domingo, 20 de setembro de 2009

Sergio me trouxe de volta


Depois de longa ausência, só alguém muito especial para me inspirar.Ele era um carioca típico, embora fosse antes de qualquer coisa um cidadão do mundo. Bonito, sorriso perfeito, espontâneo, carismático. Adorava entrar no mar do Arpoador. Depois de tantas voltas ao mundo, era naquele pedaço do Oceano Atlântico o local no qual, em suas próprias palavras, recuperava suas energias.
Dedicou-se às causas humanitárias a ponto de galgar o mais alto escalão de executivo internacional na Organização das Nações Unidas (ONU). Governou (sim, governou) o Timor-Leste tão logo o país tornou-se independente da Indonésia. Embora tivesse recebido para esta função autoridade máxima, conseguiu conduzir de forma democrática a transição para um governo genuinamente timonês. Nas ruas daquela ponta de ilha asiática, era saudado como uma celebridade.
Não era um homem de família. Casou-se uma única vez , mas não teve tempo de acompanhar o crescimento de dois filhos. Era, sim, de namorar e se apaixonar ao longo de tantas missões diplomáticas ao redor do mundo. E não estamos falando de morar na Piazza Navuona ou participar das recepções em salões parisienses. Estamos falando de missões no Camboja, de negociações com líderes do sanguinário Khmer Vermelho. Estamos falando de assentar refugiados de guerra na Somália .
Estamos falando de Sergio Vieira de Mello, o alto comissário da ONU morto em agosto de 2003, em consequência de um atentado terrorista na sede da organização no Iraque. Ontem foi apresentado, à imprensa e convidados, o documentário SERGIO, UM BRASILEIRO NO MUNDO, de Greg Barker. Estados Unidos, 2009. 94min.
Na telona, a trajetória do diplomata brasileiro. Estará em cartaz no Festival de Cinema do Rio na mostra “O Brasil do Outro”, com documentário de estrangeiros sobre o país ou sobre algum brasileiro.
Imperdível. Não somente porque dá orgulho ver gente como Condoleza Ricce, Tony Blair e até George W. Bush falando bem do compatriota . Mas principalmente pelo nó na garganta que dá a estupidez do episódio.
Seja pela falta de estrutura – e até por uma certa má vontade das tropas americanas – para socorrer as vítimas do atentado. Seja pela inacreditável forma como se chega à morte do mais alto executivo da ONU no Iraque. Foram três horas de tentativa de resgate. Dói saber que Sergio chegou a ser encontrado vivo embaixo dos escombros. Mas a dificuldade de tirá-lo de lá falou mais alto.
E o mais importante: é uma delícia ser apresentado ao Sergio. Um homem bacana, que pode ter lá tido seus problemas com a mulher, ter sido meio omisso com os filhos, mas no fim das contas, fica o questionamento: é possível conciliar causas humanitárias de dimensão universal com a pacata vidinha de pai de família? A omissão de um lado justifica a dedicação ao outro?
Sem juízos de valor, dá para até verter umas lágrimas ao escutar a última namorada e companheira de jornada no ativismo social, Carolina Larriera. A moça ficou conhecida pelas imagens que rodaram o mundo, tentando entrar nos escombros da sede da ONU, já em ruínas. A argentina está lá, falando de um Sergio que nós não tivemos a oportunidade de conhecer, mas que dava para ter uma ideia, olhando para aquele sorriso e jeito de ser tão cariocas