segunda-feira, 12 de maio de 2008

A vida é bela, só me resta escrever

Neste momento pelo menos 900 crianças chinesas encontram-se soterradas, embaixo dos escombros da escola onde estudavam, que foi ao chão em função do pior terremoto na história da China. No Líbano, os números oficiais de mortos, no combate contra o Hezbolah, já ultrapassa os 60. E por aí vai...

Não deve demorar muito para alguma outra embarcação afundar no Rio Amazonas, ou algum pai austríaco resolver criar uma filha em cativeiro e ter sete filhos com ela, ou outro resolver compactuar com o assassinato de sua filha pela mulher ensandecida...

Costumo refletir profundamente sobre minha vida quando me deparo com fatalidades de dimensões incomensuráveis. Por vezes, chego a me perguntar o porquê de ter escolhido a profissão de jornalista, ofício que exige controle das emoções, um certo grau de frieza e uma cara de paisagem diante dos fatos mais absurdos encarados por nossos olhos.

Meus neurônios são pouco adestrados e continuo a sentir as dores do mundo.

Gostaria de um antídoto, mas como não tenho, insisto no otimismo. E lá vem de novo uma das referências cinematográficas à tona. O filme não é nenhuma obra prima 'Good Moornig, Vietnã', estrelado por Robin Williams. Conta a história de um radialista em pleno front de batalha americana no país asiático, famoso por ter derrotado as poderosas forças armadas dos EUA. Bem, em um determinado momento do filme, a voz de Louis Amstrong cantando "What a Wonderfull World" enche a tela pontuada de imagens do conflito. Bombas, gente sendo assassinada, crianças com medo, seres humanos em desordem.

É piegas, confesso. Mas atire a primeira pedra quem nunca curtiu uma pieguisse ao menos uma vez na vida.

Tudo isso apenas para falar da constatação de que o fato de ter descoberto um nódulo da tireóide, de ser a repórter mais mal paga do jornal onde trabalho, de o homem que eu amo ter decidido abrir mão de mim, de estar em vias de ter que entregar o apartamento onde eu moro, de não conseguir mais entrar nas minhas roupas preferidas, de nunca mais ter conseguido comprar um carro desde que vendi o meu, de o flamengo ter sido eliminado da Libertadores e o Figo sequer saber que eu existo, são apenas bobagens diante das tragédias contemporâneas.

Descobri, então, que a consciência da grandeza do mundo é o verdadeiro antídoto, mas não contra a capacidade de nos pasmarmos diante do absurdo, e sim contra o hábito de cultivar a autopiedade e de dar tanta importância ao nosso próprio umbigo...

Um comentário:

Anônimo disse...

não fala inspiração! :-)
Beijo, amiga linda!
Sofia