terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Em busca do tempo perdido

Mais uma vez citarei um de meus autores favoritos. José Saramago fez, ao meu ver, uma das melhores definições sobre o tempo. Em uma das passagens do livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo", Saramago escreveu:

"O tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó. O tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer mover e aproximar."

A memória é prodigiosa neste quesito. Por um lado afasta as recordações impertinentes. Apaga o passado inóspito. Por outro lado, é capaz de aproximar as doces recordações. Materializar algumas sensações através de um cheiro, um sabor, uma foto antiga ou uma música.

Ainda não li o clássico "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust. Faz parte da lista de livros atrasados, dos quais pretendo dar conta até o fim da minha existência. Mas o ofício de jornalista também nos agracia com belos momentos. Ao fim de uma entrevista feita com o também adorado escritor Fernando Sabino, na casa dele, em 1990, Sabino me contou diversas passagens contidas nos sete volumes do romance.

Entre as histórias narradas ficou em minha mente as descrições das sensações trazidas justamente pelos aromas e sabores, impregnados em nossa memória afetiva ao longo da vida. Os sons também, parece, foram lembrados por Proust na viagem da mente em busca das mais doces recordações.

"O tempo passa, tudo passa, e no peito o amor permanece", acabou de cantar Roberto Carlos, no especial de Natal da TV, ligada ao fundo.

Vivo, no momento, um mix de sensações estranhas. Tudo por causa do resgate de uma pessoa querida, perdida no tempo. Descobri que sempre o carreguei em meu coração. E, em quase 20 anos de afastamento, descobria, nas pequenas coisas, o quanto ainda o trazia como referência. Questionadora que sou, é claro que me pergunto se minha vida foi assim tão pobre durante estes anos, a ponto de ter reminiscências com alguém tão afastado de mim.

Não, minha vida é rica em experiências. Tenho ao meu entorno amigos de longa data e amigos novos. Minha família é exemplar. Vivi amores intensos. Viajei para os lugares mais sonhados. Realizei outros muitos sonhos. Aproveitei os momentos de prosperidade para desfrutar e os de escassez para aprender. Trabalho com o que gosto, na profissão escolhida. Tenho o básico para viver e o essencial para continuar em busca das aspirações mais sofisticadas.

Porque a saudade e as lembranças de alguém, conseguem, então, ser tão fortes?

Não há explicação. Objetiva ao menos. Há pessoas especiais que passam por nossas vidas e deixam suas marcas. Quando, por ventura, o reencontro nos acena com a possibilidade de que estas mesmas pessoas não mudaram na essência e , pelo contrário, continuam ainda mais especiais com a maturidade, aí não tem jeito. É correr para o abraço.

Confesso estar entregue a sensações proustianas no momento.

2 comentários:

Juliana Ennes disse...

pauuuuuuul,
não dá pra dizer q é difícil te entender... mesmo não tendo mtas memórias de 20 anos atrás, dá pra saber q sensação é esta.

sentimentalismos de lado, preciso exercer a função q tb foi escolhida por mim e perguntar: a memória tem nome??? presente tb?? e futuro, q nome tem??? rs

Alberto Correia disse...

Paula!! Que texto eh esse??!! Maravilhoso!! Que momento bonito esse o seu...Saudades mil! Bjos