quinta-feira, 17 de abril de 2008

Dos filmes, os piores

A crônica de hoje da Cora Rónai no jornal O Globo me agradou muito. Já gosto e acompanho seus textos não é de hoje, mas Cora tem uma sensibilidade muito peculiar para tratar determinados assuntos. É o caso da lista dos dez piores filmes de sua vida. Desde a semana passada Cora já prenunciava o quanto seria difícil fazê-lo, em função da tendência preservacionista que os cinéfilos têm de tentar esquecer o que de ruim passa pelas telonas da vida.

Bem, o grande barato do texto da cronista sobre o tema é a forma como é tratado. Cora não teve a pretensão de usar seus conhecimentos ou experiência de anos à frente do jornalismo cultural e tecnológico para justificar suas escolhas. Os dez piores filmes listados por ela obedecem a critérios pessoais, justificados pelas sensações que causaram a ela quando assistidos. Como trata-se de uma mulher inteligente e com um bom lastro cultural, é claro que suas análises são muito bem embasadas.

Cora nunca vai saber, mas sua crônica foi redentora para mim. Também aprecio muito cinema, mas não sou de tietar este ou aquele diretor(com exceção do Woody Allen, mas ele não é diretor, é Deus, não é?). Geralmente não guardo o nome dos atores e há filmes dos quais também esqueço o nome. Porém tenho meu gosto. Assisto a algumas porcarias aclamadas pela intelectualidade que me remetem à história da Roupa Nova do Rei. Ou seja, parece que é obrigatório gostar de filmes de David Lynch ou Akira Kurosawa. Se, como na historinha de Hans Cristian Andersen, alguém grita "o rei está nu", vêm logo os olhares do tipo 'coitada, ela não sabe o que diz'.

Gostei da brincadeira e resolvi fazer minha lista também. Diferente de Cora, fui obrigada a incluir um filme brasileiro, único que me fez sair do cinema...e olha que eu era apenas uma adolescente quando fui assistir. Segue a relação dos 10 piores da minha vida:


1) Garota Dourada. Quem dirigiu foi o Antonio Calmon, este mesmo das novelas com surf, sol e homens de dorso nu do horário das 19 horas. O filme , de 1984, é a continuação do sucesso "Menino do Rio", no qual se fala bobagens, os atores estão horrorosos e eu saí do cinema, com apenas 14 anos, sem ver o final.

2) 2046. Podem me jogar pedras. O festejado diretor Wong Kar Wai não me disse nada nesta continuação do belo, mas também não lá essas coisas, "Amor à flor da pele".

3) Dançando no Escuro. Este quase me fez ter que entregar a carteirinha de cinéfila. Quando falo que não gosto, os amigos mais sensíveis - e mais inteligentes, é claro - arregalam os olhos. Odiei o ganhador da Palma de Ouro de Cannes de 2000. Cada vez que a islandeza Bjork abria a boca para cantar, então, eu me contorcia na poltrona. Filme depressivo, cujo roteiro baseia-se em contar a história da vida de uma mulher que só sofre, porque é muito boa para este mundo. No meu entendimento, ela sofre porque é muito idiota para este mundo.

4) Spider. O filme é de 2002, dirigido pelo também festejado David Cronenberg e ainda conta com os talentos de Ralph Fiennes e Miranda Richardson no elenco. E daí? Daí que não consegui entender até hoje. Me deu sono, enfim, não embarquei na viagem sobre a esquizofrenia proposta pelo filme. Meus amigos (aqueles mais inteligentes que eu) adoram.

5) Subway. Ah! esse é inesquecível. De 1985, direção de Luc Besson, só passou aqui no Brasil em 1988 e lá fui eu, jovem estudante de jornalismo, metida a intelectual, saindo do subúrbio do Engenho Novo para ir até Botafogo, no Cineclube, assistir à obra-prima. Dormi profundamente neste drama que começa com perseguições nas ruas de Paris e depois fica claustrofóbico. Lembro-me que, na época, um dos apelos para assitir ao filme era ver Cristopher Lambert, por quem eu tinha me apaixonado ao ver Highlander, o guerreiro imortal. Lambert, em Subway, estava com um visual para lá de Billy Idol (ou Supla, que dá no mesmo) e não me agradou nem um pouqinho...

6) Morangos Silvestres. Nunca falem de Ingmar Bergman perto de mim. Filme em preto e branco que também fui assistir em um desses "Festivais Bergman" que passavam nas salas do então Cineclube Estação Botafogo. Foi a segunda vez que dormi no cinema. Esta experiência fez com que eu jogasse qualquer pretensão de ser intelectual no lixo. Não entendo Bergman, logo não existo.

7) Coração Selvagem. Este me causou náuseas e até hoje tenho implicância com David Lynch. Maluquices típicas do diretor à parte, existe uma cena qem que a protagonista, Laura Dern, vomita no quarto. Até aí, vá lá. Mas precisava de cinco em cinco minutos o processo de secagem do vômito no carpete do quarto do hotel ser mostrado até virar uma mancha nojenta no tapete???? Não consigo me lembrar de mais nada do filme, exceto das ânsias que sentia ao longo da exibição. Os meus amigos, aqueles inteligentes, vão dizer que a proposta é essa , mexer com as sensações dos espectadores. Ah, tá... se é para mexer com as sensações grotescas, prefiro "Debi & Lóide".

8) O Cheiro da Papaya Verde. Filme do vietnamita Anh Hung Tran, badaladíssimo na ocasião de seu lançamento, 1993, parece filme francês da pior qualidade. Planos longuíssimos, excesso de pretensão e sono, muito sono.

9) Maldito Coração (The Heart Is Deceitful above All Things, EUA-Ing-Fr-Jap/2004, 97 min.). O filme baseia-se no livro homônimo do título em inglês. Mundo cão da pior espécie. Maus atores, direção esquisita e roteiro capenga. E tem gente (travestido de bonequinho) que aplaudiu...

10) Em Paris. Este eu assisti mês passado, mas já tem lugar na galeria das piores coisas que me propus a pagar para ver. Os personagens não tomam banho, discutem a relação o tempo todo e nem Paris é mostrado direito. Lixo puro, representante mór da pretensão do cinema francês, fazendo a linha "quis ser Godard e só consegui isso", entendem?

E aí? Alguém mais se habilita a fazer sua lista?

6 comentários:

Lavinia Fernandes disse...

Hahahaha! Cuidado que o Marcelo Madureira está sendo execrado há meses depois que disse que Glauber Rocha era uma merda.
Alguns da sua lista de piores são simplesmente da minha lista de melhores.
Muito bom isso!

Odila Giunta disse...

otima ideia!! vou te mandar a minha logo.
nossa, uns 3 filmes ai eu achei o oooooooooooooooooooooooooooo, e os outrois nem vi, agora entao, nao pago pra ver messsssssmo.
beijao
odila

Anônimo disse...

Em "Cinema é magia", posts recentes sobre piores adaptações de quadrinhos:

http://cinemagia.wordpress.com/

Seja bem-vinda e um abraço.

Alberto Correia disse...

Aclamada e bela blogueira Ana Paula...
Eu incluiria sem qualquer medo o filme BABEL. Quando o assisti cheguei a me sentir incomodado de estar sentando assistindo aquilo. Filme pretensioso, que levanta um monte de bola por incompetencia de ter a humildade de decidir por um tema. Ha aquela falsa e totalmente simplista ligacao entre os personagens. Muito filme, muita grana, pouca ousadia.
To assistindo neste momento Dancando no escuro e pela quarta v ez. Claro que tambem tenho o cd da trilha sonora....hahahhahah. Adoro o filme, adoro o que o Lars faz!!!! Bjos!!! Aproveitando....acabei de ler o Noites Tropicais do Nelson Motta. PQP!!! Que livro bom!!! Que saudade do Rio!!! bjos

Antonio Santo disse...

Não sei porque, mas eu, um dos seus 20 leitores, não tinha visto esse post sobre os filmes. Adorei, mas você sabe que o que mais adorei, foi porque sempre achei você, uma cult, daquelas que prestaria reverências a alguns dos diretores que você citou, hahaha. Adorei mesmo, cá entre nós eu quase pulei na tela para enforcar a Bjork em dançando no escuro, hahaha. Um beijão adorei, vou fazer uma minha, mas claaaaro que será mais circuitão do que os seus.

Unknown disse...

Passo um tempo sem ler seu blog e aproveito para ler tudo de uma vez! Adorei todos os textos!
Bjs!!