sexta-feira, 25 de abril de 2008

La Doce Vita

Estava na enfermaria de uma clínica em Botafogo. Tomava um litro de soro na veia enquanto aguardava o resultado do exame de sangue, que confirmaria ou não a suspeita de dengue.
O celular vibrou. Vejo no visor o número do amigo Ivan Gelabert.
Mas ele não estava na Itália?
Atendo aflita. Só poderia ter acontecido alguma coisa...
- Alô, digo em voz fastigada pelo mal-estar e preocupação.
Uma voz levemente entrecortada pelo roaming internacional responde:
- Ana Paula! Te ligo para contar que estou comendo o melhor tagliatelle ao funghi que já comi na minha vida, depois de ter provado uma mortadela maravilhosa, em frente da mulher da minha vida, em uma das cidades mais bonitas do mundo e falando ao telefone com uma das pessoas que mais admiro!

Emocionei-me.

Logo em seguida, sua mulher, Regina, minha amiga há quase vinte anos, pega o telefone:
- Consegui achar aquele restaurante! O Ivan está encantado!

Em setembro de 1996, em minha primeira viagem a Europa, estava na companhia da Regina. Florença foi uma das cidades pelas quais passamos. O restaurante em questão é uma trattoria, onde entramos em nossa primeira noite na capital da Toscana. A mesa de mármore – cuja grande novidade para duas brasileiras seria compartilhá-la com comensais desconhecidos – era forrada com um papel, tipo papel pardo. Antes dos cardápios nos serem entregues, um pedaço de mortadela foi praticamente jogado na nossa frente. Em seguida, cesta de pães italianos quentinhos e um prato com azeite, pimenta e sal para molharmos o pão. Nunca antes havia comido mortadela em pedaço, como se fosse um queijo redondo. Acostumada com as fatias finas das seções de frios dos supermercados, percebi logo a diferença e o requinte que a Itália empresta à iguaria. Desde aquele remoto seetmbro, mortadela tomou outra dimensão em minha vida...

Pedimos depois um prato de tagliatelle ao funghi porcini, aliás, Regina pediu. Eu pedira outra coisa, mas o prato da amiga estava tão lindo e cheiroso que tive de prová-lo. Meu prato perdeu completamente a graça. Tivemos que voltar no dia seguinte, para almoçarmos e eu conseguir sair de Florença tendo degustado o melhor tagliatelle ao funghi porcini do mundo.

Naquela viagem, Regina ainda não conhecia Ivan. Como boas amigas e companheiras que já éramos, era comum, ao longo dos quase 30 dias juntas no Velho Continente, falarmos sobre os sonhos. Entre os quais, o de encontrarmos nossos companheiros, aqueles especiais, com quem um dia compartilharíamos tudo de bom que a vida já nos tivesse apresentado.

Quando Ivan entrou na vida da Regina foi muito tranquilo o processo de entrosamento dele com os amigos dela e vice-versa. A harmonia e o amor do casal converteram-se facilmente em um convívio agregador, de abertura a novas pessoas, de ambos os lados. Foi assim que um dia, convidada para um jantar na casa deles, levei um pedaço compacto de mortadela, da marca Ceratti, bem parecida com aquela experimentada na Itália. Ivan, que até aquele momento acreditava que mortadela era somente um frio gorduroso e sem graça, aprovou a novidade: comer mortadela tipo italiana em nacos, em vez de em fatias.

Quase 12 anos depois, as dores no corpo e o mal estar causados pela suspeita de dengue foram amainados pelo gesto de carinho do casal amigo.

Fiquei sinceramente comovida. A vida é mais doce quando temos boas companhia, quando temos com quem dividir os bons momentos.

Como sou muito ligada a cinema, me lembrei imediatamente de um filme assistido recentemente: "Into the Wild", que aqui recebeu o nome de "Na Natureza Selvagem". O filme aborda a história real de um jovem americano que precisou abdicar do convívio social e se aventurar pela natureza exuberante adentro até constatar a maior descoberta de sua vida, quando já estava à beira da morte:

"Felicidade só é completa quando compartilhada"

Sempre acreditei nisso. E quero viver enquanto tiver gente para compartilhar o percurso comigo.

Em tempo: as plaquetas estão em ordem. Mas se os sintomas persistirem, terei que repetir o exame de sangue em 48 horas.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Sant Jordi



Hoje é dia do santo guerreiro, padroeiro da Inglaterra, de Portugal, de Barcelona e que também contempla inúmeros devotos no Rio de Janeiro, a ponto de aqui o dia 23 de abril ser feriado regional.


Nunca foi provada a existência de um guerreiro de nome Jorge, que tenha de fato operado milagres. Mas no imaginário popular, São Jorge é a personificação da força masculina - no melhor dos sentidos - capaz de eliminar, com sua lança, o mal simbolizado pelo dragão.


De acordo com matéria publicada no suplemento História, do jornal O Globo do dia 19 de abril, a historiadora Gegorgina Silva dos Santos defende a tese do aumento da devoção ao santo em épocas de violência acentuada.


Em 23 de abril de 2004, eu estava em Barcelona, capital da região da Catalunha, na Espanha. Lá o dia é celebrado de uma forma especialmente bonita. A lenda catalã diz que Sant Jordi (o nome do santo em catalão) matou o dragão por aquelas terras. O sangue do monstro escorreu pela cidade, transformando seu percurso em campos de rosas vermelhas.


No dia de Sant Jordi, em Barcelona, é tradição os homens oferecerem rosas vermelhas às mulheres e as mulheres oferecerem livros aos homens.


Guerras se vencem com flores e livros.

Salve Jorge!

domingo, 20 de abril de 2008

Nada sei

Enquanto escrevo este pequeno post, o pico de audiência do programa "Fantástico", da Rede Globo, deve estar batendo recorde. O casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá concederam entrevista, que vai ao ar nste momento.

O casal contesta o resultado dos laudos. Praticamente, afirmaram que a polícia errou em tudo.
Ao mesmo tempo, não têm idéia de quem poderia ter cometido ctime tão bárbaro.

Tenho minhas impressões muito particulares sobre o caso, mas uma coisa especial me chamou atenção: o casal bateu insistentemente na tecla do 'quem somos nós'.
Disseram que, se a população os conhecessem, jamais estaria suspeitando que são os culpados.

Mas seremos nós capazes de conhecermos alguém a ponto de nunca nos surpreendermos? Conhecemos o suficiente a nós mesmos a ponto de nos considerarmos 100% previsíveis?

Afinal, quem pode dizer realmente quem somos?
Somos o conjunto de nossos atos?
Ou somos um somatório de genes e influências que compõem nossa personalidade?
Quais fatores ditam nossos atos?
Podemos andar por grande parte de nossa existência no caminho da retidão e, um dia, ultrapassarmos os limites da razão e cometermos atos hediondos?

Não sei.

O grande filósofo Sócrates, que se matou com cicuta por não ter encontrado todas as respostas para as angústias da vida, simplificou suas limitações com a frase: "Só sei que nada sei".

Vou dar uma de João Paulo Cuenca (colunista do Caderno Megazine, do jornal 'O Globo' - do qual virei fã depois ser apresentada a ele por minha amiga Lavínea) e terminar a postagem com a música da semana.

Nada Sei (apneia)
http://www.youtube.com/watch?v=wERg7LPB-4Y&feature=related
Kid Abelha
Composição: Paula Toller/George Israel


Nada sei dessa vida
Vivo sem saber
Nunca soube, nada saberei
Sigo sem saber...
Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...

Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto tempo me deixar
Errando
Enquanto o tempo me deixar...

Nada sei desse mar
Nado sem saber
De seus peixes, suas perdas
De seu não respirar...
Nesse mar, os segundos
Insistem em naufragar
Esse mar me seduz
Mas é só prá me afogar...

Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto o tempo me deixar
Errando
Enquanto o tempo me deixar...
Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto o tempo
Me deixar passar
Errando
Enquanto o tempo me deixar...

sábado, 19 de abril de 2008

Sô Sem Noção

Não é de hoje que euzinha aqui, carioca da gema, de carteirinha, etc...etc...vem tentando desabafar com meus 20 leitores (eu tenho a ferramenta startcounter e a média são 20 por dia. Uhu!) sobre a falta de educação, cortesia e sabedoria no trato uns com os outros no Rio de Janeiro. O título do texto de hoje eu tomei emprestado da brilhante crônica do João Ximenes Braga, no caderno Ela, do jornal O Globo de hoje. Foi a primeira leitura do dia e recomendo. Concordo com cada linha do texto. (quem não for assinante, dá para ler através do Globonline, em colunas, caderno Ela, João Ximenes Braga)

Sô Sem Noção é o nome que Ximenes Braga cunhou para identificar a espécie de 'entidade' que costuma 'baixar' no carioca em seu convívio social no dia-a-dia.

Alguns episódios recentes ilustram e corroboram com a tese do cronista.O carioca parece nem perceber sua postura anti-cidadania, pois está tomado por uma espécie de espítito do mal qualquer, que prima pelo non sense.

Sem contar com as manias de entrar nos vagões do metrô antes dos outros passageiros descerem, mesma coisa com elevador, e da surdez para a palavrinha mágica "dá licença" - situações citadas por João Ximenes Braga na crônica -, também tenho meus exemplos:

No último fim-de-semana ciceroneeei um grupo de amigos irlandeses no Rio. É incrível a capacidade que pessoas pagas para executar serviços de atendimento têm de se irritar com situações com as quais já deveriam estar treinadas para lidar. Quando o 'gringo' é um pouco mais lento para contar o dinheiro e o troco, a cara feia e as bufadas logo vêm à tona. Culpa do caboclo Sô Sem Noção, é claro. Outro exemplo foi a senhora na casa de câmbio. Ela resolveu ser grossa porque uma de minhas amigas se enganou e retirou da carteira pesos argentinos, quando tinha perguntado a cotação do euro. Mas certamente não era ela e sim o caboclo Sô Sem Noção em ação.

Meus amigos também quiseram aproveitar a companhia de uma carioca legítima para pegar ônibus, ir aos lugares que nós vamos, enfim, sentir a cidade fugindo do lugar-comum turístico. Ficaram ligeiramente assustados em ter que correr para pegar o ônibus que nunca para nos pontos, sempre no meio da rua, em geral aproveitando o sinal fechado. A subida de passageiros é apenas uma concessão que o caboclo Sô Sem Noção, sentado no lugar do motorista, faz a quem se aventura a andar de ônibus no Rio.

Ontem experimentei mais uma situação, destas de fazer você sair do sério, para as quais muitos dos cariocas parecem estar vacinados.

Fui bater perna com uma amiga no Centro da Cidade, aproveitando o dia de folga. Quando andávamos pela Rua Sete de Setembro, resolvi entrar na Igreja Nossa Senhora do Carmo, antiga Catedral da Sé, recém-reformada em função das comemorações do bicentenário da vinda da família real portuguesa ao Brasil. Em se tratando de uma igreja católica, o caboclo Sô Sem Noção mostrou que não se intimida.

Um rapaz com camisa de guia foi logo atrás de nós quando rumamos porta adentro. Percebi sua aflição e perguntei: "A gente não pode entrar aqui?", ele gaguejou, não explicou bem, mas disse "Agora que vocês já estão aqui, tudo bem né?". Como sou do tipo que gosta de fazer as coisas direito, dentro das regras, resolvi sair e perguntar como era o esquema de visita. Mas parece que o guia se ofendia com minhas perguntas. A que mais lhe ofendeu foi a indagação sobre onde estava o coração de Pedro Álvares Cabral. A feição do guia contorceu-se completamente e ele, assustidadíssimo, exclamou surpreso e afetado: "C-O-R-A-Ç-Ã-O?????!!! Você quer dizer restos mortais, não é?". Eu respondi "Bem, eu li que inclusive o coração dele foi encontrado aqui em uma das primeiras obras de restauração". Sabe qual foi a resposta do caboclo Sô sem Noção travestido de guia? Vejam:" Você leu aonde (sic)? Na 'Caras"? (risinho debochado) Porque eu vou até me informar sobre isso...". Daí em diante eu não tive mais vontade de entreter com a 'entidade', mas ainda precisei fazer umas perguntas, todas respondidas de forma estranha, um misto de incômodo com simpatia dissimulada.

Mas o pior foi quando eu saí. Desabafei com a amiga sobre a postura do Sô Sem Noção em questão e sabem o que escutei? "Eu hein, Paula, você se estressou à toa. Não vi nada demais. O cara foi até legal deixando a gente ficar lá na salinha que não poderíamos entrar.Tá na TPM?".

Ainda fiz um pequeno discurso sobre a conformidade que a gente tem em relação a estas situações. Que o "jeitinho" quando nos favorece é legal, mas quando não nos favorece a gente reclama, que o cara não poderia nunca ter feito aquele comentário debochado sobre eu ter lido a informação em 'Caras', que estou de saco cheio da falta de profissionalismo, especialmente em locais turísticos, mas aí comecei a temer que o caboclo Sô Sem Noção, que por segundos tomara minha amiga, estivesse prestes a baixar em mim. Resolvi calar-me.

Em tempo: não li a informação em 'Caras'. A nota eu li na coluna do Ancelmo Góis, em 8 de março deste ano. Segue na íntegra:

Coração valente
Pouca gente sabe ou lembra. Mas a antiga Sé do Rio, que Cesar Maia reinaugura hoje, depois de reforma, na Rua 1º de Março, guarda no subsolo, numa capela de mármore, parte dos restos mortais de Pedro Álvares Cabral, incluindo seu coração.

Acho que o caboclo Sô Sem Noção só lê 'Caras'...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Estômago



E por falar em cinema, aí vai uma dica. É claro que depois de ter lido o post anterior você pensará duas vezes até seguir minha sugestão cinematográfica, mas os meus amigos, que entendem de cinema, também gostaram muito.


Trata-se do primeiro longa metragem dirigido por Marcos Jorge e não traz no elenco nenhuma carinha conhecida, nenhum ator global. Com exceção para o protagonista, o baiano João Miguel, que já brilhara no excelemte "Cinema, Aspirinas e Urubus", cujo boca-a-boca deu mais visibilidade ao filme do que a divulgação. Acredito que aconteça o mesmo com "Estômago", que chegou a ser exibido no último Festival de Cinema do Rio, em 2007, e foi bem recebido por crítica e público.


A sinopse é simples: fala de como um dos órgãos mais sensíveis do ser humano ( o estômago, claro) pode mexer com as vidas, com as relações, com o status quo. O roteiro é perfeito, encadeado e com desfecho digno dos bons filmes cujos temas são universais. Fala de comida e da relação das pessoas. Dá para rir e também tem um toque de triller. Vá e veja. E bom apetite!


quinta-feira, 17 de abril de 2008

Dos filmes, os piores

A crônica de hoje da Cora Rónai no jornal O Globo me agradou muito. Já gosto e acompanho seus textos não é de hoje, mas Cora tem uma sensibilidade muito peculiar para tratar determinados assuntos. É o caso da lista dos dez piores filmes de sua vida. Desde a semana passada Cora já prenunciava o quanto seria difícil fazê-lo, em função da tendência preservacionista que os cinéfilos têm de tentar esquecer o que de ruim passa pelas telonas da vida.

Bem, o grande barato do texto da cronista sobre o tema é a forma como é tratado. Cora não teve a pretensão de usar seus conhecimentos ou experiência de anos à frente do jornalismo cultural e tecnológico para justificar suas escolhas. Os dez piores filmes listados por ela obedecem a critérios pessoais, justificados pelas sensações que causaram a ela quando assistidos. Como trata-se de uma mulher inteligente e com um bom lastro cultural, é claro que suas análises são muito bem embasadas.

Cora nunca vai saber, mas sua crônica foi redentora para mim. Também aprecio muito cinema, mas não sou de tietar este ou aquele diretor(com exceção do Woody Allen, mas ele não é diretor, é Deus, não é?). Geralmente não guardo o nome dos atores e há filmes dos quais também esqueço o nome. Porém tenho meu gosto. Assisto a algumas porcarias aclamadas pela intelectualidade que me remetem à história da Roupa Nova do Rei. Ou seja, parece que é obrigatório gostar de filmes de David Lynch ou Akira Kurosawa. Se, como na historinha de Hans Cristian Andersen, alguém grita "o rei está nu", vêm logo os olhares do tipo 'coitada, ela não sabe o que diz'.

Gostei da brincadeira e resolvi fazer minha lista também. Diferente de Cora, fui obrigada a incluir um filme brasileiro, único que me fez sair do cinema...e olha que eu era apenas uma adolescente quando fui assistir. Segue a relação dos 10 piores da minha vida:


1) Garota Dourada. Quem dirigiu foi o Antonio Calmon, este mesmo das novelas com surf, sol e homens de dorso nu do horário das 19 horas. O filme , de 1984, é a continuação do sucesso "Menino do Rio", no qual se fala bobagens, os atores estão horrorosos e eu saí do cinema, com apenas 14 anos, sem ver o final.

2) 2046. Podem me jogar pedras. O festejado diretor Wong Kar Wai não me disse nada nesta continuação do belo, mas também não lá essas coisas, "Amor à flor da pele".

3) Dançando no Escuro. Este quase me fez ter que entregar a carteirinha de cinéfila. Quando falo que não gosto, os amigos mais sensíveis - e mais inteligentes, é claro - arregalam os olhos. Odiei o ganhador da Palma de Ouro de Cannes de 2000. Cada vez que a islandeza Bjork abria a boca para cantar, então, eu me contorcia na poltrona. Filme depressivo, cujo roteiro baseia-se em contar a história da vida de uma mulher que só sofre, porque é muito boa para este mundo. No meu entendimento, ela sofre porque é muito idiota para este mundo.

4) Spider. O filme é de 2002, dirigido pelo também festejado David Cronenberg e ainda conta com os talentos de Ralph Fiennes e Miranda Richardson no elenco. E daí? Daí que não consegui entender até hoje. Me deu sono, enfim, não embarquei na viagem sobre a esquizofrenia proposta pelo filme. Meus amigos (aqueles mais inteligentes que eu) adoram.

5) Subway. Ah! esse é inesquecível. De 1985, direção de Luc Besson, só passou aqui no Brasil em 1988 e lá fui eu, jovem estudante de jornalismo, metida a intelectual, saindo do subúrbio do Engenho Novo para ir até Botafogo, no Cineclube, assistir à obra-prima. Dormi profundamente neste drama que começa com perseguições nas ruas de Paris e depois fica claustrofóbico. Lembro-me que, na época, um dos apelos para assitir ao filme era ver Cristopher Lambert, por quem eu tinha me apaixonado ao ver Highlander, o guerreiro imortal. Lambert, em Subway, estava com um visual para lá de Billy Idol (ou Supla, que dá no mesmo) e não me agradou nem um pouqinho...

6) Morangos Silvestres. Nunca falem de Ingmar Bergman perto de mim. Filme em preto e branco que também fui assistir em um desses "Festivais Bergman" que passavam nas salas do então Cineclube Estação Botafogo. Foi a segunda vez que dormi no cinema. Esta experiência fez com que eu jogasse qualquer pretensão de ser intelectual no lixo. Não entendo Bergman, logo não existo.

7) Coração Selvagem. Este me causou náuseas e até hoje tenho implicância com David Lynch. Maluquices típicas do diretor à parte, existe uma cena qem que a protagonista, Laura Dern, vomita no quarto. Até aí, vá lá. Mas precisava de cinco em cinco minutos o processo de secagem do vômito no carpete do quarto do hotel ser mostrado até virar uma mancha nojenta no tapete???? Não consigo me lembrar de mais nada do filme, exceto das ânsias que sentia ao longo da exibição. Os meus amigos, aqueles inteligentes, vão dizer que a proposta é essa , mexer com as sensações dos espectadores. Ah, tá... se é para mexer com as sensações grotescas, prefiro "Debi & Lóide".

8) O Cheiro da Papaya Verde. Filme do vietnamita Anh Hung Tran, badaladíssimo na ocasião de seu lançamento, 1993, parece filme francês da pior qualidade. Planos longuíssimos, excesso de pretensão e sono, muito sono.

9) Maldito Coração (The Heart Is Deceitful above All Things, EUA-Ing-Fr-Jap/2004, 97 min.). O filme baseia-se no livro homônimo do título em inglês. Mundo cão da pior espécie. Maus atores, direção esquisita e roteiro capenga. E tem gente (travestido de bonequinho) que aplaudiu...

10) Em Paris. Este eu assisti mês passado, mas já tem lugar na galeria das piores coisas que me propus a pagar para ver. Os personagens não tomam banho, discutem a relação o tempo todo e nem Paris é mostrado direito. Lixo puro, representante mór da pretensão do cinema francês, fazendo a linha "quis ser Godard e só consegui isso", entendem?

E aí? Alguém mais se habilita a fazer sua lista?

Conversa Alheia

Começa a ficar frequente a quantidade de gente conhecida que já foi a China. Sobre o país do momento as impressões são as mais variadas - tanto para o bem quanto para o mal.

Mas a última novidade que ouvi a respeito da China refere-se a um dos hábitos de sua população: intrometer-se na conversa alheia. Parece que, no conceito oriental de privaciddae, a regra é simples: se está em um lugar público, não converse sobre assuntos privados.

Na concepção dos chineses, falar em ônibus, restaurantes, parques, enfim, em qualquer lugar com com gente ao redor, é sinal de permissão para eventuais participantes. Ninguém vai achar você é maluco se resolver participar da conversa dos outros.

Talvez achem malucos aqueles que conversam ao telefone celular ou falam de assuntos íntimos em locais como praias lotadas ou metrô na hora do rush.

Ah se a moda pega por aqui...dá uma vontade danada de se meter em conversas alheias de vez em quando, principalmente naquelas que não têm limite. Eu já ouvi de tudo em filas de cinema, dentro dos transportes públicos e, principalmente, nas praias lotadas do verão carioca. Desde a traição, com direito a nomes dos adúlteros, até movimentações financeiras, passando pelos detalhes mais íntimos de aventuras amorosas de todos os tipos.

Saber deste hábito chinês me fez refletir. Ao redor de nós há pessoas e não samambaias. Talvez devêssemos ter mais cuidado ao sairmos pelas ruas falando ao celular ou ao desabafar com os amigos em qualquer porta de bar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Ela, a Testosterona

A 'humanidade' que freqüenta este blog já deve ter percebido o quanto eu sou chegada a uma boa dose de testosterona. Não, eu não faço parte do clube de pessoas que injetam a substância na veia na intenção de fazer crescer barba ou desenvolver outras partes do corpo, a fim de masculinizá-lo.

Minha dose de testosterona eu tomo na convivência com os homens. Seja nos relacionamentos afetivos, profissionais ou familiares, sou uma admiradora da raça masculina e nunca escondi isso. Gosto da virilidade e da objetividade. Gosto da maneira de acharem que precisam cuidar e proteger suas mulheres.Gosto também da aparência que a testosteora concede, criei até o prêmio "Testosterona de Ouro" para conceder aos homens que, ao meu ver, melhor representam a quantidade do hormônio na dose ideal.

Uma pena que o hormônio esteja em extinção – e eu não estou me referindo aos gays, que muitas vezes são muito mais machos que muitos bananas que encontramos por aí. Enfim, toda esta "Ode à Testosterona" foi um preâmbulo para mostrar mais uma pesquisa científica dos cientistas ingleses (sempre eles!). Cubro mercado financeiro atualmente e acredito piamente no fundamento da pesquisa. Segue a matéria, divulgada hoje pela Agência France Presse:

WASHINGTON, 14 Abr 2008 (AFP) - Quando os corretores da bolsa têm um elevado nível de testosterona, principal hormônio sexual masculino, têm mais tendência a assumir riscos e obtêm maiores ganhos, revelaram pesquisadores britânicos cujo trabalho foi divulgado nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

Esta pesquisa permite também explicar decisões irracionais responsáveis por bolhas especulativas e 'cracks' na bolsa, segundo estes pesquisadores da Universidade de Cambridge.

Os cientistas acompanharam 17 corretores da 'City' de Londres durante oito dias de trabalho consecutivos e mediram seus níveis de testosterona duas vezes por dia, às 11h00 da manhã, em plena atividade da bolsa, e às 16h00, ao final da sessão, tomando amostras de sua saliva.

A cada vez que mediam o nível de testosterona eram registradas também as perdas e os ganhos.

Comparando os dados recolhidos, os pesquisadores determinaram que os ganhos obtidos eram muito maiores que a média diária quando os corretores tinham níveis de testosterona muito mais elevados.

Baseando-se em estudos anteriores, estes cientistas acreditam que este fenômeno seria explicado pelo fato de que a testosterona aumenta a confiança em si mesmo e o gosto pelo risco.

A influência dos esteróides, especificamente a testosterona e o cortisol ou hidro-cortisona, poderia também explicar por que os operadores de mercados custam a reagir racionalmente frente a bolhas especulativas ou a uma quebra, exacerbando as crises financeiras.

A testosterona é um hormônio determinante para o comportamento sexual e a competitividade, já que atua sobre a agressividade. Este hormônio aumenta em um atleta antes de uma competição e segue aumentando em caso de vitória, mas diminui em caso de derrota.

"O aumento dos níveis de testosterona e de cortisol predispõem os corretores a tomar riscos", observou o doutor John Coates da Universidade de Cambridge, co-autor deste trabalho e ex-corretor de bolsa.

"No entanto, se a testosterona se tornar excessiva no organismo, como pode ocorrer facilmente em situações de bolhas especulativas, o gosto pelo risco pode se tornar obsessivo", acrescentou.

Mas segundo Coates, "um nível extremo de cortisol -hormônio liberado em situações de estresse- em uma quebra também pode criar uma aversão duradoura pelo risco".


e

Ausência

Meu computador pegou dengue hemorrágica, foi internado e deve sair do hospital amanhã.
Não que eu tenha a pretensão de que a falta de postagens tenha feito falta à humanidade, mas pelo menos um amigo me mandou mensagem perguntando o que houve.
Sinal de vida para o blog!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Para não dizer que não falei das flores

Sempre adorei o título da canção composta por Geraldo Vandré, que virou o hino de resistência à ditadura militar, instaurada no Brasil em 31 de março de 1964 e que durou 20 anos.
Faço aniversário em 31 de março e sempre lembro do meu pai brincando comigo que eu nasci no dia da "redentora",- em tom de deboche, claro - o que justificaria o meu jeito, digamos, mandão.
As comemorações de aniversário e a pane no meu computador (Ok, ok, estou precisando de um novo. Aceito presentes)me afastaram alguns dias deste blog.
Retornei hoje apenas para dizer que eu gostaria que o caso da morte da menina Isabella Oliveira Nardoni fosse apenas um episódio do seriado americano C.S.I ou do Law & Order(Special Victms Unit), transmitidos no Brasil pelos canais Universal e Sony da TV a cabo.

Mas já que trata-se da mais dura realidade, nua e crua, gostaria que o empenho da polícia investigativa brasileira fosse pelo menos 10% do que a gente vê na ficção.
Não sei quem a matou. Paro, penso e repenso que, se for o pai ou a madrasta, o mundo está mesmo perdido.
E se não for, a ira e as acusações infundadas da opinião pública só servirão para criar um sentimento de revolta ainda maior em um pai entorpecido pela dor.

Sei que tudo está muito mal-contado. Mas pelo menos nos seriados, nem sempre a realidade apresentada corresponde à verdade suposta.

Torço para que o mistério seja desvendado e se faça justiça.

Choro pela vida da Isabella e pela de tantas crianças que sofrem maus-tratos pelo mundo, sem nenhuma chance de defesa, especialmente quando os algozes são os que deveriam lhes dar proteção.

Paro por aqui por causa do nó na garganta.Em minha vida inteira de repórter, sempre tive dificuldade de cobrir sofrimento de criança. Lembro-me de uma matéria que fiz no Hospital Jesus, de Vila Isabel, especializado em tratamento de crianças com câncer. Um menininho sem cabelo, todo entubado, correspondeu ao meu olhar e eu brinquei com ele. Ele riu e me deu uma florzinha que tinha na mão. Corri para o banheiro e chorei feito um bebê.

Crianças me causam emoção. Porque quando olho para elas, sempre imagino os adultos em potencial, em como podem ser transformadas em boas pessoas se forem cultivadas na base da harmonia,do cuidado, do carinho e do amor.

São como flores em botão, prontas para desabrochar em frondosos seres-humanos.

Aos que as cortam pelo caule, seja imposta a justiça dos homens.