.



domingo, 27 de julho de 2008

Os aplausos de Zélia Gattai

Em dezembro de 2007 eu trabalhei como freelancer para a revista Época. O trabalho consistia em colher depoimentos de gente ilustre a respeito de outros ilustres, os quais despontariam em uma lista (olha a mais uma lista aí gente!) das 100 pessoas mais infuentes do Brasil.

Por conta desse trabalho, e sem nenhuma pretensão, creio ter sido a última jornalista com quem Zélia Gattai falou antes de sua libertação espiritual - eufemismo usado por um amigo espírita para definir morte - , em maio de 2008.

Liguei para ela a fim de conseguir umas palavras sobre Paulo Coelho, um dos eleitos para a lista das 100 pessoas mais influente do ano. Eu já estava desesperada, pois consegir alguém para falar do Paulo não estava sendo tarefa fácil. Já havia conseguido quase trinta outros depoimentos, de gente famosa e ocupad,a como Carlos Alberto Parreira, que me atendeu da África do Sul e falou gentilmente sobre o jogador Kaká. O ministro Gilberto Gil me atendeu de pronto e não se esquivou em dar seu depoimento sobre a coterrânea Ivete Sangalo. O campeão olímpico Giba me atendeu da França e discorreu sobre suas impressões a respeito do técnico da seleção brasileira de voleibol, Bernardinho.

E tantas e tantas outras 'celebridades' de todas as áreas do País foram falando comigo, sem maiores impedimentos.

Mas sobre o Paulo Coelho, tentei cinco fontes. Sem sucesso. Uns não retornavam minhas ligações, outros diziam simplesmente não se sentirem à vontade para falar dele.
Quando finalmente cheguei até a Zélia, senti um certo alívio, misturado, confesso, com um certo sentimento de desconforto. A escritora acabara de receber alta no hospital e estava em casa, ainda entubada e sob fortes exigência de repouso pelos médicos. Mesmo assim, fez lá seu depoimento sobre Paulo Coelho. O texto acabou não sendo aproveitado pela revista, pois ficou muito curto.

A parte mais rica da pequena entrevista, no entanto, foi já no finalzinho. Ao concluir suas impressões acerca do Mago, Zélia Gattai indagou-me: " E o João Ubaldo? Não está nessa lista?". Por frações de segundo, emudeci. E agora? Qual seria a explicação plausível para justificar a ausência do autor de "Viva o povo brasileiro", uma das maiores obras-primas da literatura nacional.

Puxei da memória minha expreriência pregressa em atendimento de call center - onde se aprende que dá para explicar qualquer coisa sem sentido usando eufemismos e digressões - e iniciei uma tentativa de esclarecer à viúva de Jorge Amado que infelizmente não, pelo menos da lista prévia a qual eu tivera acesso, Ubaldo não aparecia. Contei-lhe que tratava-se de uma escolha democrática, na qual várias pessoas votaram nos nomes que estariam naquela edição, inclusive leitores, por isso alguns grandes e renomados autore ficaram de fora.

Ela não se convenceu. "Eu queria mesmo era falar sobre o João Ubaldo, para mim o maior escritor brasileiro, depois do Jorge ( Amado.) Ele deveria estar nessa lista".

Em seguida se despediu de mim, pois não poderia ficar falando mais, em função de seu estado de saúde delicado.

João Ubaldo Ribeiro foi aclamado ontem com o maior prêmio dedicado a escritores da língua portuguesa, o prêmio Camões.

De onde Zélia estiver, deve estar aplaudindo de pé.

Em tempo: o depoimento sobre o Paulo Coelho foi salvo pelo jornalsita e escritor Fernando Morais. Na ocasião, Morais escrevia a biografia do imortal. Sugeri ao editor , aos 45 do segundo tempo, e tudo deu certo. Se quiser, veja no link, onde também poderão ser encontrados todos os outros depoimentos.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Listas

Todo mundo faz as suas e o assunto é até batido, mas sempre rende.
Rendeu um programa de TV, o Happy Hour, do canal GNT e eu aproveitei o dia de licença em casa para assistir.

E, assim como acontece com o bocejo, basta alguém falar em lista para contagiar todos ao redor.

Sem a menor pretensão de falar sobre algo original, deu apenas uma vontade danada de fazer alguma lista. Como não sabia do que fazer, fiz uma lista das listas que gostaria de fazer, mas o tempo e a preguiça me impediram até o momento.

A seguir, a lista das 10 listas para serem feitas algum dia.

1) Lista das melhores frases ditas no mundo;
2) Lista dos melhores beijos - que já dei;
3) Lista dos melhore beijos - do cinema;
4) Lista dos livros que mais gostei;
5) Lista dos livros que não consegui terminar;
6) Lista dos meus pratos preferidos;
7) Lista dos jogadores de futebol mais bonitos do mundo;
8) Lista dos lugares que gostaria de voltar;
9) Lista dos lugares que gostaria de conhecer antes de morrer;
10) Lista das prioridades da vida.

E você? Quais as listas que gostaria de fazer?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ode aos homens

Às vezes me pergunto porque gosto tanto dos homens. E não estou falando apenas da parte sexual. Refiro-me a todo o pacote que engloba a essência da masculinidade.

Gosto dos homens e os admiro.

A força física é invejável. Abrem potes de azeitonas sem fazer caretas, conseguem carregar suas mulheres no colo como se levantassem um travesseiro de plumas e têm habilidade para desaparafusar o pneu na hora de trocá-lo. (OK, ok, hoje em dia chama-se o seguro para a troca dos pneus, mas alguma vez, por acaso, apareceu uma mecânica mulher para algum de vocês?).

A objetividade dos homens também é bacana. Nós mulheres temos a visão periférica mais avançada e isso muitas vezes descamba para o caminho da dispersão. Adoro ver um menino começar e terminar uma tarefa com concentração e sem delírios.

A simplicidade dos gostos é outro ponto crucial para admirá-los. Em geral, os homens só mudam o preço dos brinquedos, pois continuam a gostar de carro, bola, luta desde a tenra idade até o fim da vida.

É geralmente muito simples agradar um homem:cafuné, liberdade,um pouco de mistério e um corpo e cabelos cheirosos podem transformá-los em criaturas doces, tenras e apaixonadas. Toda mulher inteligente sabe disso e por isso não briga se eles querem 'brincar' de vez em quando com o carro, a bola ou de luta.

Não sei se a explicação está na falta dessa enxurrada de hormôniso mensais, típica das mulheres, mas o fato é que um homem bem humorado é como um semi-deus, nos faz rir e virar os olhinhos. Se vier com cultura e educação e sorriso bonito então, ahhhhhhhh ...meus sais, please!

Lamento que atualmente tenha lido, ouvido e visto algumas mulheres desenvolvendo teorias absurdas sobre os homens. Esquecem que, se eles são safados, é porque também há mulheres, carentes ou equivocadas mesmo, que dão chance, saindo com homens casados, sendo competitivas com as pares do mesmo sexo ou permissivas, por manterem a relação falida só pela ilusão de ter um homem para chamar de seu.

E antes que venham os tomates: obviamente entendo as particularidades das relações. Gente mau-caráter existe de todos os sexos, cores e sabores. E nem tudo é o que parece.

Minha tese sobre os homens é de ordem genérica, segue apenas as peculiaridades comuns ao gênero. E a minha vivência e experiência.

Tive a sorte de ter um pai macho à beça e um irmão da mesma estirpe. E mesmo assim, ambos carinhosos e apreciadores também do mundo das mulheres.

Aprendi desde cedo a admirar o mundo dos homens e a entender a importância da admiração mútua entre o masculino e feminino.

Aliás, talvez pela influência paterna, gosto mesmo é de homem que curte futebol, que assiste aos programas de mesa-redonda no final de domingo, que joga pelada com amigos, que leva meu carro na oficina, que carrega as compras, que sabe o nome dos principais campeões de atletismo, judô, ultimate fighting, boxe, ou que acorda cedo para assistir à corrida de Fórmula 1. E , claro, que me agarra por trás na cozinha enquanto estou à beira do fogão ou lavando a louça. Ou que arranca o livro que estou lendo na cama antes de dormir, só para me dar um beijo de novela. (Ihhhh, assumi meu lado submissa. Agora os tomates virão com força total...)

As boas relações entre os sexos, em geral, são aquelas que acontecem entre um homem que gosta de mulher - em todos os sentidos - e vice-versa.