quarta-feira, 28 de maio de 2008

Inspiração

Eu fico 10 dias longe e volto com uma tremenda falta de assunto.
Aí descubro que não sou só eu.

Vejam a manchete do site de notícias G1: Arrependida, Fani tira tatoo da virilha;veja

Não me perguntem quem é Fani. Nem por que cargas d'água o descontentamento da moça com sua tatuagem recente - feita há apenas 6 meses - é destaque no site de notícias da poderosa organizações Globo.

Devo tentar ficar mais 10 dias sem escrever?

sábado, 17 de maio de 2008

Prioridades

Quais são as coisas mais importantes da vida? Para Oscar Niemeyer, como bem lembrou o amigo do blog Relatos, é mulher.

No papo de botequim entre colegas da redação, na última quinta-feira, só se falou em futebol. Inclusive entre as meninas. Uma das colegas alertou"Nossa, as rodas mudam e o assunto continua o mesmo: futebol. Vocês só falam nisso".

Talvez entusiasmada pelo excesso de guaravitas ingeridos - é, eu dificilmente bebo cerveja - mandei na lata: "Mas o que é melhor que futebol? Só sexo. E isso a gente não vai fazer aqui em um botequim na Gamboa..."

Começou então o papo de bêbado: quais são as prioridades, as coisas mais gostosas da vida, aquilo que você faria o tempo todo se não tivesse que trabalhar, cuidar da saúde, do intelecto..etc..etc..

Sexo.
Futebol.
Comer.
Dormir.

Pronto. Eis a minha lista. Não houve contestação, a não ser pelo amigo tricolor, e por ser torcedor do Fluminense, gosta de dar uma de 'mala', com mania de dar a última palavra de sabedoria só para implicar. Ele mandou um "Não sei". Questionado, saiu com essa: "Primeiro sexo, depois jogar futebol e depois assistir futebol. Aí sim comer e dormir."

Quanto preciosismo para concordar que o melhor da vida é mesmo sexo (quando você faz), futebol (independente se você faz ou assiste), comer e dormir.

Mas é claro, muito claro, que grande parte dos meus 20 leitores não conseguirá entender isso. Muita gente não gosta e outro tanto detesta futebol.

Então, o que vem depois de sexo para você?

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Marina Morena você não se pintou

O último resquício de dignidade da equipe ministerial do governo Lula entregou a pasta ontem.

O pedido de demissão da Ministra do Meio-ambiente, Marina Silva, é resultado natural de um processo de desprestígio, do qual a ambientalista não foi poupada.

Mas Marina nunca pintou a cara. Nunca foi uma oportunista de gabinete e nem tampouco levantou a bandeira de defesa ecológica por modismo de ocasião. Por seu histórico de seringueira que se alfabetizou adulta pelo Mobral e acabou se formamndo em história, Marina é o retrato do Brasil vencedor, que não se entrega à mediocridade e às Bolsas Família da vida, por acreditar na educação e na conscientização como os verdaeiros caminhos para o progresso.

Durante diversos episódios à frente da pasta do Meio-ambiente, Marina Silva foi desprestigiada publicamente, inclusive pelo deboche do presidente da república, ao mencionar que ela 'defendia os bagres', quando tentava simplesmente exigir algumas cláusulas ambientais antes de liberar licenças para usinas hidelétricas - obras de comprovado impacto na natureza, inclusive em áreas de reserva.

As notícias do dia informam que Lula ficou 'irritado' em saber da demissão da ministra pela imprensa. Na verdade, Lula não gostava do jeito sincero de Marina Silva, que tinha , com aquela compleição física mirradinha, coragem para chegar em uma reunião e assumir que o desmatamento da Amazônia cresceu durante a gestão de Luiz Ignácio Lula da Silva.

O rei não gosta do grito de que ele está nu. Ao mesmo tempo, aturou Marina Silva no Governo para evitar passar o recibo de descaso com o meio-ambiente. Aos olhos das entidads internacionais, Marina Silva dispõe de cacife de autoridade ecológica.

Não existe coisa pior para alguém sensível doque o desprestígio. Ao entregar o projeto Amazônia Sustentável ao recém-chegado Ministro Mangabeira Unger, Lula deixou claro que a posição de Marina Silva no Governo era mesmo 'para inglês ver'.

A ex-ministra volta a ser Senadora com sua postura imaculada. Talvez possa fazer mais pelo País legislando contra os absurdos impostos pelos prestigiados do rei, aqueles que nunca o criticam, que nunca apontam as mazelas do Brasil.

Papai e mamãe PAC não podem nem comemorar a saída da 'implicante' de plantão. Torço para que Marina Silva dê um pouco mais de trabalho para o Governo em sua volta ao Senado.

Marina, continue assim: bem mais bonita com o que Deus lhe deu.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A vida é bela, só me resta escrever

Neste momento pelo menos 900 crianças chinesas encontram-se soterradas, embaixo dos escombros da escola onde estudavam, que foi ao chão em função do pior terremoto na história da China. No Líbano, os números oficiais de mortos, no combate contra o Hezbolah, já ultrapassa os 60. E por aí vai...

Não deve demorar muito para alguma outra embarcação afundar no Rio Amazonas, ou algum pai austríaco resolver criar uma filha em cativeiro e ter sete filhos com ela, ou outro resolver compactuar com o assassinato de sua filha pela mulher ensandecida...

Costumo refletir profundamente sobre minha vida quando me deparo com fatalidades de dimensões incomensuráveis. Por vezes, chego a me perguntar o porquê de ter escolhido a profissão de jornalista, ofício que exige controle das emoções, um certo grau de frieza e uma cara de paisagem diante dos fatos mais absurdos encarados por nossos olhos.

Meus neurônios são pouco adestrados e continuo a sentir as dores do mundo.

Gostaria de um antídoto, mas como não tenho, insisto no otimismo. E lá vem de novo uma das referências cinematográficas à tona. O filme não é nenhuma obra prima 'Good Moornig, Vietnã', estrelado por Robin Williams. Conta a história de um radialista em pleno front de batalha americana no país asiático, famoso por ter derrotado as poderosas forças armadas dos EUA. Bem, em um determinado momento do filme, a voz de Louis Amstrong cantando "What a Wonderfull World" enche a tela pontuada de imagens do conflito. Bombas, gente sendo assassinada, crianças com medo, seres humanos em desordem.

É piegas, confesso. Mas atire a primeira pedra quem nunca curtiu uma pieguisse ao menos uma vez na vida.

Tudo isso apenas para falar da constatação de que o fato de ter descoberto um nódulo da tireóide, de ser a repórter mais mal paga do jornal onde trabalho, de o homem que eu amo ter decidido abrir mão de mim, de estar em vias de ter que entregar o apartamento onde eu moro, de não conseguir mais entrar nas minhas roupas preferidas, de nunca mais ter conseguido comprar um carro desde que vendi o meu, de o flamengo ter sido eliminado da Libertadores e o Figo sequer saber que eu existo, são apenas bobagens diante das tragédias contemporâneas.

Descobri, então, que a consciência da grandeza do mundo é o verdadeiro antídoto, mas não contra a capacidade de nos pasmarmos diante do absurdo, e sim contra o hábito de cultivar a autopiedade e de dar tanta importância ao nosso próprio umbigo...

sábado, 10 de maio de 2008

Voz Grossa

O celular toca. Número desconhecido. Primeira ligação do dia.
- Alô.
- Alô, é a 'Senhora' Vaughan? (na verdade era Sarah Vaughan, mas eu entedi 'senhora')
- Não, foi engano.
- Ah, então é a Ella Fitzgerald?
Reconheço a voz.
- Ah, Mário Luiz, é você! Minha voz tá muito grossa hoje né?
- Tá maravilhosa..quase fiquei de pinto duro aqui. (Desculpas aos mais pudicos, mas meu amigo é do tipo escrachado).

Minha voz é grave por natureza, mas ontem à noite acabei de vez com meus agudos. Fui à despedida de um amigo em partida para Londres. Conheci-o nas aulas de tamborim e estava lá toda a turma do Aritmética do Samba (a escolinha de batuque) e do Simpatia é Quase Amor, bloco no qual a turma toca. Como não tinha levado meu tamborim, restou-me o chocalho e o microfone para puxar o samba. Anestesiadas pelas cervejas estupidamente geladas e pelas caipirinhas de lima dignas dos deuses, as cordas vocais empolgaram-se além do que deveriam. Resultado: um timbre misto de Maria Alcina e Angela Rô Rô no dia seguinte.

Cientistas brasileiros (Olha os cientistas de novo aí geeente!) chegaram a conclusões interesantes sobre a relação voz e sexo. Ao mesmo tempo, descobriram que homens gostam de voz aveludada e associam as vozes mais claras e graves às mulheres mais atraentes. Alguns estudos foram feitos da seguinte forma: colocavam-se diversas fotos de mulheres na frente dos homens enquanto eles escutavam as vozes femininas. A tarefa era escolher qual imagem correspondia à voz ouvida no momento. As mais graves e claras foram associadas às mulheres mais sexys e atraentes.

É claro que eles erraram muito, pois as vozes e aparências enganam. Mas não deixa de ser curioso este aspecto. Já li a respeito de outro estudo sobre o ouvido masculino, incapaz de prestar atenção por mais de 5 minutos em vozes agudas e finas. Isso explica o porquê de tantas mulheres reclamarem que os homens não a escutam...nesse aspecto, até considero-me sortuda em ter voz de contralto.

Perdida nestes devaneios, o celular toca novamente. Outro número desconhecido.
- Alô.
- Alô, Alex?
- Não, foi engano.
- Marco Antônio?
Aí passou dos limites.
- Olha só: me chamo Ana Paula e certamente essa ligação é um engano - respondo com ênfase.
Antes de desligar, ainda escuto:
- Foi engano sim, mas sua voz é linda, hein, Ana Paula...

Minutos de reflexão. Dois episódios semelhantes no mesmo dia????
Só poderia ser algum sinal místico.

Tele-sexo paga melhor que jornalismo, não paga?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Fragmentos de um dia de outono

O outono é a estação preferida dos cariocas. Muita gente pensa ser o verão. Engano. O carioca gosta de sol e não necessariamente do calor de 40 graus à sombra. No outono a luminosidade é mais intensa e o carioca legítimo adora aproveitar a temperataura mais amena para encher as diversas opções de lazer ao ar livre. Para culminar a felicidade, à noite dorme-se coberto, sem precisar ligar o ar condicionado. Como já cantou Ed Mota: "existe um lugar para ser feliz, além de abril em Paris: outono, outono, no Rio"

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"Ele é conservador demais para um historiador", disse o vendedor da Livraria da Travessa, localizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ao colega. Eu folheava um livro e escutava: "E a mania de dar beijo na testa? Tem coisa mais antiga? E o alianção dourado ocupando quase metade do dedo? Ele não é velho, mas tem todas as atitudes de velho". Acho engraçado o comentário. Mas o curioso foi perceber que para o jovem vendedor, com cara de estudante de teatro, conservadorismo não combina com a profissão de historiador. Gostei disso. Olhar a história como uma ciência moderna e dinâmica, que exige contemporaneidade de quem a estuda, é um bom sinal.

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"Instantâneos da felicidade" é o nome da exposição de fotos que mostra, como o próprio nome já diz, instantes felizes da vida quotidiana e de algumas celebridades. Esta exposição esteve até janeiro no CCBB, agora está compilada em livro. Um delícia. Saí da livraria com o olhar doutrinado a ver só as boas coisas ao redor. Impressionante como funciona. Vi freiras cortando cabelos de mendigos na rua. Vi um jovem, dando um pausa na pressa de office-boy, para ajudar uma senhora a subir no meio-fio alto da calçada; vi um carro parando no sinal verde, antes da faixa de pedestres, porque havia um congestionamento na frente, vi a uma obra de reconstrução de um casarão abandonado na Gamboa. Instantes de felicidade são boa fonte de renovação do otmismo.

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E por falar em leitura, vai a dica: "Clarice Fotobiografia", autoria de Nadia Batella Gotlib, da editora Imprensa Oficial do estado de São Paulo . Belo, cheio de imagens e documentos. Páginas pontuadas pelas frases de efeito da escritora Clarice Lispector. Fragmentos da vida de alguém que encarou com profundidade cada momento de sua existência. Abra o livro e apaixone-se.

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Apaixone-se também por "Lisboa, o que o turista deve ver". Aparentemente, apenas o título de mais um livros destinado a dar referências aos viajantes. O diferencial? O autor. Ninguém mais, ninguém menos que Fernando Pessoa. Boa viagem!

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O Flamengo amargou uma derrota inacreditável no Maracanã ontem. Os torcedores dos outros times cariocas estão fazendo muita festa. Provavelmente maior do que aquela que rola agora no México. É a velha máxima de sentir prazer com o do alheio... acho até saudável e me divirto. Afinal, curtição com a cara dos perdedores faz parte dos rituais da tribo "Apaixonados por futebol".
Rivalidades à parte, o que aconteceu ontem no Maraca foi a típica quebra do salto alto. Nem tanto pela postura dos jogadores, que jogaram mal, mas correram. Talvez mais pelo inconsciente coletivo mesmo. Ninguém esperava que o outro time mexicano fosse capaz de fazer três gols de vantagem em cima do atual campeão carioca e aí a inércia tomou conta. No último jogo comandado por Joel Santana, o discurso do vestiário foi esquecido em campo. Todos esqueceram que, enquanto acreditavam na total impossibilidade de eliminação, o adversário só contava em ganhar.
O mesmo Flamengo de ontem já virou vantagens históricas em outras rodadas, simplesmente adotando a postura que o Americano do México adotou: não entrar derrotado. O problema nem foi os rubro-negros terem entrado em campo vitoriosos. O problema foi terem entrado em campo acreditando que não iriam perder de 3 x 0. Ou seja, perder tudo bem, já que a derrota classificaria o time para as quartas-de-final da taça continental. O que o time da casa não esperava é que, do outro lado do campo, existisse uma equipe a fim de estourar o placar permitido para a classificação do Flamengo.
Vale a lição: nunca na vida ninguém ganhou nada de véspera. E nem perdeu.
Vida que segue.
Pelo menos eu continuo campeã carioca de 2008, apesar de botafoguenses, vascaínos e tricolores terem se unido em uníssono para curtir com a eliminação da Libertadores.
Esse meu time é tão importante, mas tão importante, que ninguém consegue ficar indiferente, nem mesmo quando nossa derrota nada diz respeito às demais torcidas regionais.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O outro lado da cabeçada do Zidane


Em 10 de julho de 2006, um dia após a derrota da França pela Itália na Copa da Alemanha, escrevi um e-mail para alguns amigos. Resolvi publicar para deixar registrado minha tentativa de incursão pela crônica esportiva e também por incentivo de um dos meus 20 leitores, que na época recebeu o e-mail...


http://www.youtube.com/watch?v=SBaBrcBLbqw (para quem quiser rever a cena)


Rio de Janeiro, Redação do Jornal do Commercio, Gamboa, 10 de julho de 2006, 14 horas.


Senti pena do Zidane. Sou uma pessoa de sangue quente e talvez por isso tenha a tendência a compreender os arroubos emocionais que podem levar a atitudes como a tomada pelo craque. Sei que não há justificativa. Nem estou em busca disso. Mas podem estar certos de que a maior vítima daquele ato violento foi ele próprio. Seu descontrole levou-o a praticamente entregar a Copa na mão do adversário. Grupo medíocre, no qual não impera nenhum craque que chegue à sola do pé de Zinedine Zidane.


A cena que mais me comoveu foi a mostrada ontem pelo Fantástico: o goleiro da Itália, tentando despertar a consciência meio desorientada de Zidane, falou algo do tipo "Desculpa, Zidane, mas é cartão vermelho, cara , não tem jeito"...o olhar estático de Zidane, completamente desolado, começa a umedecer-se, seus lábios contraem-se , formando um leve "beicinho". Por frações de segundos ele não cai em prantos. O dono da bola de ouro da Copa de 2006 engole o choro em seco e sai de campo. O resto, todo mundo viu: o camisa 10 da seleção francesa retira-se do gramado cabisbaixo, passa pela taça e despede-se do futebol sob vaias.


Atire a primeira pedra quem nunca teve gana de dar uma cabeçada em certos tipos. Quem nunca sentiu o ímpeto de cabecear o tórax do Duda Mendonça durante seu "não-depoimento" à CPI dos Correios. Ou quem se segurou para não partir para cima do motorista de ônibus que arranca antes da velhinha subir. Ou daquele amigo metido a íntimo que te deixa sem graça na frente de pessoas com quem você não tem muita afinidade. Ou do espertinho que tenta furar a fila, ou vem pelo acostamento para passar sua frete no engarrafamento.Tenho certeza que todo mundo já sentiu vontade de dar suas cabeçadas.


Vivemos o tempo todo tentando nos segurar e passar por cima destes sentimentos menos nobres. Mas isso é humano, não resta dúvida. Cada um já teve o seu momento de descontrole emocional, no qual pouco importa se o que está em jogo é seu emprego, sua vida, seu casamento, status-quo ou uma final de Copa do Mundo. Todo mundo já teve aquele momento de chutar o balde porque tava cheio e veio alguém pingar a gota d'água. São os momentos nos quais a humanidade cede à animalidade e aí, babau!, agimos com descontrole. Ah! Imperdoável , dizem os certinhos, os seguidores de regra, os controlados. Pois eu digo - embora não vá fazer a menor diferença na vida do cara - eu te entendo Zidane!


Porque é preciso errar para aprender, alguém no mundo tem que se descontrolar de vez em quando. Alguém no mundo tem que perder a Copa um dia para não aceitar um comentário racista ou ofensivo no meio do jogo. Alguém tem que se descontrolar para ousar, se livrar do adversário e dar um balãozinho no "fenômeno", sem medo de ser feliz. Porque é do drible perfeito, da jogada bonita e das corridas em campo do 'vovô' de 36 anos que lembrarei quando pensar em Zidane. O que aconteceu ontem foi um descontrole. E todos nós já nos descontrolamos ou vamos nos descontrolar um dia. Aliás, todos nós não -- parafraseando Nelson Rodrigues -- só os normais. E o preço deste descontrole, Zidane pagou ontem no apito final. E como deve ter doído.


Sobre a "vítima" da cabeçada, li hoje que os jornalistas esportivos italianos chamam Marco Materazzi de "bicho", em função do seu temperamento estranho e pouco amistoso. Segundo a matéria publicada no jornal O Globo de hoje, Materazzi não fala com ninguém e chegou a ficar 2 anos sem dirigir a palavra ao próprio pai. Ontem mesmo, o zagueiro campeão do mundo deu duas demonstrações de ter lá seus diabinhos soltos: deu vários tapas na taça que todos beijavam e passou pela zona livre sem olhar para os lados e sem responder a ninguém.


Hoje, a agência de notícias Reuters publicou o seguinte "De acordo com diversas fontes muito bem informadas do mundo do futebol, parece que o jogador italiano Marco Materazzi chamou Zinedine Zidane de 'terrorista sujo', disse o SOS Racismo em comunicado". Se , de fato, a ofensa foi racista, seria mesmo muito difícil se segurar.


As veias do filho de imigrantes argelinos, vivendo em um país que enfrenta até hoje a intolerãncia e a discriminação, devem ter se dilatado na hora, sem dúvida. A cabeçada que o tirou do jogo pode ter sido o impulso, pelo nojo, de liquidar com o racismo como quem mata uma barata. O filósofo Aristóteles, em seu ensaio sobre a tragédia grega, afirma que o herói trágico é o tecelão da própria queda. Traduzindo, ele quer dizer que as tragédias teatrais imitam a vida, porque somos responsáveis por nossos atos . É a lei da causa e efeito. Zidane ficou sem a Copa. Talvez o tempo ainda mostre com mais clareza, o que Materazzi vai colher com as palvras dirigidas à Zidane.


Ana Paula Cardoso é apreciadora do bom futebol.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Tá ficando chato...


Eu gosto assim: quando meu Mengão pecisava apenas de um empate para ser campeão carioca, mas resolve ganhar de 3 x 1 em cima do Botafogo, de virada, e com três gols de jogadores que estavam no banco.


Tio Joel vai fazer falta...


PS: Falha gravíssima no post anterior, devidamente corrigida pelo fiel leitor e amigo Luís Edmundo Araújo. De fato, como bem lembrou o 'xará' do Animal, Edmundo atualmente joga no Vasco e não no Palmeiras. Ele tinha contrato com o Flamengo na época do acidente de carro no qual se envolveu.

Mas como as cores de 'exu' do manto sagrado flamenguista são fortes, os prezepeiros que aparecem por lá, apenas para fazer número e não jogar nada, acabam indo embora. Edmundo fica mesmo bem melhor no Vasco.


"Ôô ôô, o Obina é melhor que o Eto'o"

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O gosto da laranja azeda

Eu tinha uns cinco anos e passeava com minha madrinha por uma feira-livre. (Na minha família sem religião ninguém era batizado, mas todas as crianças recebiam as chamadas madrinhas 'de boca'. A princípio, acho que era para não nos sentirmos diferentes na escola. Depois, funcionou melhor do que se tivéssemos recebido a agüinha na testa.Os laços mais fortes são os do coração.)

Minha madrinha parou em frente à barraca de laranja e perguntou:
- Está doce esta laranja, moço?
- Está um mel, minha senhora. Um mel!, empolgou-se o feirante já esticando a mão em oferta de um pedaço da fruta.
Minha dinda fez uma cara feia, torceu o nariz, fez um gesto de 'afaste de mim este cálice' e disse ao feirante surpreso:
- Não, não, obrigada. Gosto de laranja azeda...

No alto dos meus cinco anos, com o entendimento da vida ainda em formação, me espantei e comecei a sucessão de perguntas típicas da idade. Queria entender como era possível alguém gostar de laranja azeda. Minha tia achava emgraçado. Para acalmar minha aflição, prometeu dar-me uma laranja azeda tão logo voltássemos a sua casa, pois ela dispunha de algumas no estoque.

Lembro-me da ansiedade que me acometeu. Mas quando finalmente mordi a metade da tal laranja, foi inesquecível a sensação. Um arrepio no corpo, um formigamento nas papilas gustativas e a total rejeição. Minha madrinha riu muito e perguntou:
- Não gostou?

É curioso como algumas situações vividas na infância marcam nossas vidas para sempre. Até hoje, quando acho o gosto de alguém esquisito, lembro-me deste episódio.

Seja pela comida, pelo time do coração, pelas escolhas profissionais, pelos passatempos ou pelas preferências sexuais, cada um de nós já achou, em algum momento, o gosto de alguém muito estranho. O aprendizado na tenra idade, porém, me ensinou que as pessoas não deixam de ser legais e queridas por gostarem do coisas diferentes das que eu gosto.

Quando o assunto é sexo, então, custa-me entender porque alguns comportamentos , dos outros, irritam tanto algumas pessoas. Adoro sexo e sou muito curiosa a respeito de todas as variações que envolvem o tema. Intensifiquei meu interesse pelo assunto durante meu primeiro casamento, principalmente quando começou a escassear o produto...

Comecei então a estudar o assunto. Minhas pesquisas pelo tema revelaram que há de tudo neste universo. Há práticas tão esdrúxulas que fazem qualquer festinha do cabide parecer programa de papai e mamãe...

Assistindo a filmes e documentários, percebo que mesmo nas tribos afeitas à busca do prazer pela dor, por exemplo, há praticantes gente boa, que seriam ótimas companhias na mesa do bar ou excelentes colegas de trabalho.Poderiam até mesmo ser meus amigos, apenas jamais praticaria sexo com eles.

Acho que este é o ponto: se não sou eu que vou fazer sexo com determinadas pessoas, para que perder meu tempo em criticar?

Ao longo da vida, aprendi que, epecialmente em se tratando de sexo, devemos respeitar o gosto dos outros.

Quando na prática sexual ambos (ou todos) os participantes estão plenamente conscientes e de acordo com o que estão fazendo, vale tudo.

Por isso só repudio quem estupra, faz sexo com crianças ou com animais. Sexo pela força ou com quem não tem consciência do que está fazendo é caso de polícia. Para o resto, vale o gosto de cada um.

Vejam o exemplo dos travestis. Em 1992 fiz uma reportagem para a cadeira de radiojornalismo da faculdade. Saí a campo e, na Glória, tradicional ponto de prostituição de travestis no Rio de Janeiro, entrevistei vários. Todos eles me responderam que 80% de seus 'clientes' eram homens casados, bem sucedidos profissionalmente e com filhos. O que eles procuravam? "Algo diferente", responderam as bonecas. 'Elas' me contaram os detalhes sórdidos deste 'algo diferente', mas não relatarei. Fica por conta da imaginação de cada um.

A primeira coisa que me veio à cabeça quando soube do episódio entre Ronaldo, o jogador de futebol apelidado de "fenômeno" no início de carreira e a travesti Andreia Albertini, é que Ronaldo não precisava disso. Mas quem sou eu para achar alguma coisa? Ou ele gosta ou simplesmente teve vontade de experimentar. Não prejudicou ninguém, só a si mesmo, ou melhor , a sua imagem, tão valorizada em tempos de ode às celebridades.

Por que um jogador de futebol, com o joelho ferrado, acima do peso, com o cabelo esquisito (para o meu gosto) e cheio de milhões no bolso não pode desfrutar do seu gosto particular? O que isso interessa a mim, a você ou à opinião pública? Tudo bem, eu também acho estranho, porque parto do meu gosto. Do que considero dentro do meu padrão de normalidade e aceitação.

Mas talvez ele só quisesse "Algo diferente" e sairia dali para viver a vidinha 'normal' que a sociedade exige, não fosse o senso de oportunismo da travesti.

O preço ele já está pagando. Tenho certeza que as torcidas adversárias, a qualquer time no qual Ronaldo venha a jogar um dia, jamais o perdoarão. Mas acho uma pena. Edmundo, atualmente jogador do Palmeiras, dirigiu alcoolizado, foi responsável por um acidente gravíssimo, com morte, e está aí fazendo seus gols. Claro que até hoje as torcidas gritam 'assassino' nos estádios...

Confesso que o cao do Edmundo me escandaliza muito mais até hoje. Porque sexo não tenho mesmo aspiração em fazer com o Ronaldo. Mas em relação ao Edmundo, posso um dia ter a infelicidade de atravessar um sinal verde no mesmo cruzamento em que o "animal" ultrapassar um sinal vermelho, bêbado e em alta velocidade...

Nunca foi crime gostar de laranja azeda. Deixemos o fenômeno em paz.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Os Baias

O mundo corporativo é praticamente um Universo Pararelo.

Trabalho em empresas desde os 17 anos. Empresas são organizações compostas por pessoas oriundas das mais diversas formações, com valores pessoais completamente díspares, com graus de educação desnivelados e, geralmente, interessadas em qualquer coisa diferente de um objetivo em comum. Caos administrativo costuma permear as estruturas empresariais, que acabam sobrevivendo em função de alguma força cósmica protetora do capitalismo...

O mundo gira, a lusitana roda, mas nada muda muito quando o assunto é a convivência no ambiente de trabalho. Mesmo sendo você um daqueles afortunados, funcionário daquela empresa que concede os melhores benefícios, que prima pela gestão participativa, que implementou sistema de avaliação por competência e que premia por resultados, em algum momento, nem que seja em uma fração de um único dia do ano, haverá um motivo para deixá-lo insatisfeito e, por conseqüência , levá-lo a reclamar.

Em homenagem ao Dia do Trabalho, inicio hoje a mini-série "Os Baias", destinada a contar histórias pitorescas vividas pela autora do blog ao longo de 21 anos de trabalhos (es) forçados...

É lógico que o título é uma alusão à obra do mestre Eça de Queirós, "Os Maias", divinamente adaptada para a TV pelas mãos de Maria Adelaide Amaral. Baia, para quem desconhece, é uma espécie de divisória, que separa os funcionários uns dos outros, demarcando o pequeno território de cada um. O sistema de baias é a estrutura arquitetônica mais utilizada dentro das organizações atualmente

"Os Baias" provavelmente nunca alcançará o status de obra-prima, mas é uma tentativa de contar aos amigos autônomos que Salvador Dali é fichinha perto de algumas situações que acontecem no dia-a-dia das ditas "empresas".

Do descaso completo pelo funcionário, até aperseguição por questões pessoais, já vi de tudo. Quer dizer, só não vi ainda assassinato, mas já soube de casos. Sem contar as agressões físicas e verbais.

Em uma multinacional que trabalhei, por exemplo, uma vez a secretária, conhecida pelo apelido de pit bull, tentou me expulsar aos gritos de uma sala, me empurrando - literalmente - pela porta a fora. Tive que usar a força para manter a porta aberta e precisei gritar para dizer que estava ali porque o diretor (chefe dela) ligara para a minha sala - que ficava ao lado da sala de reunião sob a guarda da 'pit bull' - justamente para pedir que eu fizesse o favor de informá-la que ele não estava conseguindo ligar de Nova York para o ramal de onde ela estava, o que poderia atrasar a reunião por teleconferência. Depois, com os ânimos menos acirrados, a tal secretária entrou na minha sala chorando e pedindo desculpas, justificando que não fazia sexo há mais de um ano e por isso andava nervosa. Isso tudo na presença do meu estagiário, que teve que se levantar para não soltar uma gargalhada na frente da figura.

Atualmente, estou passando por mais uma situação surreal na minha vida de labuta. Tudo por causa de um maldito sanduíche, comprado em uma daquelas máquinas de snacks que as empresas disponibilizam aos seus funcionários, para que eles paguem para serem mal-alimentados. Com a fome que estava, comi o sanduíche e só depois percebi que a validade estava vencida. Nem me preocupei, porque era apenas de um dia. Mas no dia seguinte, eis que passo mal. Nem lembrei do raio do sanduíche. Em tempos de epidemia de dengue, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi a doença transmitida pelo Aedes Aegypti. Mas o resultado do exame descartou a possibilidade, então, a médica fez uma anamnese e perguntou se por acaso eu não teria comido alguma coisa passível de afetar meu organismo. Lembrei do caso da validade vencida e ela confirmou que provavelmente poderia ser o caso. Reclamei com a empresa fornecedora do alimento antes de passar mal, no próprio dia em que comprei, a fim de sinalizar o problema e evitar novos casos. Mas aí começou meu inferno.

Não bastassem os funcionários da tal empresa não pararem de me ligar, de dizerem coisas do tipo 'isso nunca aconteceu antes', agora a área de recursos humanos da própria empresa para qual eu trabalho resolveu entrar em cena. Não para me defender, é óbvio. Pelo contrário. Pelo andar da carruagem, devo ter cometido um crime inafiançável ao reclamar sobre o caso.

A situação surreal culminou quando, ontem, fui 'convocada' pelo gerente de Recursos Humanos para 'prestar esclarecimentos' sobre o 'problema' do sanduíche com validade vencida. Em nítida postura de desconfiança, a 'autoridade' administrativa tentou me convencer de que só estava me chamando ali por que 'ele se interessa por tudo que acontece com os funcionários da empresa'. Fui obrigada a responder que não acreditava nisso. Embasei minha resposta na experiência que eu tenho com o tal RH. Dentre diversos casos relatados, um foi sobre um e-mail, enviado por mim ao próprio gerente, para pedir explicações sobre o motivo de meu dinheiro de férias não ter sido depositado na data que manda a lei. Como nunca recebi resposta e a situação foi resolvida por interferência do meu chefe, disse-lhe que tinha meus motivos para estranhar tamanho interesse pelo caso em questão.

Deixei o homem sem jeito. Não só por essa resposta, mas todas as outras que não vêm ao caso citar, para não estender ainda mais. Fiz questão de deixar claro que eu estava me sentindo acuada, tendo que dar explicações a uma pessoa hierarquicamente superior a mim, dentro de sua sala, a respeito de um fato do qual fui vítima.

Não sei não, mas só me resta agora aguardar o pedido da 'minha cabeça', outra modalidade muito comum na iniciativa privada...

Bem, se você também é 'baia', não fique aí parado! Conte suas histórias surreais e concorra a uma navegação ao site da Google, a melhor empresa para se trabalhar no mundo. As giletes para você cortar os pulsos vêm junto com o link para enviar o currículo.

E viva o dia do trabalhador!!!