sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Perplexidade


Sei que nem deveria mais chocar-me com certas coisas, mas...

Andam engasgados em minha garganta a emoção, o desconforto, a mágoa e a revolta diante de mais um ato brutal contra uma criança neste país (embora saiba que crianças sejam vítimas de violência no mundo inteiro).


A violência sexual, seguida de assassinato de uma menina de 9 anos, em Curitiba. O nome dela é Rachel Genofre e seu corpo foi encontrado no porta-malas de uma carro na Rodoviária da capital paranaense, na última quarta-feira.


Sei que correm em paralelo diversos outros casos de violência contra crianças.


Mas a morte de Rachel me tocou de forma especial.


Talvez porque tenha passado tantas vezes pela rodoviária de Curitiba, pois era onde eu fazia baldeação para pegar um ônibus para Blumenau, quando morava lá e voltava de ou ía para o Rio passar férias ou feriado. Achava a cidade bucólica e a rodoviária local era limpa, dava para sentar em um café e comer um pão na chapa e tomar um café com leite sem sentir nojo, tão diferente da rodoviária Novo Rio...


Talvez porque a menina tenha a idade da minha sobrinha mais nova e fosse até parecidinha com ela, com aquela carinha de índia...


Talvez porque eu tenha ficado deveras sensibilizada com o fato de ela voltar todo dia para casa sozinha depois da escola, tão pequenininha, com apenas nove anos...


Lembrei de mim mesma, com sete anos, voltando da escola sozinha, porque meus pais trabalhavam o dia inteiro e ficamos um tempo sem empregada e meus irmãos estudavam em horários diferentes. Lembro de ficar com medo, de sempre tentar ficar bem perto de umas senhorinhas, na intenção de fingir que estava acompanhadas delas..


Do que tinha mais medo? De seqüestro, de rapto.


Tinha pavor das histórias de homens e mulheres que roubavam crianças - e é claro que sempre havia alguma criança mais velha disposta a contar algum 'caso' apavorante , de tirar meu sono...


Eu me entristeci demais com essa morte.


As crianças deveriam ser protegidas e nada de mal deveria acontecer-lhes.

A história da Rachel é terrivel porque tem os componentes da viloência abrupta contra a ingenuidade, conra os sonhos, a violência praticada desde que o mundo é mundo. Acho que me entristeci mais porque estamos diante de fatos tão absurdos como pai matar filha, mãe espancar bebês ou abandoná-los nos lixos, namorado matar namorada, que o fato de uma criança ter sido violentada e morta por alguém que não foi nem o pai e nem a mãe causou em mim uma dor muito mais profunda.


Estou escrevendo aqui sobre isso motivada por um comentário de uma estagiária da escola onde a menina estudava. Segue:

"Quando acontece longe, você diz: 'ah, tudo bem aconteceu', todo mundo sente, mas quando é do teu lado você sente mais. Quem é mãe sabe disso"


Curiosamente estou bem longe da Rachel.

Curiosamente não sou mãe.

Curiosamente sinto mais do que senti com outros tantos casos recentes.


Não sei explicar, mas este caso está causando uma comoção mais silenciosa, mas não menos dura e dilacerante.


E sabem o que penso? Não há justiça no mundo capaz de compensar uma vida ceifada desta forma.

Um comentário:

Lavinia Fernandes disse...

Ainda bem que ainda há quem fique perplexo. Meu grande medo é que isso vire tão cotidiano que nem o jornal anuncie mais, como acontece na maioria dos casos, que a gente jamais vai saber.
Acho que hoje em dia as crianças precisam de uma proteção maior mesmo. As pessoas estão pirando (todos nós estamos).
Eu ia pra escola sozinha aos 10 anos e não tinha medo, não. Achava o máximo ser independente.
Mas hoje quando penso e vejo crianças nessa idade, vejo que é muito cedo, que podem acontecer muitas coisas nesse caminho até a escola.
É preciso que os pais acompanhem mais seus filhos, seja pessoalmente, seja com alguém de confiança. Mas não se pode trabalhar tanto e ir deixando as crianças fazerem tudo sozinhas.
Infelizmente, não mais.
Elas não podem mais andar até a quitanda da esquina pra comprar bala. Isso acabou.