domingo, 27 de julho de 2008

Os aplausos de Zélia Gattai

Em dezembro de 2007 eu trabalhei como freelancer para a revista Época. O trabalho consistia em colher depoimentos de gente ilustre a respeito de outros ilustres, os quais despontariam em uma lista (olha a mais uma lista aí gente!) das 100 pessoas mais infuentes do Brasil.

Por conta desse trabalho, e sem nenhuma pretensão, creio ter sido a última jornalista com quem Zélia Gattai falou antes de sua libertação espiritual - eufemismo usado por um amigo espírita para definir morte - , em maio de 2008.

Liguei para ela a fim de conseguir umas palavras sobre Paulo Coelho, um dos eleitos para a lista das 100 pessoas mais influente do ano. Eu já estava desesperada, pois consegir alguém para falar do Paulo não estava sendo tarefa fácil. Já havia conseguido quase trinta outros depoimentos, de gente famosa e ocupad,a como Carlos Alberto Parreira, que me atendeu da África do Sul e falou gentilmente sobre o jogador Kaká. O ministro Gilberto Gil me atendeu de pronto e não se esquivou em dar seu depoimento sobre a coterrânea Ivete Sangalo. O campeão olímpico Giba me atendeu da França e discorreu sobre suas impressões a respeito do técnico da seleção brasileira de voleibol, Bernardinho.

E tantas e tantas outras 'celebridades' de todas as áreas do País foram falando comigo, sem maiores impedimentos.

Mas sobre o Paulo Coelho, tentei cinco fontes. Sem sucesso. Uns não retornavam minhas ligações, outros diziam simplesmente não se sentirem à vontade para falar dele.
Quando finalmente cheguei até a Zélia, senti um certo alívio, misturado, confesso, com um certo sentimento de desconforto. A escritora acabara de receber alta no hospital e estava em casa, ainda entubada e sob fortes exigência de repouso pelos médicos. Mesmo assim, fez lá seu depoimento sobre Paulo Coelho. O texto acabou não sendo aproveitado pela revista, pois ficou muito curto.

A parte mais rica da pequena entrevista, no entanto, foi já no finalzinho. Ao concluir suas impressões acerca do Mago, Zélia Gattai indagou-me: " E o João Ubaldo? Não está nessa lista?". Por frações de segundo, emudeci. E agora? Qual seria a explicação plausível para justificar a ausência do autor de "Viva o povo brasileiro", uma das maiores obras-primas da literatura nacional.

Puxei da memória minha expreriência pregressa em atendimento de call center - onde se aprende que dá para explicar qualquer coisa sem sentido usando eufemismos e digressões - e iniciei uma tentativa de esclarecer à viúva de Jorge Amado que infelizmente não, pelo menos da lista prévia a qual eu tivera acesso, Ubaldo não aparecia. Contei-lhe que tratava-se de uma escolha democrática, na qual várias pessoas votaram nos nomes que estariam naquela edição, inclusive leitores, por isso alguns grandes e renomados autore ficaram de fora.

Ela não se convenceu. "Eu queria mesmo era falar sobre o João Ubaldo, para mim o maior escritor brasileiro, depois do Jorge ( Amado.) Ele deveria estar nessa lista".

Em seguida se despediu de mim, pois não poderia ficar falando mais, em função de seu estado de saúde delicado.

João Ubaldo Ribeiro foi aclamado ontem com o maior prêmio dedicado a escritores da língua portuguesa, o prêmio Camões.

De onde Zélia estiver, deve estar aplaudindo de pé.

Em tempo: o depoimento sobre o Paulo Coelho foi salvo pelo jornalsita e escritor Fernando Morais. Na ocasião, Morais escrevia a biografia do imortal. Sugeri ao editor , aos 45 do segundo tempo, e tudo deu certo. Se quiser, veja no link, onde também poderão ser encontrados todos os outros depoimentos.

Um comentário:

No meu caminho tem... disse...

POIS EH... CABRCAS PENSANTES QUEREM FALAR DE CABECAS PENSANTES, QUERERM CONTAR E FALAR SOBRE QUEM REALMENTE INTERESSA E A QUEM VEIO PARA FALAR.COMO EU FALO DOS MEUS AMIGOS E DE VC.
ZELIA ERA SABIA.
VOU LER !!
BEIJAO
ODILA