sábado, 25 de outubro de 2008

Inhoaíba

Graças ao candidato adversário a Fernando Gabeira na disputa à Prefeitura do Rio de Janeiro, morrerei menos estúpida. Uma das estações de trem da Zona Oeste, um remoto lugar perdido na cidade, me foi revelado no debate de hoje à noite na Rede Globo: Inhoaíba. Acho natural não se conhecer algum lugar na cidade. Ainda mais quando não há aspiração a concorrer a nenhum cargo eletivo. Garanto que há muita gente em Inhoaíba que também não conhece a Gamboa, por exemplo, bairro no qual fica o Morro da Providência, aquele onde recentemente o exército resolveu executar três moradores. Eu conheço a Gamboa. Conheço também o Engenho Novo, onde fui criada, influenciando em muito na formação de minha vida e visão de mundo. Quando eu morava no Engenho Novo, ía muito a Campo Grande, ou melhor, a Benjamim do Monte, onde uma colega de colégio morava. Realengo era outra paragem, local de moradia de outra grande amiga. A primeira quadra de escola de samba que pisei, aos 15 anos de idade, foi na comunidade de Vila Vintém, em Padre Miguel. Estudando no Cetiqt, no Jacarezinho, frequentava a casa de amigos em Cavalcante, Senador Camará, Pechincha, Copacabana, Vila Isabel, Ipanema, Urca, Méier, Cachambi, Bangu, Tijuca, Laranjeiras, etc..etc..Cada vez que ía a um lugar novo, tinha por hábito observar. Como sempre fui de me manifestar, manifestava-me sobre cada peculiaridade que me chamava atenção. O bom e o ruim. O belo e o feio. O pitoresco e o de sempre. Hoje moro na Zona Sul. Mas tive em minha trajetória rápidas passagens por Tijuca e Recreio. Também até já morei fora do Rio. Nasci na Zona Portuária, meus primeiros seis meses passei em Nilópolis, terra do meu pai, fiz um aninho em Cascadura, transitei por São João de Meriti, de onde é minha mãe e vivi no subúrbio boa parte da minha vida. Mesmo assim, nunca tinha ouvido falar em Inhoaíba.

O adversário de Gabeira quis mostrar que conhece muito toda a cidade, especialmente a Zona Oeste, pregando uma hipocrisia que eu não via desde os tempos de Fernando Collor.

Eu não queria um prefeito hipócrita para essa cidade. Nem um demagogo, típico fingidor, aproveitador da ignorância política predominante no subúrbio, nas zonas mais pobres e nos grotões menos favorecidos. Posso falar de experiência própria: na eleição de 1989, eu fui vaiada nas ruas do Engenho Novo só por andar com minha camisa com o slogan "Sem medo de ser feliz", em favor do Lula. Para quem não lembra, a Zona Norte votou em peso no Fernando Collor de Mello. Conheço também a história de um amigo, gay, indo para boate, montado em estilo moderno, e que foi apedrejado nas ruas de Bonsucesso.

Aí, nessa altura da vida, tenho que aguentar gente me dizendo que o Gabeira não gosta de suburbano. Só porque ele falou da visão suburbana de alguém. Tá legal. Atire a primeira pedra quem nunca fez um comentário preconceituoso. Mas antes disso, olhe ao redor: será que no subúrbio as visões não têm mesmo um ângulo diferente ao da Zona Sul? Isso quer dizer que seja ruim?

Gabeira é o homem menos preconceituoso da política e sua visão do mundo é aberta, vanguarda, mil anos à frente do nosso tempo. Acontece que não podemos negar: no Rio de Janeiro as pessoas como ele migram para a Zona Sul. Por vários motivos, entre os quais, porque não querem ser vaiadas. Nem apedrejadas.

Eu quero um Rio menos dividido. Quero um Rio com pessoas como Gabeira, como eu, como vários amigos que sabem transitar por todos os meios com respeito, admiração e também visão crítica, por que não? Quero uma Zona Sul que não torça o nariz para a farofa da praia e também um subúrbio que respeite o gay, o moderno, o que pensa diferente.

Abaixo a hipocrisia. Por um Rio mais feliz, mais inteligente, menos macomunado com forças politiqueiras.

Vote consciente no dia 26 de outubro e dê de presente um prefeito à altura da Cidade Maravilhosa.

4 comentários:

@NelsonGurgel disse...

Vote consciente, Ana Paula pra presidente! Vou te falar. Nao sou Carioca mas adoraria ver o Gabeira prefeito do Rio.

Lavinia Fernandes disse...

Considero Gabeira um homem do mundo.
O Paes faz questão de falar de coisas mais próximas, pequenas, estatísticas, que é pra dar a impressão de que está mais próximo do "povo".
Entre a imagem fabricada do almofadinha e o homem culto que admite que não sabe de tudo mas não é nada bobo, não tenho dúvidas de que fico com o último.
Tomara que a maioria concorde com a gente, né?
Amanhã é o dia!!

felipebasto disse...

Oi! E eu que pensava que tinha rodado bem pela cidade. Mas, vc ganhou. Vc morou onde no Engenho, onde? Antes de vir para Barra Mansa, eu morava lá, na R.Grão-Pará. Tempão que não olhava o teu blog. BJs, Theo.

Unknown disse...
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