quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O sexo e a cidade

Foto de Ana Paula Cardoso
O título é apenas para chamar sua atenção.


Sou fã do seriado "Sex and the City". Uma jornalista a falar de suas paixões e de sua cidade, no caso, Nova York. Meu alter ego é a personagem principal, Carrie Bradshaw, vivida pela atriz Sarah Jessica Parker. Mas como sou real, de carne - mais carne, infelizmente - e osso, criei este espaço para brincar de "Sex and the City" de vez em quando...


Apesar disso, hoje não vou falar dos relacionamentos, apenas da minha cidade, no caso, o Rio de Janeiro


Sábado passado João Ximenes Braga, colunista do jornal "O Globo", fez uma definição perfeita sobre a relação dele com a cidade - bem parecida com a de muitos cariocas. Ximenes comparou a relação dele com o Rio como aqueles casos amorosos deoentios, que nos fazem mal, mas o sexo é tão maravilhoso que não conseguimos nos livrar deles. Me identifiquei na hora. O lado doentio da relação são as balas perdidas, as incursões da polícia nos morros, o tráfico, a sujeira das praias, a violência urbana e o desrespeito à cidadania.


Mas aí, diz Ximenes Braga, a gente assiste ao pôr do sol no Posto 9, com os olhos virados para o Arpoador, e a sensação é de êxtase, como nos momentos de ápice quando o sexo é 'do bom'.


Embarco hoje para a capital da Inglaterra. Amo Londres, mas sou apaixonada pelo Rio de Janeiro. Paixão e amor até se confundem um pouco em nossa cabeça, mas são bem diferentes. Amor conforta, engrandece. Paixão inebria, alucina. Vivi um romance tórrido com o Rio nestes dias que precederam o dia de hoje.


Passei pelos jardins projetados por Burle Marx que ligam as praias de Botafogo e Flamengo, pelo Aterro. Estive na feira hippie de Ipanema. Fui à quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Por problemas inesperados, tive que sair mais cedo do trabalho, o que me permitiu andar pelo Paço Imperial, pelas ruas centenárias do Centro da Cidade. Na volta para a casa, ainda passei pelo Aterro do Flamengo e pude comtemplar o desenho do Pão de Açúcar cercado pela Baía de Guanabara em plena luz do dia.


A chuva atrapalhou a ida ao pedalinho da Lagoa e a roda gigante instalada no Forte de Copacabana, que acabei só vendo do calçadão da praia mais famosa do Brasil. Mas foi até bom. Ficou aquela sensação de quero mais...


Obrigada pela bela despedida, Rio.


Foi bom pra mim.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

As chaves


A cidade do Rio de Janeiro está oficialmente sob o comando do Rei Momo, até a quarta-feira de cinzas.


Durante a cerimônia de abertura do Carnaval no Rio, o prefeito virtual - não bastasse as fanfarronices de governar via blog e elevar ostensivamente o IPTU, com direito a debochar da população revoltada - conseguiu resgatar a postura de prefeito maluquinho, que andava meio esquecida.


Disse o prefeito que os banheiros químicos, colocados nas ruas por causa dos blocos no fim-de-semana, não deram vazão porque o número de pessoas atrás dos blocos cresceu muito, em comparação a outros anos. Faz sentido. Cesar Maia fez uma análise precisa sobre o aumento da demanda do xixi durante o percurso dos blocos pelas ruas da cidade.


Depois de mais esta pérola, é bem capaz de o povo carioca fazer uma manifestação quando o Carnaval acabar: "Volta, Rei Momo"

domingo, 27 de janeiro de 2008

O Rio de Janeiro Continua Sendo...


Arrepiiiiiiiiiiiia Salgueiro!!!!

"E deixa o sol bronzear
No calor do meu Salgueiro
Eu sou raiz desse chão
E canto a minha emoção
Salve o Rio de Janeiro!"

Eu não poderia me despedir da cidade sem fazer uma coisa: ontem estive na quadra do Salgueiro. Salve a academia!

Que samba lindo, que bateria maravilhosa comandada pelo mestre Marcão.
Eu o reverencio, meu Salgueiro. Faz bonito no Sambódromo este ano. Sai da Sapucaí com o título.
Estarei de longe, torcendo pelo vermelho!
Não digo mais nada.
Ckiquem no link e vejam. Escutem que delícia de samba enredo, enaltecendo o Rio de Janeiro!


Explode coração!!



sábado, 26 de janeiro de 2008

E por falar em amor...

O tema sempre me fascinou. Amor. Passo a minha vida em busca do sentimento mais nobre e completo. O amor dos encontros, da magia da união dos corpos em missão de realização e unicidade, o amor da entrega, do enobrecimento da alma.

O amor também é bonito quando é desenvolvido pelo trabalho, pela causa social, pelos filhos, amigos, família. Bonito, mas não completo.

Quero falar sobre o amor, mas nem sei se sei falar sobre o amor. Acontece que recebi uma mensagem de um amigo querido. Esta mensagem me incentivou. Ele disse que gostaria de deixá-la como um comentário de uma de minhas postagens, mas o site não permitiu, então, creio que ele não verá problema em vê-la publicada aqui:

"Olá,

Li a tua mensagem de natal e vi um link para o teu blog, não resisti, apesar do pouco tempo que tenho nesta época, de vir dar uma espreitadela e deixar este pequeno comentário.Parabéns pelo teu blog, está bastante interessante.Sobre o Amor... já tantos escreveram, praticaram, idealizaram, coreografaram, encenaram, musicaram, ... Mas foram os "outros", não foste tu. Seria com certeza interessante saber como tu escreverias uma ode ao Amor, ou à Amizade.Fico a aguardar.Um grande beijo, um abraço e votos sinceros de um 2008 com muito sucesso e Saúde.

Ruca

ps este comentário era para ter sido escrito no teu blogg, mas não foi!Beijos"

Durante algum tempo acreditei em almas gêmeas. Duas pessoas estariam destinadas a se encontrar porque foram divididas em algum tempo e espaço.

À medida que o tempo passou e vários amores foram sendo vividos, parei de acreditar nesta visão tão limitada do amor. Hoje acredito que a gente pode amar mais de um alguém durante nossa existência.

Temos capacidade de identificar o amor. Fujamos destas místicas que nos impõem!!! Não existe um único amor. E com isso - por favor não confundam - não estou justificando aqueles homens ou mulheres canalhas que dizem amar dois ou mais ao mesmo tempo. Isso não. O amor, para ser verdadeiro, não abre espaço para "coletividade emocional". Pode-se até viver um grande amor mais de uma vez, mas nunca ao mesmo tempo.

Sinto-me incapaz de definr o sentimento, mas outro dia, assistindo a um destes prosaicos seriados de TV americanos ouvi uma definição que me pareceu ter muito sentido.

A personagem estava arrasada pelo término de mais um relacionamento. Questionava-se se deixara passar "o homem da sua vida", se ela teria disposição para se entregar novamente ao amor, visto não estar agüentando a sua dor, etc...etc...aí uma das amigas deu-lhe o alento.
Só é amor verdadeiro aquele capaz de nos transformar. E podemos nos transformar infinitamente ao longo da vida. Aliás, a única coisa que nunca muda no mundo é a certeza que tudo sempre muda.

Achei, então, a definição mais apropriada - ou conveniente, se prefererirem - para o amor.
É claro que há os privilegiados que encontram isso uma úinca vez e assim seguem até o fim. Aí é sorte demais. Ou carmas cumpridos, para quem acredita...

De uma certa forma inconsciente, eu até já fazia a relação entre os homens que amei e o poder transformador de cada um destes relacionamentos. Conto nos dedos de uma das mãos os homens por mim amados. Mas cada um deles me deixou um legado, transformou algum aspecto relevante da minha vida, do meu jeito de ser e encarar o mundo.

Meu primeiro namorado, o homem com quem fiz sexo pela primeira vez, meu ex-marido, o meu fotógrafo preferido e o anjo que até hoje aparece para me salvar nos momentos de dor e angústia.

Cinco homens.
Transformadores.
Com todos tive boas e más experiências.
Mágoas e momentos de êxtase.
Todos doeram na hora da separação. Mas eu os coloco na galeria dos únicos (até o momento) e importantes homens da minha vida.

Os outros não passaram de tentativas e erros. E quantos erros!

Mas continuo aberta para errar, afinal, é errando que se aprende, ou não é?
Como disse Marina Colasanti, no livro cujo título é o mesmo desta postagem (peço licença ao meu amigo Ruca para tomar emprestadas as palavras alheias):

"Existem amores importantes de serem vividos que simplesmente não nasceram para dar certo, mas que podem nos preparar para outros mais felizes"

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Minha alma canta


Se vivo estivesse, Antonio Carlos Jobim faria hoje 81 anos.
O carioca da Tijuca dispensa apresentações. Virou músico de renome internacional, imortalizado por belíssimas canções, dentre as quais "Garota de Ipanema", em parceria com Vinícius de Moraes.

A partir deste ano, o dia 25 de janeiro passa a ser oficialmente o dia da "Bossa Nova ", em homenagem dupla: aos 50 anos do movimento musical iniciado em 1958 e ao aniversário do maestro.

Tom Jobim era um apaixonado pelo Rio e só por isso já mereceria minha admiração. Mas, para completar sua magnitude, também ficou conhecido pela genialidade de suas composições, pelo amor à natureza e pelo bom humor contagiante.

Um exemplo de seu temperamento espirituoso eu acabei de escutar na rádio MPB FM. Em depoimento, Roberto Menescal - outro ícone da Bossa Nova - contou uma passagem bem interessante sobre o amigo e companheiro de tantas composições.

Contou Menescal que uns 20 dias antes de Jobim falecer, em 1994, ele o encontrou e contou-lhe que estava surpreso ao saber que, há 20 anos, uma composição sua era a segunda canção mais executada no planeta.

- Poxa Tom, que coisa, Garota de Ipanema é um hit mundial, só soube disso agora. Só perde para Yesterday, dos Beatles - disse Menescal.
- É . Mas eles são quatro, né? - respondeu o maestro.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Asas aos pensamentos

Borboletas são flores com asas. Realmente não lembro quem disse isso. Provavelmente foi algum destes escritores ou poetas de extremo bom gosto e sensibilidade - mas do qual não consigo recordar o nome.

Hoje vi uma belíssima borboleta, no jardim do prédio onde moro. Felizmente, estes amáveis bichos voadores povoam generosamente a cidade do Rio de Janeiro.
As minhas preferidas são as azuis. Estas costumam aparecer nas manhãs ensolaradas de primavera. A de hoje era amarelinha, com algumas pintas brancas e a borda das asas em tom laranja. Parecia uma estampa de tecido dos vestidos de Zuzu Angel.

Tenho uma amiga que garante: borboletas azuis são fadas, se elas cruzam seu caminho, é sinal de sorte, de desejos realizados. Não sei o significado das amarelinhas com pontinhos brancos…

Me digam: qual outra cidade grande me proporcionaria este contato freqüente com borboletas?

Sou completamente apaixonada pela cidade do Rio de Janeiro. E sou correspondida.

Uma cidade que não me deixa entregar os pontos, que me faz acreditar que a vida tem muita beleza.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Frio in Rio

19 graus Celsius, marcava ontem o relógio e termômetro digital no Largo do Machado, por volta das 22:30.
Ainda estamos no verão, do Rio de Janeiro, aquele mesmo dos 40 graus à sombra...

Hoje eu ainda não saí de casa, não sei quantos graus os relógios estão marcando pela cidade, mas posso dizer que a Baía de Guanabara sumiu.
Estava a tomar meu café da manhã, de frente para a vista privilegiada da enseada de Botafogo que tenho da minha sala. Enquanto sorvia uma xícara de mate quente e uma torrada com queijo derretido, me distraí com a leitura do jornal e , de repente, quando voltei meus olhos para fora da porta de vidro da varanda..PUF!...somente uma densa camada cinza se apresentava em minha frente...sumiram os barquinhos, as águas calmas e escuras da Guanabara e também o pedacinho do Pão de Acúcar que minha ampla janela alcança...a última visão antes na névoa ainda me permitiu avistar os dois bondinhos, um descendo, outro subindo. Imagino que eles ainda estejam por lá.

Como estou em contagem regressiva para uma temporada em Londres, embarco dia 31, acho que os deuses do tempo estão brincando comigo, para eu ir me acostumando...

domingo, 20 de janeiro de 2008

São Sebastião

Sebastião era um soldado romano, nascido em 250 dC. Era cristão e quando o imperador romano soube que um de seus mais bravos soldados pregava os ensinamentos de Jesus, mandou matá-lo. Amarram-no em um tronco e deram oito flechadas. Mas Sebastião sobreviveu e , macho que era, voltou no palácio imperial para dizer umas verdades ao imperador. Virou santo. É padroeiro da mais bela cidade do mundo. Cidade que também leva suas flechadas, mas não se entrega, não se deixa morrer. Nem todas as balas perdidas, nem o prefeito blogueiro, nem o governador bom de lábia, nem todo IPTU acharcante, nem toda poluicão das praias ou a dengue hemorrágica vão conseguir vencer esta cidade guerreira, exuberante, quente e bela, muito bela.

A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro me ensina muita coisa. Ao olhar para esse céu, esse mar e essa gente feliz, como lindamente cantou Tom Jobim, renovo minhas energias para defender o que o Rio tem de melhor. O Rio é como a bela mulher que assusta. Aí fica melhor falar mal ou correr para São Paulo , porque é mais confortável. Saca homem que casa com a mulher legalzinha porque morre de medo de se casar com o grande amor da sua vida?

Pois é...dei uma bela viajada nesta questão ao me cansar de ouvir um monte de gente que saiu do Rio e gosta de enaltecer outras cidades do Brasil. Eu penso o seguinte: vivo na melhor cidade do Brasil. Para sair daqui, só se for para Londres ou Paris. Especialmente nos momentos de baixa imunidade emocional, minha cidade já ajudou muito me amparando em momentos de profunda tristeza. Basta olhar para a cidade e a gente percebe que precisa de muito pouca coisa para viver feliz. Lembrei de mais uma música, da Marina Lima:

"As coisas não precisam de você
Quem disse que eu tinha que precisar?
As luzes brilham no Vidigal e não precisam de você
Os Dois Irmãos também não precisam"

Viva São Sebastião. Viva os cariocas que sobrevivem às flechadas!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

ZeRo

Tenho um amigo useiro e vezeiro em usar músicas para mandar recados. Quando ele quer dizer algo, começa a cantar. Acho engraçado e admirável a capacidade de escolha do repertório, especialmente a assertividade da letra da canção, que geralmente cai como uma luva no contexto.

Hoje escutei uma canção, interpretada pela Fafá de Belém. Não escutava esta música há muito tempo. Pesquisando, descobri que é de autoria do Leonardo.

"Vou recomeçar,
Vou tentar viver
Vou tirar você da minha vida
E pra não chorar
Antes de partir
Vou tentar sorrir na despedida"

É tudo que algumas mulheres gostariam de dizer a alguns homens que as fazem sofrer.
Mas como tentar sorrir ao se despedir? Hoje em dia os homens somem sem dizer tchau.

nota ZeRo

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Desejo e Reparação


É o título em português do filme ganhador do Globo de Ouro de 2008, o inglês"Atonement".

Adoro estes tipos de filme que mostram como pequenos atos, por vezes impensados, podem mudar completamente os destinos. A lei da causa e efeito me fascina.


Recomendo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Tudo que eu queria te dizer

É o nome do livro que ganhei de presente no Natal, de autoria da Martha Medeiros. Para quem nunca ouviu falar da escritora gaúcha, trata-se da autora , dentre tantos outros livros, da obra "Divã", que acabou se transformando em um monóligo de sucesso, sustentado nos palcos pela talentosa atriz Lília Cabral.

Confesso que minha ignorância bairrista só permitiu conhecer Martha Medeiros quando ela passou a escrever no jornal carioca O Globo. Foi amor à primeira leitura. Aos domingos, recebo o jornal e a primeira providência é abrir a revista e procurar pela crônica da Martha, mas nunca tinha lido um livro dela.

Estou encantada. Já teria devorado o livro, não fosse o fato de nao querer chegar ao fim. Aí vou lendo aos poucos, degustando as verves, refletindo em cada conto. Sim, é um livro de contos - pelo menos essa era a proposta - em formato de cartas. Cartas de despedida, cartas de acertos de conta, cartas de amor, cartas de desabafo.

Com sensibilidade e maestria, a escritora passeia pelas angústias humanas mais lancinantes. Além de tudo, pelo menos para mim, as cartas, aquelas que escrevíamos em papel antes do advento da internet, têm sempre uma carga simbólica. Ninguém mais escreve cartas. Talvez apenas os suicidas, antes do ato mais extremo de acabar com a própria vida...

Fiquei com vontade de voltar a escrever cartas. Tenho tanto a dizer a tanta gente e acho realmente que as palavras faladas o vento leva. Já os registros nascidos da junção de tinta e papel podem ficar guardados em caixas, durante anos. Nada apaga o valor daquele momento, único, em que a carta foi escrita.

Para completar, em sua crônica, da Revista do Globo no último domingo, Martha Medeiros disse
Tudo o que eu queria dizer sobre o amor. Resolvi transcrever , na íntegra, para os senhores saborearem um pouco do talento desta escritora:

ABSOLVENDO O AMOR

Duas historinhas que envolvem o amor.Uma mulher namora um príncipe encantado por dois meses e então descobre que ele não é príncipe porcaria nenhuma, e sim um bobalhão que não soube equalizar as diferenças e sumiu no mundo sem se despedir. Mais um, segundo ela. São todos assim, os homens. Ela resmunga que não dá mesmo pra acreditar no amor.

Peraí. Por que o amor tem que levar a culpa por esses desencontros? Que a princesa não acredite mais no Pedro, no Paulo ou no Pafúncio, vá lá, mas responsabilizar o amor pelo fim de uma relação e não querer mais se envolver com ninguém é preguiça de continuar vivendo. Não foi o amor que caiu fora. Aliás, ele talvez nem tenha entrado nessa história. Quando entra, é para contribuir, para apimentar, para dar sabor, para fazer feliz. Se o relacionamento não dá certo, ou dá certo por um determinado tempo e depois acaba, o amor merece um aperto de mãos, um muito obrigado e até a próxima. Fique com o cartão dele, com os contatos todos, você vai chamá-lo de novo, vai precisar de seus serviços, esteja certa. Dispense namorados, mas não dispense o amor, porque ele estará sempre a postos. Viver sem amor para sempre é azar ou incompetência. Mas não pode ser uma escolha, nunca. Escolher não amar é suicídio simbólico, é não ter razão para existir. Não me venha falar de amigos e filhos e cachorros, essas compensações amorosas sofisticadas, mas diferentes. Estamos falando de homens e mulheres que não se conhecem até um dia, uau. Acontece.

Segunda história. Uma mulher ama profundamente, é amada profundamente, os dois dormem ambolados e se gostam de uma forma indecente, de tão certo que dá a relação, e de tão gostosa que são inclusive as brigas. Tudo funciona como um relógio que ora atrasa, ora adianta, mas não pára, um tiquetaque excitante que ela não divulga para as amigas, não espalha, adivinhe por quê: culpa. Morre de culpa desse amor que funciona, desse amor que é desacreditado em matérias de jornal e em pesquisas, desse amor que deram como morto e enterrado, mas que na casa dela vive cheio de gás e ameaça de ser eterno. Culpa apobre mulher sente, e mais; sente medo. Nem sabe de quê, mas sente. Medo de não merecê-lo, medo de perdê-lo, medo do dia seguinte, medo das estatísticas, medo dos exemplos das outras mulheres, daquela mulher lá do início do texto, por exemplo, que se iludiu com mais um bobalhão que desapareceu sem deixar rastro - ou bobalhona foi ela, nunca se sabe. Mas o fato é que terminou o amor da mulher lá do início do texto , enquanto que essa mulher de fim de texto, essa criatura feliz e apaixonada, é ao mesmo tempo infeliz e temerosa porque sente aquilo que tanta gente busca e pouco encontra: o tal amor como se sonha.

Uma mulher infeliz por amor de menos, outra infeliz, e o amor injustamente crucificado por ambas. Ele, coitado, sendo acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido na nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí nem se fala. Qualquer amor - até aqueles que a gente inventa - merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, somos nós."
Martha Medeiros - Jornal O Globo, Revista O Globo pág.:18 - 13/02/08)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Esquenta

Tradicionalmente, quem mora no Rio é ligado em Carnaval. Nem que seja apenas para fazer título à cidadania carioca, é comum cada um por aqui ter uma escola de samba de coração, como se fosse um time de futebol.

Carnaval, no Rio, já rende assunto por natureza. No ano em que a festa cai nos primeros dias de fevereiro, rende mais ainda. É discussão se a data deveria ser fixa pra lá, é matérias sobre os prejuízos do comércio com os festejos do Momo muito próximos do Reveillòn pra cá. E assim caminha a rotina na Cidade Maravilhosa.

O fato é que há uma agenda de blocos a ser cumprida. Muitos destes blocos sequer saem durante o Carnaval. Também é tradição na cidade o samba correr solto nas ruas, semanas antes da folia oficial. Como não poderia deixar de ser, se o Carnaval cai na primeira semana se fevereiro, os blocos pré-carnavalescos já estão esquentando os tamborins.

Ontem estive no Teatro Odisséia, na Lapa, onde aconteceu o concurso para a escolha do samba do bloco "Imprensa que Eu Gamo", agremiação fundada por jornalistas e que conta até hoje com o prestígio da categoria. É bacana ver o sério Fernando Molica, repórter da TV Globo, em cima de um palco, defendendo o samba de sua autoria, junto com outros coleguinhas.

A criatividade imperou, como sempre, mas alguns sambinhas simplesmente não 'pegaram'. Acabou ganhando o mesmo grupo de compositores campeões do ano passado. Claudio Pereira de Souza, que já passou pela redação do Jornal do Commercio e hoje está no Globo on line faz parte do time.

Merecido o primeiro lugar. A letra é bem ao gosto do bloco - e da classe jornalística - cheia de referências e críticas aos acontecimentos mais marcantes entre um Carnaval e outro, com muito bom-humor. Além disso, o refrão é uma delícia, vai pegar fácil na rua. Parabéns à galera. O samba chama-se "Na Tropa do Imprensa, Ninguém Pede Para Sair".
Para quem vai prestigiar o desfile do bloco, nos encontramos no Mercadinho São José no dia 20, próximo domingo. Com muito orgulho, estarei entre os ritmistas, machucando o tamborim...

Segue a letra do samba campeão:

Na tropa do imprensa, ninguém pede para sair
Me acode São Sebastião
Que este bofe anda muito truculento
Hoje eu faço procissão
É Zé Pereira no lugar do Nascimento

Esse negócio de apertar o "zero um"
Virou um vício, deu manchete de jornal
Mas hoje a minha tropa é de bebum
E o Imprensa anuncia o carnaval

Minha cidade ainda é maravilhosa
Tá cheio de avião
Relaxa e goza (refrão)

Meu capitão é um “vaiado”
E o Chavinho não quer mais ficar calado
Ô, seu Renan, pára de papo
171 a gente manda para o saco

Sacudiram minha Mangueira
E o leitinho já saiu adulterado
Mas na playboy apareceu uma leiteira
E me disseram que ela veio do senado

Imprensa que eu gamo,
A caveira é uma flor
Aspira meu cangote... amor (refrão)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Redenção







Ok, vocês venceram.

A horda que implicou com a foto do jogador de futebol Luís Figo, publicada no post "Quero comer Figo", me levou a tentar redimir-me com o craque.

Embora discorde com veêmencia dos argumentos de que a pose da imagem anterior não favorece a masculinidade do atleta português, tentarei retratar-me com o meu ídolo. Afinal, um homem com atributos para receber o troféu "Testosterona de Ouro" (o júri sou eu mesma)precisa ser mostrado em várias facetas.

I hope you enjoy, ó pá!






quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Com, sem ou apesar de você

Reluto sempre em falar sobre religião. Não por considerar um tema polêmico, mas porque é assunto tabu – assim como dinheiro – para muitas pessoas. Vivi boa parte da minha vida como o personagem representado por Woody Allen no filme "Hanna e suas irmãs", dirigido pelo próprio Allen. No filme, o diretor empresta seu talento de ator para transitar pelos cultos das mais diversas religiões, no afã de obter resposta para uma simples pergunta: "Qual é o sentido da vida?".

As situações hilariantes vividas pelo personagem são frutos da genialidade do diretor americano, mas nem por isso são menos inverossímeis. Passei por momentos semelhantes quando resolvi que queria abraçar uma religião. Nascida em uma família matriarcal, na qual minha avó – a líder suprema da ordem dos Cardosos – era comunista de carteirinha. Fui criada longe da igreja e nem sequer fui batizada. Acabou sendo bom. De uma certa forma, a ausência de dogmas familiares permitiu-me dar vazão à curiosidade e passei a gostar muito de ler e conhecer sobre absolutamente todas as religiões do mundo.

Depois de muita busca e de me abrir aos estudos mais variados, abracei o budismo em 2005. Assim como o cristianismo ou o islamismo, o budismo também tem suas vertentes variadas. Converti-me a um tipo de budismo oriundo do Japão, que prega, antes de tudo, que os ensinamentos de Buda devem ser postos em prática na vida diária. Ou seja, encontrar a paz interior isolado em um mosteiro ou abdicando da vida em sociedade e dos prazeres mundanos é até relativamente fácil. Difícil é praticar o desapego e entender as leis que regem o universo tendo que trabalhar todos os dias, pagar as contas do mês, enfrentar o trânsito e a violência urbana e ainda ter que conviver com as pessoas, muitas vezes tão diferentes de nós. Ou o pior: tendo perdido algo ou alguém por quem estivemos apegados com todas as forças.

Uma constatação importante em minha peregrinação em busca do sentido da vida foi entender que, na essência, todas as religiões são bem parecidas. Absolutamente todas têm como preceitos básicos a paz e o fortalecimento do indivíduo. Atribuindo poder a Deus, ao Universo, aos elementos da natureza ou a si próprio, as religiões ensinam os homens a viverem mais felizes. Na essência, todas as religiões são caminhos para atenuar a dor e o sofrimento existenciais. Qualquer manifestação bélica e conflituosa em nome de religião, portanto, é mera distorção humana.

Perdida em meio ao sofrimento, buscava conforto na leitura dos periódicos usuais quando deparei-me com a bela matéria da repórter especial da revista Época, Eliane Brum. A jornalista encarou um retiro espiritual de dez dias, no qual não era permitido sequer falar. Meditação de 12 horas diárias e mais o isolamento empurram-na para dentro de si própria de forma avassaladora. Esta viagem para dentro de si nem sempre é confortável, mas pelas 12 páginas que suscitaram da experiência, entitulada "O inimigo sou eu", fica evidente que é sempre edificante. Recomendo a leitura. (clica no link)

Para quem não tiver tempo de lê-la toda agora, segue uma ‘palhinha":

"Vipássana significa "insight", "visão interior". Segundo seus mestres, é a meditação usada pelo próprio Buda, 2.500 anos atrás, em sua busca pela iluminação. Ao longo dos séculos, foi sendo corrompida e se diluiu na Índia. Manteve-se, porém, em Mianmar, antiga Birmânia, país que virou manchete da imprensa mundial no fim de setembro, quando monges budistas entraram em sangrento confronto com o governo militar pelas ruas do país. Goenka é hoje o mestre de vipássana mais conhecido e o principal divulgador da técnica pelo mundo(…)
A idéia básica está presente em diferentes linhas do budismo: o que nos faz sofrer é o apego. Na vida, o apego se manifesta por uma reação de cobiça ou aversão. Queremos continuar sentindo o que nos dá prazer e não aceitamos sentir o que nos causa algum tipo de dor. Se aprendermos a arte do desapego – ou seja, não cobiçar o prazer nem sentir aversão pela dor –, a fonte do sofrimento estanca. Para isso, precisamos compreender que a vida é impermanência. Que nada dura, nem o prazer nem a dor. É necessário realmente entender que tudo é efêmero e, portanto, só a ignorância nos leva a qualquer tipo de apego – e ao sofrimento"

Depois de ler a matéria, apreendi uma lição recebida involuntariamente no último sábado - uma das causas do meu sofrimento.

Serei feliz com, sem ou apesar das coisas e pessoas as quais sou apegada.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Ciência é a maior diversão

"Prostituição é mais antiga que o ser humano"

Este é o título de uma das retrancas de hoje nas páginas do caderno de ciências do jornal "O Globo". Pesquisadores (ah, os pesquisadores...como deve ser divertido ser um profissional da área científica) descobriram que fêmeas de uma espécie de macacos da Indonésia trocavam sexo por cafuné.

Claro que nos agrupamentos humanos isso também faria sentido, embora jamais associássemos sexo por cafuné como prostituição. É preciso contextualizar a notícia: cafuné, entre a macacada, é moeda valorizadíssima. Tão bem cotada quanto a libra esterlina para nós.

Outro ponto levantado pela pesquisa é como a 'lei de mercado' impera também na natureza. Segundo os biológos, quando há mais fêmeas que machos, são concedidos oito minutos de cafuné antes do acasalamento. Quando no grupo há fêmeas em menor quantidade, o tempo de cafuné pode dobrar!

A matéria destaca ainda a origem da pesquisa que leva a crer que determinados comportamentos sexuais, comparáveis à prostituição, começaram a acontecer entre os primatas. Segundo a reportagem, o interesse pela pesquisa foi despertado pela tese do biólogo Robert Trivers, sobre a evolução do altruísmo recíproco. A teoria defende que participantes de uma relação podem obter vantagens mútuas, se coperarem.

Adoro as páginas de ciência dos jornais. Sempre há questões curiosíssimas. Fico imaginando o desprendimento que um cientista sério precisa ter para estudar determinados comportamentos ou acontecimentos. Deve ser barra falar de sua pesquisa em uma roda de amigos, deve ser impossível não ser alvo de chacota e deve ser preciso ter um controle absurdo para se levar a sério alguns eventos bizarros que precisam ser avaliados, em prol do avanço do conhecimento.

Como eu não sou cientista, posso me dar ao luxo de me divertir com as matérias sobre ciência. O jornalista Ruy Castro (autor , dentre outros, das biografias de Garrincha e de Nelson Rodrigues) publicou um livro chamado "Amestrando Orgasmos". Recomendo. Um dos mais engraçados que já li na vida. Lembro-me de dar gargalhadas com este livro certa vez na sala de espera de um consultório. Situação constrangedora, ainda mais quando observava as pessoas tentando ler o título...

Por qual motivo citei o livro? Ah, porque o autor parte dessas notas publicadas em cadernos de ciência para escrever grande parte das crônicas contidas ali. Com capacidade brilhante, Ruy Castro descreve suas sensações e considerações quando deparado a notícias, no mínimo, pitorescas...

Uma delícia de leitura. Vale por 16 minutos de cafuné.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

2008 (2 + 0 + 0 + 8 =10/ 1+ 0 = 1)

Bem na hora da virada, em plena a areia de Copacabana com toda a família, a tia que curte numerologia me alerta "2008 é ano um. Dois somado a oito é igual a dez. Um mais zero igual a um. Número um: será um excelente ano para recomeçar". Para começar também deve ser bom. Meu primeiro recomeço acontece aqui. Depois de um recesso de cinco dias, voltei à baila e faço nova postagem. Não que tivesse me faltado inspiração, mas a bateria do meu computador acabou e meu técnico estava devidamente "out of reach".

Não há como fugir das reflexões acerca do futuro que a data de fim-de-ano nos remete. Renovação de esperanças, planos para por em prática e acertos com as promessas deixadas de lado costumam vir à tona na ocasião do Reveillon. Confesso ter tentado fugir disso até os 45 do segundo tempo. Tinha decidido passar em casa, vendo os fogos ao longe, da varanda, nada de abrir champagne, se bobeasse até rolaria um filminho.

Depois de um exaustivo 2007, um ano nada generoso comigo, estava decidida a não comemorar e esperar o novo ano entrar na mais santa paz. É claro que aí veio a vida e me pregou mais uma surpresa, só para me provar que não adianta fugir muito da nossa natureza. Nos cinco dias que antecederam o dia 31 de dezembro, acontecimentos avassaladores fizeram-me cair no poço de lugar-comum que a ocasião nos faz mergulhar.

Me vejo neste exato momento cheia de esperança renovada. Cheia de planos para o futuro, com vontade de realizar coisas grandes, com desejo real de concretizar meus ideais de felicidade. Independente dos rumos políticos do país, até voltei a acreditar na possibilidade de fazer do Brasil uma nação viável. Tudo isso por causa do único sentimento no qual sempre acreditei ser capaz de mover o mundo: o amor.

Renovei minhas esperanças na vida.
Para vocês que me acompanham por aqui, vou parafrasear o compositor Frejat, que foi muito feliz ao fazer uma de suas mais belas canções:

"Desejo que você tenha quem amar e quando estiver bem cansado, ainda exista amor para RECOMEÇAR"

Bom recomeço a todos nós.