quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Repaginar é preciso

Banho de loja. Entrar na academia. Cortar o cabelo. Mudar de emprego. Adotar outra profissão. Sair da casa dos pais. Separação. Casamento. Reconciliação. Ter um filho. Morar em outra cidade, em outro país.
Quantas dessas decisões matam um pouco do que éramos e nos transformam em um outro do que somos.

Por tanto tempo ausente da blogosfera, retorno hoje. Retorno outra. Não por acaso, o layout foi completamente repaginado.
E para falar de mudança, falarei da morte. Menos ainda por acaso, hoje é Dia de Finados.

Este ano está especialmente doído para quem é jornalista. Tantos queridos e competentes colegas de profissão partiram para uma outra dimensão, que me faz pensar que lá em cima estão pecisando de reforço na editoria. Deve ser por conta do fim do mundo programado para o ano que vem, julgo eu.

Costumo encarar a morte com naturalidade inquietante. Inquietante especialmente para quem convive comigo. Não sei se por causa da literatura - ainda criança, li "A desistegração da morte", de Orígenes Lessa e passei a achar a morte necessária -ou se por causa da morte de um colega de turma. Ter ido ao primeiro enterro de sua vida aos 12 anos, no qual o morto tinha 14, mexe com sua visão sobe a única certeza da vida.

A aproximação precoce com a perda ajudou a encarar este fato da vida sem tabu.

Anos mais tarde, outro aprendizado. No enterro de uma morte repentina e inesperada do pai de uma amiga, ouvi da viúva "Nada podemos fazer contra a morte. Por isso devemos fazer tudo a favor da vida".

Sim. Todos os dias. A cada minuto. E nesse permanente estado de promover a vida e ser favorável a ela, não há tempo para lamentações.

Quem se foi, se pudesse voltar e nos dar um conselho, provavelmente diria: não chore pela minha ausência, viva a vida por mim! No meu limitado conhecimento, procuro homenagear os amados que se vão, vivendo cada vez melhor. Repaginando a vida, rediagramando os desejos, redesenhando as relações.

Transformarmo-nos na melhor versão de nós mesmos e doar nosso tempo a quem ou a o que realmente vale a pena, talvez seja o mais sensato a fazer para aceitarmos as despedidas.
Mas quem disse que é fácil?

2 comentários:

Luciana disse...

No budismo, a morte é apenas parte de um ciclo. O equivalente ao Finados do Brasil, é o Obon, realizado normalmente em julho ou agosto, sempre festivo. A parte do Obon mais conhecida pelos brasileiros, é o Obon-Odori, em que todos dançam alegremente, festejando a memória dos ancestrais. No Rio não sei se tem esse tipo de festividade, mas no Paraná tem em várias cidades e é muito lindo de se ver e dançar ao som de músicas alegres e ritmadas pelo taiko (tambo japonês).

La Baronnesa disse...

Todos os recomeços são pequenas mortes de pedaços de nós... Todos os recomeços são pequenos nascimentos de partes desconhecidas ou adormecidas... A vida é bela no Rio, em Paris, ou em Istambul... cabe a nós termos "olhos de ver". sua sempre amiga e fã... La Baronnesa!