sábado, 30 de agosto de 2008

Correio do Amor

Eu sou cadastrada em alguns sites de relacionamento. Para quem não sabe o que é um site de relacionamento, segue aexplicação: Trata-se de uma espécie de 'Balcão Sentimental' da era da internet, no qual homens, mulheres e demais gênereos constroem seus perfis - onde constam informações resumidas sobre personalidade, tipo físico, gostos, preferências e ainda tem lugar para botar foto - e a partir de então ficam navegando no tal site, em busca de um 'par perfeito', uma 'cara-metade', ou simplesmente uma boa companhia para um cineminha, um beijo na boca e o que mais vier...

Conheci gente bem interessante ao longo de quatro anos 'experimentando' a utilização da internet para um primeiro contato. Muitos encontros partiram rapidamente para o mundo real e , no saldo, fiz pelo menos duas belas e novas amizades, vivi uma grande paixão e ainda rolou um pedido de casamento...

Fora os inúmeros encontros fortuitos, relâmpagos, fugazes, que serviram para diversão, fizeram bem à pela e ainda por cima ajudaram nessa minha louca insistência de tentar entender a humanidade...

Nessa brincadeira, ainda acabo me divertindo com as mensagens bizarras. Escolhi algumas recebidas e vou compartilhar com vocês. Será que as abordagens abaixo conseguem conquistar alguém?????


O direto e reto: "Oi gata, será que esse homem que procura sou eu? Se quiser um homem gentil terá, mais (sic) se quiser um animal na hora de fazer sexo com muito vigor, terá também. Olha o meu perfil e as minhas fotos, acho que vai gostar, assim como gostei de vc. Beijos nessa boca linda, carnuda e apetitosa"


O enigmático: "Manga eh uma fruta gostosa?Eu gosto muito desta frutaUm dia vamos nos encontrar?Mas tudo a seu tempo.Saber ouvir é uma arte.Na verdade eu preciso calcular a nossa distância. É isto de fato vai acontecer!!!!!Acho que seus olhos são claros. Logo logo vou confirmar isto. Òtimo o lugar onde vc está!!!Havia um pássaro sobrevoando em sua foto. Amanhã vou ampliar sua foto.Peter é o nome do meu filho.Eu sou apaixonado por música.Tomei aulas até de violino.Embora vc não tenho posto fotos vê-se que vc eh fotogênica.Reencontrar pessoas tambem eh uma coisa muito interessante.E aí você tem essa facilidade?Leia atentamente, se for necessário, leia mais de uma vez. Beijos para você, os primeiros beijos são inesquecíveis"

O objetivo: "Oi, gostei de você. Eu moro no Leblon, tenho carro e sou advogado. Me liga. Meu telefone é xxxxxx"


O erudito: "Olá meu doce!!É sempre bom encontrar com pessoas bonitas, alegres e joviais, todas essas características são tecidos para a conquista da felicidade. Fazer amigos e nos rodear de pessoas nos torna mais fortes e mais autênticos e muito mais capazes de desafiar nossos próprios limites. Falando em pessoas especiais e alguém interessante, andei olhando seu perfil e você parece ser alguém muito interessante pra se conquistar. Hoje na cultura que vivemos, feita de medo e violência, é necessário que nós tenhamos pessoas de boa fé e de muita reciprocidade pra partilhar. Uma frutuosa amizade se constrói na solidez da sinceridade, com as palavras da verdade e com o respeito da admiração.Convido você a fazer parte do meu grupo de amizade pra nos conhecer melhor e quem sabe construirmos uma ponte mais estreita entre nós? Espero poder acolher você na minha vida pela porta da frente e que você nunca mais encontre a da saída."


O poeta: "Gostei muito do seu perfil e de sua foto. Estou interessado em desenvolver uma grande amizade, que de tão grande, se respeita, se busca, se deseja, se ama. Um grande caso de amor, que seja mais do que chama, que seja uma fogueira amiga que indica direção, como farol no caminho da vida, que seja uma fogueira perene, onde cada um coloque sempre um graveto, mantendo sempre acesa a nossa paixão. Quero um amor de rosto colado, de mãos dadas ao entardecer, de telefonemas inesperados, de corpos suados, de entrega e paixão, de conte comigo, de estou aqui, de muitas palavras, mesmo que em silêncio. Quero um amor assim, com o teu jeito, com teu sorriso, sem o medo do passado e despreocupado do futuro."


O analfabeto : "Gostei do seu perfiu (sic), sou separado, tenho 42 anos, sou um homem carinhoso e romantico(sic), do tipo que gosta de levantar mais sedo (sic) e levar café da manha(sic) para a esposa, mandar flores sem ter uma data especifica(sic), gosto do ser muito carinhoso e receber tb carinhos, procuro uma pessoa que queira mesmo assumir um compromisso serio(sic), de um relacionamento onde os dois teram(sic) dificuldades mais(sic) juntos e com muito dialogo(sic) saberam(sic) superar o dia a dia. Veja o meu perfiu(sic)."


O que manda a fotografia:

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Corpo

Era fim do dia no conceituado jornal onde trabalho, matéria devidamente entregue ao editor, sistema operacional da redação em pane, um clima levemente tenso no local de trabalho. Toca o celular, a amiga querida que não costuma ligar em hora de fechamento. Atendo
- A que devo a honra de sua ligação?
- Tens condição de estar às 8 horas no Teatro Municipal?
- Bem, tenho. Já entreguei a matéria...
- Tenho convite para assistir o Grupo Corpo, quer ir?
- Claaaaaaaaaaro!

A primeira vez - e até ontem única - que assisti a uma apresentação do grupo mineiro, que existe há 33 anos, foi em um festival Carlton Dance ( é, minha gente, sou do tempo em que cigarro patrocinava festival de dança...).

O ano era 1991 e eu uma idealista estudante de teatro e jornalismo, que ainda não sabia bem qual carreira seguir ou se seria possível conciliar arte com imprensa. Na Escola de Teatro Martins Pena, onde eu cursava o profissionalizante de atriz, era comum distribuírem ingressos para os alunos e funcionários. O Teatro Municipal pertence ao estado e a escola também. Na ocasião, a diretora do Teatro era muito amiga de quem dirigia a Escola.

Assim, um belo dia, a minha professora de expressão corporal, Márcia Rubin, chegou à aula com alguns ingressos para diferentes dias do tal festival patrocinado pela Souza Cruz. Tinha desde Pina Bauch até uns grupos alternativos americanos. Ela sorteou e eu fiquei com o Grupo Corpo.

Não lembro qual foi o espetáculo, nem tampouco o nome da apresentação. Só lembro da sensação de hipnose sentida com os movimentos dos bailarinos, com a superação possível do corpo humano. A síntese do grupo liderado pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras é transformar os corpos em obras de arte em movimento.

Depois de assistir ao espetáculo de ontem, posso afirmar que o Grupo Corpo só evoluiu nestes 17 anos em que estivemos afastados...





segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Mais um ouro para ele!



Ele já chegou ao mais alto lugar do pódio ao defender a seleção de basquete masculino dos Estados Unidos, na Olimpíada que terminou ontem.




Agora ele tem chance de ganhar outro ouro ao tornar-se forte candidato ao troféu "Testosterona de Ouro", disputa criada por esta blogueira para premiar a masculinidade intensa, do tipo capaz de exalar pelos poros e que anda tão em baixa por aí...(especialmente nos chororôs de alguns atletas brasileiros...)




Confesso que foi preciso garimpar muito até encontrar o candidato à altura, mas valeu a procura.




Lebron James: 2 metros e 3 centímetros de pura força, raça e beleza.


Quero uma cesta de três pontos dessa lá em casa!!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quero chorar, não tenho lágrimas

Uma vez ouvi de um amigo radicalmente capitalista: "No mundo há dois tipos de pessoas: as que choram e as que vendem lenços. Prefiro a segunda opção."

As Olimpíadas de Pequim fizeram a frase do amigo perdido no tempo vir à tona e não sair mais da minha mente. Não sei se é coincidência, não sei se sempre aconteceu e eu não reparava, não sei se o Pan de 2007 subiu à cabeça dos atletas e os fizeram achar que Pan e Olimpíada era a mesma coisa, não sei... mas ando bem cansada de tanto chororô.

Porque tanta choradeira diante do ouro derramado? Aliás, como disse um outro amigo, um pouquinho mais gaiato, "Chegou a hora dessa gente brozeada mostrar seu valor". É isso, gente. O Brasil é terra de gente bronzeada, tudo a ver coma cor das suadas medalhas trazidas para casa por nossos atletas...

Gracinhas sem graça à parte, não tenho a intenção de defender nenhuma tese sobre a postura do brasileiro diante da derrota. Mas tenho várias hipóteses. Começo pegando carona em uma frase do Tom Jobim "No Brasil sucesso é ofensa pessoal". Temos um certo medo de vencer. É mais confortável, talvez, causar peninha que inveja. Outra frase, de outro gênio: " O brasileiro tem complexo de vira-lata", cunhou Nelson Rodrigues ao defender a tese de que o futebol brasileiro, até 1958, entrava de gatinhos contra os adversários estrangeiros e acabava perdendo sempre para si mesmo.

A gente tem mesmo um pouco a mania de se escorar no "nada dá certo", "não somos bons o bastante", "não podemos arriscar". O próprio Diego Hipólito andou dizendo, depois da derrota, que nem deu o salto mais complexo dele...e mesmo assim, caiu sentado. Então, não seria melhor ter dado tudo de si? Talvez o Cesar Cielo tenha ganho por ter passado bom tempo nos Estados Unidos e agora já sabe que antes de vencer, é preciso acreditar na vitória, projetar até.

Hoje escutei de um economista, em um congresso voltado para o mercado financeiro, que a diferença entre o economista brasileiro e o americano é que o primeiro prevê sempre uma crise pior do que a instaurada, mesmo que os números digam ao contrário, enquanto o segundo sempre projeta que tudo passará rápido e voltará ao normal, mesmo que a recessão já esteja estabelecida.

Para chegar ao primeiro mundo de verdade, seja no esporte ou na economia, a gente precisa aprender a ser um pouco mais otimista, a entender nossas potencialidades sem ufanismo exagerado, mas também sem complexo de inferioridade.

Um pouco mais de equilíbrio poderia ser uma antídoto contra tanta coisa bizarra que acontece com brasileiros por aí. Lembram de 2004? Quase teve ouro para o Brasil na maratona, mas ficou no quase, por causa de um padre irlandês maluco, que invadiu a corrida e empurrou o brasileiro. Agora a vara da atleta some... E enquanto escrevo este post, lá vai o Btasil rumo a mais uma amarelada: 9 x 1 no primeiro set da final do vôlei de pria masculino, ai, ai... tomara eu pague pela língua...

Mas não é só no esporte , não: a polícia inglesa confunde um cidadão de bem com terrorista, mete três balas nas costas do cara e adivinha qual é a nacionalidade da criatura? Os amigos estão passeando por um zoólogico na Califórnia, um tigre foge da jaula, ataca um visitante...sabe de onde o 'sortudo' engolido pela fera nasceu? O avião da Spanair saía de Madri rumo As Ilhas Canárias....adivinha de onde era um dos passageiros a bordo?

Tá na hora dessa gente bronzeada parar de chorar e tomar um banho de sal grosso...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Eu te falei que tinha medo...

E não deu outra: chocolate argentino em cima da seleção (sic) olímpica de futebol masculino. Eu, você, o presidente Lula e todo o mundo sentiu raiva daquela apresentação sofrível. Mas não foi surpresa. Eu levantei a minha placa de "Já sabia, Galvão", minutos antes do apito final.

O que esperar de um time comandado (sic de novo) por Dunga???? E que se submeteu à pressão da mulambada camaronense por 90 minutos no jogo que antecedeu o de ontem?

Vou pegar carona na piada do programa CQC, da Band:

Qual é a diferença entre o Dunga da Branca de Neve e o técnico da seleção brasileira de futebol?
O primeiro não fala, o segundo não pensa.

Agora é botar fé na mulherada...

domingo, 17 de agosto de 2008

O bom da vida é prosseguir...

De repente um olhar de cumplicidade se cruza e vem à tona uma sensação estranha. Quem bate? É o amor. Não adianta bater, que eu não deixo você entrar... só as Casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar. Na verdade, a gente tem que aprender a viver o presente e pensar no futuro, sem essa estranha mania humana de criar medos por causa de experiências passadas desastrosas. Encontrada a chave do sucesso amoroso! Mas quem a coloca no cadeado? E se ao abrir estiver lá ele ou ela, em uma roupa de dormir sensual, entoando cânticos sedutores em meio a lençóis de seda chinesa? Por que eu olho pelo vitrô da porta (alguma porta hoje em dia ainda tem vitrô?), mas não consigo enfiar a bendita chave na fechadura? A amiga do blog ao lado chamou de Commitment-phobe. Olha lá só. E tem gente com a pachorra de discordar! Ai essa gente bem resolvida que pensa entender de tudo...Na teoria, ó, é uma beleza. Vai para a prática que eu quero ver...Eu quero ver você se entregar de novo, abrir a porta, entregar o controle do portão eletrônico, avisar ao porteiro que não precisa interfonar e dar a senha de acesso às mensagens do correio de voz... E o trabalhão depois? Mudar o endereço na operadora de telefone, enfrentar o call center do cartão de crédito só para informar o novo cep ... E o nome no passaporte? Mas quem , pitombas, ainda coloca o nome do outro nos documentos!!!????...Vai lá que eu quero ver...Apresentar à mãe e ser apresentado aos irmãos e aos melhores amigos. E quando a sobrinha de três anos, que nasceu te vendo em única e constante companhia, perguntar porque está só? E quem vai brincar de furar onda na praia com ela? Não dá não...É muita coisa para um compartimento que não mede mais do que 20 centímetros e fica batendo em sincronia com todo o fluxo sanguíneo de um mísero ser humano. É muita responsabilidade para o músculo involuntário que pulsa pela Marisa e mais um monte por aí...Quero ver. Vou ficar aqui, de camarote, para ver como se anda de novo na linha depois que o trem descarrilhou. Quem se atreve? Quem nunca se atreveu! Só pode! Mas até quem nunca se atreveu não tá se atrevendo mais. E aí? O que é que eu faço agora? Já tentei ir embora, mas meu coração está preso a você. Danou-se a nega do doce! Vai lá e encara. Ai, não. A água tá fria, deixa eu me aquecer mais um pouquinho...um, dois, três, um, dois, três e ... já! Já era. Começou a chover, deixa o mergulho para outro dia, né? Quem sabe faz sol...E se não fizer nunca mais? Quando o segundo sol brilhar, vai realmente realinhar as órbitas do meu planeta? E como tem gente que realinha pela segunda, terceira, quarta, quinta vez! Êta gente incansável! Com que facilidade saem de um planetinha e entram em outro, não é não? Ai que inveja! Esse deve ser outro grande segredo: não pensa não, minha filha, quem pensa muito não vive. Vai se divertir, menina! Amanhã é outro dia e a gente nem sabe se vai estar aqui nesse mundo, aproveita! Seja leve, brinque, se abra para o superficial...Finge, pelo menos, criança! Ai, mas eu quero brincar-sério. Esse negócio de simular para ver se dá é coisa para iniciados e eu sou faixa branca...O jeito é voltar para a fechadura, ficar olhando para ela até ter coragem...e quando finalmente virar a chave, entrar e , mesmo ainda titubeante, caminhar para frente, em direção a esse desconhecido com cara de primo distante com quem a gente brincou na infância, mas agora só encontra em casamento e funeral...E quando finalmente entrar, imprescindível é bater a porta atrás de si. Porque passado é bom que fique do lado de fora...

sábado, 16 de agosto de 2008

Camarões à moda do freguês



Empolgada com o desempenho de Cesar Cielo Filho na noite de sexta-feira, coloquei o relógio para despertar às sete, disposta a ver o jogo da seleção masculina de futebol, contra a República dos Camarões, pelas quartas-de-final das Olimpíadas de Pequim.




Quase me arrependi. Digo quase porque no tempo regulamentar o jogo foi uma chatice. Custava-se a crer que naquele campo encontravam-se duas seleções com uma certa tradição no esporte bretão.




De um lado um Brasil medroso, sem categoria ou toque de bola, desesprado com a marcação camaronense.




Do outro lado, uma mulambada dignna de segunda diivisão do estadual carioca. Os caras com postura de traficante de morro em filme brasileiro, tentavam ganhar no grito, na marra e na intimidação. Eu acho que vi o Rafinha fazer beicinho de choro depois de uma dividida com o Baning, camisa 2 de Camarões, que acabou sendo expulso em outro lance. O time de Camarões é formado por um monte de 'Souzas', aquele tipo de jogador que não convence nas jogadas por isso tenta intimidar o adversário na cara feia e na peitada. Sou flamenguiste e posso falar: isso me irrita profundamente.




No Brasil, ao contrário, os meninos queriam era brincar, jogar, mas me pareceram um pouco assustadinhos , sim, com os bois-da-cara-preta do outro lado. Não havia chance de um jogo bonito. E o velho fantasma da 'freguesia' brasileira contra Camarões em Olimpíadas arrastava suas correntes cada vez mais forte...




Aí chega a prorrogação e parece outro jogo. Tudo começa a funcionar, o medo desaparece, os passes saem certos e os contra-ataques acontecem com eficiência. O freguês passou a mandar no jogo e os camaronenses foram fritos em alho e óleo.




Resultado: dois gols e a classificação para a semifinal. Contra a Argentina...




( Aqui entre nós: Ai que medo! )

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Mil perdões

"Na traição, procuramos por aquilo que nos faz falta", disse a terapeuta Mira Kirshenbaum em reportagem sobre o tema na revista Criativa. (clique no link e veja na íntegra).

Todo ser humano que se relaciona deveria ler. O assunto é tabu. Mas faz parte da vida de muita gente boa...e se Nelson Rodrigues estava certo, ajoelhemos e imploremos por perdão. Ou simplesmente, perdoemos os traídos, eles não sabem o que deixaram de fazer para evitar o mal.

"A culpa da traição é sempre de quem é traído", disse o mestre do teatro nacional.


Música do dia:

Mil perdões
Chico Buarque/1983

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Meninos não choram...

Se conheceram em uma roda de purrinha. Primeira semana de aulas. Começava o primeiro ano do segundo grau. Era uma escola técnica. Da turma de quarenta, apenas sete eram meninas. Ele ficou impressionado com o jeito falante dela, ela achou divertido o jeito marrento dele.

Ele torcia pelo Flamengo, ela adorava esporte. Ela namorava um atleta, ele sonhava em cursar Educação Física. Ele organizava as olimpíadas do colégio, ela ficava triste por não haver garotas suficientes para formar times femininos. Ele era o melhor no vôleibol, ela ganhou medalha de bronze na natação. Ele ensinou para ela as regras de impedimento do futebol, ela nunca mais esqueceu.

Ela tomou seu primeiro porre com ele, ele a deixou na porta de casa. Ela fazia confidências sobre seu namoro, ele 'ficava' com todas amigas dela. Ela ensinava literatura para ele, ele explicava física e matemática para ela. Ele matava aula e a carregava para o Tivoli Park, ela o arrastava para os treinos do Flamengo, na Gávea.

Os dois íam ao Maracanãzinho ver os jogos de vôlei. Ele dizia que o Renan era feio, ela não conseguia entender o que ele via na Vera Mossa. Os pais dela o adoravam, a mãe dele a queria como nora. Ela terminou o namoro, ele só pensava nas provas finais. Ela foi fazer estágio em Santa Catarina, ele ficou no Rio.Ela se apaixonou no Vale do Itajaí, ele prestou vestibular para Engenharia Química.

Ela deixou de ser uma menina, ele se aprimorou na arte da sedução. Ela voltou ao Rio, ele a buscou na Rodoviária. Ele reclamou que ela engordara, ela passou a correr com ele na praia. Ela emagreceu, ele tocava violão nas reuniões com amigos. Ele a convidou para ir a Santa Teresa, ela nunca tinha ido lá. Ele achava o bar de chorinho a cara dela, ela reparou no sorriso dele. Ela dormiu na casa dele, ele cedeu seu quarto e foi dormir na sala.

Eles foram ao cinema. Ele chamou a atriz do filme de gostosa, ela ficou desconcertada. Ele disse:"Eu às vezes esqueço que você não é menino". Ela se virou e chorou baixinho, ele não reparou.

Eles ficaram seis anos sem se ver. Ele reapereceu de surpresa em uma festa na casa dela. Ela o chamou pelo apelido da escola, ele a chamou por seu segundo nome, no diminutivo. Ele perguntou se ela gostou da Copa de 94, ela segurou a empolgação. Ele discorreu sobre sua admiração pelo Romário, ela fingiu que nem ligava para o Camisa 11. Ele criticou o Zinho, ela dissimilou e perguntou quem era. Ele a olhou diferente, ela lhe ofereceu uma bebida.

Ele queria saber se ela ainda ía ao Maracanã, ela disse que a última vez fora com ele. Ele queria saber se ela ainda sabia reconhecer um impedimento, ela disse estar destreinada. Ele pediu para ver as fotos dos tempos de colégio, ela levou-o para seu quarto. Na sala a festa estava no segundo tempo, no quarto corriam as preliminares. Ele a chamou de gostosa, ela sorriu baixinho.

Ele foi embora, ela dormiu. Ele deixou um recado na secretária eletrônica, ela retornou dois dias depois. Ela foi fazer compras, ele estava no shopping. Ela sozinha, ele com o irmão. Ela comprara um vestido, ele procurava uma camisa branca. Ele estava nervoso, ela com saudade. Ela o achou estranho, ele suava. Ela não perguntou nada, o irmão contou que ele se casaria no próximo sábado. Ela sentiu o chão abrir, ele baixou o olhar. Ela soube que a noiva tinha o mesmo nome que o seu. Ele soube que nunca mais a veria de novo.

Ela sentiu um nó na garganta. Ele balbuciou algumas palavras.
Ela virou as costas sem dizer nada. Ele continuou de frente, sem fazer nada.
Ela desceu as escadas rolantes, ele ficou olhando.
Ele parado, ela segurando o pranto.
Ele calado, ela a pensando: 'meninos não choram, meninos não choram, meninos não choram...'

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Clarice


Começa no próximo dia 18 de agosto a exposição "Clarice Lispector – A Hora da Estrela", no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. A mostra esteve em cartaz no memorial da Língua Portuguesa em São Paulo e foi um sucesso. Confesso ter pensado em me deslocar até lá apenas para prestigiar a homenagem a uma de minhas escritoras mais queridas. Ou melhor, à escritora por quem sou apaixonada.


É. Paixão é bem diferente de admiração. Clarice Lispector , de fato, se enquadra um pouco na classificação que o senso comum costuma lhe atribuir: em alguns textos, sim, é hermética.


Mas talvez aí esteja o segredo em despertar paixões. Nem sempre gostamos do caminho da facilidade. A gente se apaixona muitas vezes, e justamente, por aquilo que não deciframos, assim, de cara. E quando não deciframos, somos devorados pela esfinge de um sentimento desconfortável e abissal, o qual denominamos 'paixão'. Clarice entendia dessas subjetividades. Uma bela frase, de sua autoria, define um pouco seu jeito de escrever e pode ajudar a quem se aventurar por Clarice pela primeira vez:


"Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"


Apaixonei-me por Clarice ainda menina. Minha mãe, uma intelectual, mestre em Literatura Brasileira, leu o conto 'Uma Galinha', numa noite, antes de dormirmos. Minha mãe sempre contava histórias para mim e meus irmãos antes de dormirmos. Podia ter tido o pior dia, ter brigado com meu pai, ter chegado tarde em casa depois de uma jornada tripla de aulas em colégios e faculdades, mas a nossa historinha noturna era sagrada.


Acho que naquela noite do conto de Clarice mamãe estava meio de saco cheio da coleção "O Mundo da Criança", ou do Monteiro Lobato, ou mesmo dos contos infantis mais corriqueiros e digeríveis. Naquela noite, começou a contar uma história que acontecera com ela: quando criança tentara defender uma galinha de estimação contra seu fatídico destino. Em vão. Ficou traumatizada ao chegar em casa da escola e vê-la já servida para o almoço. Dos sete filhos da minha avó, minha mãe orgulha-se em contar que foi a única que não comeu a galinha naquele dia, trancou-se no quarto para chorar a perda. Não sei se por trauma, até hoje minha mãe não gosta muito de frango... depois do relato pessoal, com o qual eu e meus irmãos já tínhamos nos divertido, começou a leitura do conto.


Obviamente minha mãe contava com o efeito sonífero que um conto de adulto certamente causaria. De fato, meus irmãos sucumbiram rapidamente, eu não. Fiquei impressionadíssima com toda aquela falta de sensibilidade dos adultos, terríveis matadores de galinhas queridas das crianças. Comecei meus questionamentos infantis. Ou seja, perturbei minha mãe como de praxe, pois sempre fui a mais questionadora dos três, até ser vencida pelo cansaço e dormir profundamente.


Já adolescente, folhendo a revista do "Círculo do Livro". (Bem, para quem tem menos de 30 anos, o "Círculo do Livro" era uma espécie de 'Avon' cultural. Os sócios recebiam mensalmente uma revista, que um revendedor vinha trazer em casa. Depois esse mesmo revendedor buscava a revista, devidamente preenchida com os exemplares solicitados).


Lá em casa cada um tínha o direito de escolher um livro por mês. Mas minha mãe sempre comprava muitos, especialmente os clássicos da literatura nacional e internacional, que eram infinitamente mais baratos que nas livrarias.


Voltando a Clarice. Chamou-me atenção o livro "Para não esquecer", classificado como de contos e crônicas de Clarice Lispector. Foi a minha escolha daquele mês, mas minha mãe já o tinha escolhido, o que me deu direito a escolher outro , que não me lembro qual foi. Eu era uma pirralha, de 12 ou 13 anos talvez, e minha mãe deve ter ficado com peninha de mim, achando que eu não entenderia nada...

Mas eu não sei dizer se entendi, mas posso afirmar que senti, profundamente , cada palavra - ou talvez cada entrelinha - dos textos de Clarice Lispector.


Minha paixão por Clarice aconteceu na terceira crônica do livro, que eu nunca mais esqueci e reproduzo aqui aos interessados:



Por Não Estarem Distraídos

de Clarice Lispector.


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

Como eles admiravam estarem juntos!



Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.



segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O antes e o depois

Atendendo a pedidos, publico hoje a foto de 1983, das amigas inseparáveis e populares.
Da esquerda para direita, Marta Monteverde, que botou a mão no rosto na hora da foto, seguida da Tércia Maria, depois eu e a Rosilene.
Marta: Uma pena, não conseguimos a reencontrar. A Marta era a mais doce e romântica, sempre atenciosa com todos os colegas, era de uma beleza de parar quarteirão, sem nunca deixar que isso subisse à cabeça. Tinha uma família meio complicada, vivia trocando de casa, ora morava com a avó, ora com a irmã, ora com a mãe. Mas nunca perdia a alegria de viver, nem a fé no futuro e muito menos a ternura.
Tércia: A atleta do grupo: excelente em todos os esportes, o que só reforçava seu sucesso junto aos meninos. Uma verdadeira moleca. Mesmo com a baixa estatura, arrebentava no vólei, responsável por levantamentos perfeitos e defesas precisas. No handebol era simplesmente a melhor, sem contar na ginástica desportiva. Ela detestava tirar fotos e virou a cara justo na hora do flash. Se formou em educação física e hoje é casada, mãe de 2 lindos filhos.

Rosilene:O cabelo picotado, estilo 'As Panteras' era uma das marcas da Rosilene. Seu cabelo, lindo e perfeito numa época em que nem se sonhava com a escova progressiva, estava sempre impecável, seguindo o corte da moda. Outra característica sua muito marcante era o riso frouxo, Rosilene ria de tudo e era muito linda também. Filha única, seus pais eram severos, quase não a deixavam sair, mas aos poucos foram tomando confiança e a gente viveu bons momentos na adolescência. Se formou em contabilidade, é mãe de um menino e uma menina, casada e continua a boa amiga de sempre.
Quanto a mim, apesar das inevitáveis marcas do tempo, a cara não mudou muito....acho eu.
O depois:




Acima, Tércia, Rosilene e eu em 2007. Ainda estamos em busca da Marta para completar o quadro.