segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Para não dizer que eu não falei do Natal

Adoro rituais. Acredito piamente nas convenções sociais como forma de nos fazer perceber que somos parte do mundo. Ao meu ver, alguns protocolos nos fazem sentir mais humanos e integrados, numa espécie de conceito tribal. Por isso sempre gostei de Natal. Dos pedidos feitos ao Papai Noel quando se é criança, até as reuniões com toda a família – oportunidade para ver os primos e tios pelo menos uma vez no ano – passando pela inevitável degustação das mais calóricas iguarias, tudo, absolutamente tudo sempre foi uma curtição para mim.

Existe, porém, uma parte deste ritual da qual tenho verdadeira aversão. Trata-se da febre consumista e da obrigação de decorar a casa com motivos natalinos que nada lembram nosso clima tropical. Este ano, não sei bem explicar o porquê, estive um pouco mais ligada nestas questões. Talvez pela maré de pouca grana que eu e alguns amigos próximos estejam enfrentando, talvez pela falta de tempo em função do excesso de trabalho no último semestre do ano, enfim, me deparei com diversos questionamentos a respeito do sentido de algumas convenções típicas da época.

O curioso é que o inconsciente coletivo é implacável. Basta prestar atenção e a gente percebe não estar sozinho na empreitada. Um amigo português, que vive em Londres, criou um blog chamado Natal,Esse Dia 25 só para debater o sentido do Natal na vida das pessoas. Já uma outra amiga blogueira, responsável pelo belo e inteligente De Olho no Reino Unido, me abriu os olhos para a importância de decorações natalinas exageradas nos países de clima frio, onde o Natal cai em uma época cujos termômetros já registram temperaturas abaixo de zero e a luz do dia vai embora no início da tarde. Nesses lugares é até necessário o carnaval de cores e luzes. Tudo para causar uma sensação de alegria em meio a um clima soturno.

Hoje também apareceu no programa de TV Manhattan Conection uma alusão ao documentário "O que Jesus compraria". Trata-se de um filme americano, ao meu ver de gosto duvidoso, mas que de quaquer forma manda goela abaixo um reflexão sobre a essência da data, muitas vezes esquecida nos xingamentos das filas do estacionamento dos shoppings.

Diante de tanto estímulo à reflexão, não resisti a algumas elucubrações: 1) O Rio de Janeiro é exuberante por natureza. As decorações simulando neve, com bonecos de cachecol e afins são uma grande papagaida e não combinam com a cidade. 2) Há maneiras de presentear bem, sem precisar ir ao shopping. As lojas de rua, os artesanatos da Feira Hippie de Ipanema, os bazares com peças feitas manualmente, ou os produtos daquela amiga que costura, ou mesmo aquele bolo de cenoura que você sabe fazer tão bem, costumam ser sucesso garantido e não expõem ninguém às filas e estresse dos shoppings – nem tão pouco pesam no orçamento. 3) Árvores de Natal de material reciclável, com motivos nacionais, costumam ser lindas. Viva a criatividade nativa! 4) Doce de banana no lugar da torta de nozes e peixe no lugar do pernil caem muito bem para nosso clima tropical. Na minha família já virou tradição. 5) As crianças acreditam em papai Noel pela simples imaginação. Poupemos os pobres seres-humanos de suarem dentro de uma fantasia pesada, neste calor de 40 graus.


Não tenho a pretensão de definir o conceito mais adequado para o Natal. Apenas acredito na liberdade de criarmos novas tradições, sem deixar morrer a aura festiva e convencional imposta pela data.

No mais, é colocar o sapatinho na janela e esperar pela Noite Feliz com a qual todos sonhamos.

Um comentário:

Lavínea Fernandes disse...

Hahaha! Me senti homenageada. Obrigada.
Beijos