quinta-feira, 1 de maio de 2008

Os Baias

O mundo corporativo é praticamente um Universo Pararelo.

Trabalho em empresas desde os 17 anos. Empresas são organizações compostas por pessoas oriundas das mais diversas formações, com valores pessoais completamente díspares, com graus de educação desnivelados e, geralmente, interessadas em qualquer coisa diferente de um objetivo em comum. Caos administrativo costuma permear as estruturas empresariais, que acabam sobrevivendo em função de alguma força cósmica protetora do capitalismo...

O mundo gira, a lusitana roda, mas nada muda muito quando o assunto é a convivência no ambiente de trabalho. Mesmo sendo você um daqueles afortunados, funcionário daquela empresa que concede os melhores benefícios, que prima pela gestão participativa, que implementou sistema de avaliação por competência e que premia por resultados, em algum momento, nem que seja em uma fração de um único dia do ano, haverá um motivo para deixá-lo insatisfeito e, por conseqüência , levá-lo a reclamar.

Em homenagem ao Dia do Trabalho, inicio hoje a mini-série "Os Baias", destinada a contar histórias pitorescas vividas pela autora do blog ao longo de 21 anos de trabalhos (es) forçados...

É lógico que o título é uma alusão à obra do mestre Eça de Queirós, "Os Maias", divinamente adaptada para a TV pelas mãos de Maria Adelaide Amaral. Baia, para quem desconhece, é uma espécie de divisória, que separa os funcionários uns dos outros, demarcando o pequeno território de cada um. O sistema de baias é a estrutura arquitetônica mais utilizada dentro das organizações atualmente

"Os Baias" provavelmente nunca alcançará o status de obra-prima, mas é uma tentativa de contar aos amigos autônomos que Salvador Dali é fichinha perto de algumas situações que acontecem no dia-a-dia das ditas "empresas".

Do descaso completo pelo funcionário, até aperseguição por questões pessoais, já vi de tudo. Quer dizer, só não vi ainda assassinato, mas já soube de casos. Sem contar as agressões físicas e verbais.

Em uma multinacional que trabalhei, por exemplo, uma vez a secretária, conhecida pelo apelido de pit bull, tentou me expulsar aos gritos de uma sala, me empurrando - literalmente - pela porta a fora. Tive que usar a força para manter a porta aberta e precisei gritar para dizer que estava ali porque o diretor (chefe dela) ligara para a minha sala - que ficava ao lado da sala de reunião sob a guarda da 'pit bull' - justamente para pedir que eu fizesse o favor de informá-la que ele não estava conseguindo ligar de Nova York para o ramal de onde ela estava, o que poderia atrasar a reunião por teleconferência. Depois, com os ânimos menos acirrados, a tal secretária entrou na minha sala chorando e pedindo desculpas, justificando que não fazia sexo há mais de um ano e por isso andava nervosa. Isso tudo na presença do meu estagiário, que teve que se levantar para não soltar uma gargalhada na frente da figura.

Atualmente, estou passando por mais uma situação surreal na minha vida de labuta. Tudo por causa de um maldito sanduíche, comprado em uma daquelas máquinas de snacks que as empresas disponibilizam aos seus funcionários, para que eles paguem para serem mal-alimentados. Com a fome que estava, comi o sanduíche e só depois percebi que a validade estava vencida. Nem me preocupei, porque era apenas de um dia. Mas no dia seguinte, eis que passo mal. Nem lembrei do raio do sanduíche. Em tempos de epidemia de dengue, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi a doença transmitida pelo Aedes Aegypti. Mas o resultado do exame descartou a possibilidade, então, a médica fez uma anamnese e perguntou se por acaso eu não teria comido alguma coisa passível de afetar meu organismo. Lembrei do caso da validade vencida e ela confirmou que provavelmente poderia ser o caso. Reclamei com a empresa fornecedora do alimento antes de passar mal, no próprio dia em que comprei, a fim de sinalizar o problema e evitar novos casos. Mas aí começou meu inferno.

Não bastassem os funcionários da tal empresa não pararem de me ligar, de dizerem coisas do tipo 'isso nunca aconteceu antes', agora a área de recursos humanos da própria empresa para qual eu trabalho resolveu entrar em cena. Não para me defender, é óbvio. Pelo contrário. Pelo andar da carruagem, devo ter cometido um crime inafiançável ao reclamar sobre o caso.

A situação surreal culminou quando, ontem, fui 'convocada' pelo gerente de Recursos Humanos para 'prestar esclarecimentos' sobre o 'problema' do sanduíche com validade vencida. Em nítida postura de desconfiança, a 'autoridade' administrativa tentou me convencer de que só estava me chamando ali por que 'ele se interessa por tudo que acontece com os funcionários da empresa'. Fui obrigada a responder que não acreditava nisso. Embasei minha resposta na experiência que eu tenho com o tal RH. Dentre diversos casos relatados, um foi sobre um e-mail, enviado por mim ao próprio gerente, para pedir explicações sobre o motivo de meu dinheiro de férias não ter sido depositado na data que manda a lei. Como nunca recebi resposta e a situação foi resolvida por interferência do meu chefe, disse-lhe que tinha meus motivos para estranhar tamanho interesse pelo caso em questão.

Deixei o homem sem jeito. Não só por essa resposta, mas todas as outras que não vêm ao caso citar, para não estender ainda mais. Fiz questão de deixar claro que eu estava me sentindo acuada, tendo que dar explicações a uma pessoa hierarquicamente superior a mim, dentro de sua sala, a respeito de um fato do qual fui vítima.

Não sei não, mas só me resta agora aguardar o pedido da 'minha cabeça', outra modalidade muito comum na iniciativa privada...

Bem, se você também é 'baia', não fique aí parado! Conte suas histórias surreais e concorra a uma navegação ao site da Google, a melhor empresa para se trabalhar no mundo. As giletes para você cortar os pulsos vêm junto com o link para enviar o currículo.

E viva o dia do trabalhador!!!

2 comentários:

No meu caminho tem... disse...

aninha minha flor e blogueira PREFERIDA!!olha , eu ja fui quase parar nba corte inglesa por causa disso, nao fui fundo pq ia dar uma dor de cabeca gde, pelo menos ia ganhar uma grana!! mas no final achamos q nao queriamos essa dor de cabeca e so respeito, q alias eh me concedido diariamnete pela nazista da minha chefe. Sou Darling e sweet heart every day...

boa sorte!!
saudades
odila

Antonio Santo disse...

Ihh também tenho umas histórias, inclusive uma ocorrida em uma baia, hahaha. Envolveu minha pessoa e um renomado médico, que abusou um pouco do "você sabe com quem está falando?". E ao final pensei que "minha cabeça fosse rolar", mas recebi somente um pedido delicado de maior paciência com os clientes um tanto abusados, hehehe. Beijos.