domingo, 28 de dezembro de 2008

Um bom ano

Sexta-feira, um prosseco na casa da amiga querida, papo vai, papo vem, outra amiga presente começa a fazer algumas lamentações. A principal dela é dividir a sala, no trabalho, com um colega gordo e calorento, que tem por hábito colocar o ar-condicionado no máximo.
A anfitriã, pessoa de fina sabedoria, olha-a e comenta.

- Este é o seu grande problema atualmente? Poxa, você é uma felizarda.

Depois da frase, não houve nenhuma contrapartida de sua parte, no estilo 'veja como meus probemas são maiores". Não foi preciso. Todos nós sabemos de seu histórico. Perdera o pai de um infarto repentino e fulminante há 20 anos. Suas duas irmãs padecem de doenças mentais e se transformaram em outras pessoas, como ela mesma classifica 'mortas em vida'. Perdeu cinco membros de sua família em 2008 e tem a irmã do marido passando por uma fase de depressão. Outra amiga muito próxima, mais dela do que das demais, teve um câncer diagnosticado na mama e estará se submetendo a uma cirurgia de retirada do seio amanhã.
E nem por isso minha grande amiga fica a se lamentar pelos cantos. Nunca a vejo reclamando e é de uma generosidade impressionante, capaz de acalentar e dar força para quem estiver ao seu redor.

Tenho pensado muito sobre a felicidade. No fim do ano, aumentou um pouco minha tendência reflexiva, é claro.

Na última segunda-feira morreu o pai de um grande amigo meu. Morte estúpida e inesperada. Dois dias antes, eu estava a conversar com ele, o pai do meu amigo, em um churrasco em sua casa. O homem encontrava-se animadíssimo, a contar suas experiêncuas da forma mais encantadora, mostrando um amor à vida contagiante.

A gente não pode fazer nada mesmo contra a morte. Só podemos fazer tudo a favor da vida.

No fim doa ano a gente faz balanços dos erros e acertos, dos objetivos cumpridos e preparamos listas do que almejamos para o próximo ano.

Não tenho aboslutamente nada para me queixar deste ano que acaba na próxima quarta-feira. Das cinco prioridades que listei, só faltou o amor. Mas ainda faltam reês dias, quem sabe...

No mais, fiquei com vontade de colocar apenas uma meta para o Ano Novo: viver os próximos 365 dias sem uma única lamentação.

E quando eu cair na tentação de sentir peninha de mim, que eu vá até o Inca, a um orfanato, ao cemitério e olhe para a dor dos outros, para as perdas dos semelhantes, para quem está em situação pior e passe a me sentir mal de ter raiva do mundo por causa do carro que jogou água da chuva em mim, ou do chefe que é inábil, ou do taxista chato que fica me perguntando a cada curva qual o caminho que eu prefiro.

E quando eu vir uma borboleta azul, ou o arco-íris, ou quando chegar um e-mail do amigo de Londres, ou quando as sobrinhas me derem um abraço, ou quando eu for ao cinema, ou quando minha mãe me ligar, meu pai me chamar de 'Donana', meus irmãos disserem que eu cozinho tão bem quanto minha avó; quando eu ajudar alguém, quando eu for ajudada, quando eu der uma boa gargalhada, quando eu por um homem interessante for olhada, que eu tenha a hombridade de me sentir grata.

E, desta forma, 2009 também vai se tornar um bom ano.

domingo, 21 de dezembro de 2008

De noite na cama

Hoje faz exatamente uma semana desde a primeira noite juntos.
Levei-o até minha cama com uma certa desconfiança, confesso, embora já houvesse quem me fizera propaganda sobre suas as qualidades.
"Maravilhoso", "diferente" e "delicioso" foram apenas alguns dos ajetivos usados por quem já o tinha , digamos, experimentado.
Quebrei finalmente a resistência no último domingo e o trouxe para casa. Minhas noites clamavam por renovação.
E foi assim, em busca do novo, que ele foi parar na minha cama no último domingo.
Nem sei como dizer o que senti. Depois da primeira noite juntos, pensei em como pude viver tanto tempo sem ele.
Não fui à ginásticaa na segunda pela manhã. Segunda à noite, outra dose dele e não deu para sair da cama mais cedo na terça de novo.
Aí virou vício. Foi assim ao longo da semana.
O pior foi enfrentar aquele tempinho chuvoso, no trabalho, sem tirá-lo da cabeça.
Me senti patética, não parei de pensar nele o dia inteiro, louca para encontrá-lo de novo à noite.
Envolvê-lo em meus braços e colocar minha cabeça juntinho a ele me dá um prazer incrível e há muito tempo não passava minhas noites tão bem acompanhada.
Estou completamente apaixonada pelo travesseiro viscoelástico First Class.
Ele amolda-se à região da cabeça e pescoço sem exercer pressão e oferece maior maciez e muito mais conforto para um sono tranquilo.
Diz ainda a propaganda que o material foi desenvolvido pela Nasa.
Não sei se foi ou não, mas que esse travesseiro tem me deixado meus sonhos nas alturas, isso tem.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Engraçadinha

Na despedida o amigo brada:
- Você não pode ir embora, Ana Paula.
Eu pergunto por que e a resposta vem sem cerimônia:
- Porque você é engraçada!!!!
Não que eu já não soubesse disso de alguma forma, mas me causou certa surpresa. Ainda tive certa presença de espírito de fazer piadinha idiota:
- Você vai me pagar couvert artístico se eu ficar? Não? Então vou embora mesmo...

Agora, vamos às reflexões - algumas doses de ‘mojito’ ajudam no processo:
A vida inteira ouvi que eu sou engraçada. Desde criança. Na escola. No trabalho. Faculdade. Grupo social. Família. Amigos. Amores. Todos riem comigo. Mas eu não sei se gosto disso. Sim eu tenho humor. Sou boba, de pai e mãe. Lá em casa sempre se teve por hábito fazer piada da gente mesmo, nunca nos levamos a sério demais. Acredito no humor e no riso como uma forma de impor uma visão crítica à vida e aos seus acontecimentos. Desde os mais banais, até os mais contundentes. Mas agora, não sei bem o motivo, causou desconforto. Me vejo ‘encucada’ com o comentário do amigo. Sei lá, queria ser agradável, inteligente, charmosa, boa companhia, qualquer coisa, menos ‘engraçada’.

Deve ser a idade...

Quando mais nova, ainda estudante de teatro e jornalismo, precisei fazer um trabalho sobre o riso e a comédia na história da dramaturgia. Foi quando tive um encontro inesquecível com o “ Tratado do riso”, escrito pelo filósofo e pensador de Laurent Joubert , no século XVI. O livro era difícil de encontrar, apenas na rica biblioteca da UniRio, na Urca, encontrei nem bem um exemplar, mas uma cópia autorizada. Passei bons momentos coma publicação. Acabei fazendo um trabalho que me valeu um 10 e ainda foi lido pela professora de Teoria do Teatro em uma turma mais adiantada da faculdade de artes cênicas da UniRio.

Não me lembro de muita coisa, mas recordo-me perfeitamente da comparação feita pelo autor entre a motivação do choro e a do riso. Ele defende que ambos têm a mesma origem, apenas são desencadeadas de forma diferente. Ambas são explosões incontroláveis e causadoras de alívio, indispensáveis no objetivo fim da dramaturgia: a catarse.

Trazendo para minha vida atual, me parece que a ‘bipolaridade’ das emoções causadoras do riso e do choro fazem sentido. Eu não sei por que me acham engraçada, se às vezes eu me acho
triste como um fado caprichado de solos de guitarra portuguesa...

Bateu uma melancolia e estou torcendo que seja apenas pelo alto volume de álcool em circulação no momento em meu sistema sangüíneo...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Inevitável Machado de Assis


2008. Centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, o maior escritor brasileiro. Na minha opinião e na de muitos - bem mais nobres e validados que eu.


Costumo refletir sobre quais seriam os critérios para definir um grande escritor, ou uma obra literária genial. Como uma apreciadora da leitura em qualquer circunstância, acabei criando uma teoria, que nada traz de edificante à humanidade, mas funciona para mim como um indicador de qualidade. Trata-se da capacidade de descrever uma situação, coisa ou pessoa com precisão. Precisão a ponto de surpreender. Precisão que leva à reflexão. Precisão que faz emocionar de tão real, de tão bem traduzida em palavras o amorfo dos sentimentos.


Afinal, parafraseando Nelson Rodrigues "Só os profetas enxergam o óbvio".


Um livro, para mim, só é excelente quando prima, página após página, por trechos marcantes, inesquecíveis, daqueles que fazem a gente ter vontade de sublinhar (sim, eu sublinho livros).


Fiz todo este preâmbulo não apenas porque Machado é o autor de "Dom Casmurro" e esse foi um dos dez mais da minha vida. Nem pelo fato de Capitu ser um dos pesonagens femininos mais fortes da literatura nacional. Não. O que me fez chegar em casa em um dia de folga, abrir o computador e colocar o teclado para funcionar, foi ter ido ver a exposição "Machado no lugar", em cartaz até o dia 20 de dezembro, na Estação de Metrô do Largo da Carioca, Centro do Rio de Janeiro. O horário da exposição é de 9:30 às 21:30 e não se paga nada para entrar.


Poderia ser uma exposição como outra qualquer, não fosse a genialidade de Machado e a sensibilidade de quem a concebeu. Os textos de Jô Galazi, aliados à criatividade do design de Ricardo Gomes, unem-se em a harmonia perfeita, difícil de se ver em outras realizações. A arrumação é simples. Esse é talvez o maior mérito: como filosofou Leonardo DaVinci "A simplicidade é a sofisticação máxima"


E é pela simplicidade que a viagem pelo rico universo machadiano conquista o visitante. A exposição "Machado no lugar" não é só bonita. Ela traz movimento a quem a visita. Impossível não sair de lá sem sentir vontade de ler toda a obra de Machado Assis. E só por isso, como disse minha mãe, mestre em Literatura Brasileira e que me acompanhou na visita, "Só por despertar nas pessoas a vontade de ler, e a vontade de ler Machado, a exposição já vai além de seu papel. Além de engrandecimento cultural, presta praticamente um serviço à sociedade".


A minha teoria sobre genialidade se encaixa perfeitamente no caso da exposição: precisa.

E por ser precisa, é também inesquecível.


Vá até a estação mais próxima, pegue o metrô, salte na Carioca e dê lugar na sua vida para Machado de Assis.

Lê-lo será inevitável depois de "Machado no lugar"