quinta-feira, 8 de maio de 2008

Fragmentos de um dia de outono

O outono é a estação preferida dos cariocas. Muita gente pensa ser o verão. Engano. O carioca gosta de sol e não necessariamente do calor de 40 graus à sombra. No outono a luminosidade é mais intensa e o carioca legítimo adora aproveitar a temperataura mais amena para encher as diversas opções de lazer ao ar livre. Para culminar a felicidade, à noite dorme-se coberto, sem precisar ligar o ar condicionado. Como já cantou Ed Mota: "existe um lugar para ser feliz, além de abril em Paris: outono, outono, no Rio"

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"Ele é conservador demais para um historiador", disse o vendedor da Livraria da Travessa, localizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ao colega. Eu folheava um livro e escutava: "E a mania de dar beijo na testa? Tem coisa mais antiga? E o alianção dourado ocupando quase metade do dedo? Ele não é velho, mas tem todas as atitudes de velho". Acho engraçado o comentário. Mas o curioso foi perceber que para o jovem vendedor, com cara de estudante de teatro, conservadorismo não combina com a profissão de historiador. Gostei disso. Olhar a história como uma ciência moderna e dinâmica, que exige contemporaneidade de quem a estuda, é um bom sinal.

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"Instantâneos da felicidade" é o nome da exposição de fotos que mostra, como o próprio nome já diz, instantes felizes da vida quotidiana e de algumas celebridades. Esta exposição esteve até janeiro no CCBB, agora está compilada em livro. Um delícia. Saí da livraria com o olhar doutrinado a ver só as boas coisas ao redor. Impressionante como funciona. Vi freiras cortando cabelos de mendigos na rua. Vi um jovem, dando um pausa na pressa de office-boy, para ajudar uma senhora a subir no meio-fio alto da calçada; vi um carro parando no sinal verde, antes da faixa de pedestres, porque havia um congestionamento na frente, vi a uma obra de reconstrução de um casarão abandonado na Gamboa. Instantes de felicidade são boa fonte de renovação do otmismo.

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E por falar em leitura, vai a dica: "Clarice Fotobiografia", autoria de Nadia Batella Gotlib, da editora Imprensa Oficial do estado de São Paulo . Belo, cheio de imagens e documentos. Páginas pontuadas pelas frases de efeito da escritora Clarice Lispector. Fragmentos da vida de alguém que encarou com profundidade cada momento de sua existência. Abra o livro e apaixone-se.

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Apaixone-se também por "Lisboa, o que o turista deve ver". Aparentemente, apenas o título de mais um livros destinado a dar referências aos viajantes. O diferencial? O autor. Ninguém mais, ninguém menos que Fernando Pessoa. Boa viagem!

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O Flamengo amargou uma derrota inacreditável no Maracanã ontem. Os torcedores dos outros times cariocas estão fazendo muita festa. Provavelmente maior do que aquela que rola agora no México. É a velha máxima de sentir prazer com o do alheio... acho até saudável e me divirto. Afinal, curtição com a cara dos perdedores faz parte dos rituais da tribo "Apaixonados por futebol".
Rivalidades à parte, o que aconteceu ontem no Maraca foi a típica quebra do salto alto. Nem tanto pela postura dos jogadores, que jogaram mal, mas correram. Talvez mais pelo inconsciente coletivo mesmo. Ninguém esperava que o outro time mexicano fosse capaz de fazer três gols de vantagem em cima do atual campeão carioca e aí a inércia tomou conta. No último jogo comandado por Joel Santana, o discurso do vestiário foi esquecido em campo. Todos esqueceram que, enquanto acreditavam na total impossibilidade de eliminação, o adversário só contava em ganhar.
O mesmo Flamengo de ontem já virou vantagens históricas em outras rodadas, simplesmente adotando a postura que o Americano do México adotou: não entrar derrotado. O problema nem foi os rubro-negros terem entrado em campo vitoriosos. O problema foi terem entrado em campo acreditando que não iriam perder de 3 x 0. Ou seja, perder tudo bem, já que a derrota classificaria o time para as quartas-de-final da taça continental. O que o time da casa não esperava é que, do outro lado do campo, existisse uma equipe a fim de estourar o placar permitido para a classificação do Flamengo.
Vale a lição: nunca na vida ninguém ganhou nada de véspera. E nem perdeu.
Vida que segue.
Pelo menos eu continuo campeã carioca de 2008, apesar de botafoguenses, vascaínos e tricolores terem se unido em uníssono para curtir com a eliminação da Libertadores.
Esse meu time é tão importante, mas tão importante, que ninguém consegue ficar indiferente, nem mesmo quando nossa derrota nada diz respeito às demais torcidas regionais.

2 comentários:

@NelsonGurgel disse...

E haja fragmentos! Vc jah leu a Historia de Lisboa escrita por Dejanirah Couto? Se nao leu, leia. Voce vai entender porque chamamos autocarro de onibus, entre outras....

Unknown disse...

Engraçado ler seu comentário sobre o outono, porque hoje mandei uma msg para um amigo, queria compartilhar, mesmo a distância, a beleza do dia e tasquei: "ah, estes dias de outono..." rs. É uma benção estar vivo nestes doces dias de outono...