terça-feira, 8 de julho de 2008

Inútil Paisagem

Acordo às cinco da manhã com o objetivo de acompanhar meu pai. O meu vascaíno preferido será submetido a uma cirurgia. Ainda é noite no Rio de JAneiro, mas a manhã já começa a querer desvendar-se.

Em geral, nunca tenho a oportunidade de ver o sol nascer. Sendo uma pessoa totalmente da madrugada, acordo sempre bem mais tarde. Apreciar a aurora, só se eu estiver chegando em casa na hora...

Mas hoje é um dia incomum. De pé tão cedo, aproveito para dar uma olhada no despertar da manhã, que se confunde com o meu. Deparo-me com a Baía de Guanabara começando a se iluminar. Os primeiros raios de sol de uma fria manhã de inverno (para os padrões cariocas, que fique bem claro) arrebentam em feixes dourados e dão um tom alaranjado à enseada de Botafogo. O pedaço do Pão de Açúcar que avisto da janela reluz aos primeiros raios da manhã e os barquinhos ancorados no Iate Clube da cidade completam o brilho intenso da luz solar desta cidade tão...Maravilhosa...

Dou um suspiro. Caminho para a porta onde o jornal já está devidamente empurrado para dentro de casa. Penso que quero que o dia nasça faliz e que tudo corra bem no hospital.

Dou uma olhada na manchete do dia e sou tomada, de súbito, pelo pior sentimento pelo qual um ser humano pode ser acometido: desesperança.

Um menino de quatro anos incompletos morreu. Mais uma vítima da violência urbana. Menos uma vida, levada pela imcompetência e crueldade daqueles que deveriam nos dar proteção.

Na mesma hora me vem à cabeça uma canção do Tom Jobim...meus olhos marejam.

O dia está só começando...

A canção a seguir é minha homenagem ao menino João Roberto, aos seus pais e irmãozinho.

Inútil Paisagem

Composição: Tom Jobim/Aloysio de Oliveira

Mas pra que
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra que
De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem

Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais
De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada
É nada
É nada

3 comentários:

No meu caminho tem... disse...

clap clap clap....

ana, as vexes as nossas paisagens sao tao linfdas , ne, mas o dentro e o tudo eh tao oco!! inutilissima paisasgem...
como foi com o seu pai?
me conte dos seus planos!
beijao
saudades
odila e tathi

Anônimo disse...

espero que seu pai esteja bem...e que voce continue apreciando paisagens. eu vejo isso de um jeito diferente...temos tanta coisa pra nos deixar pra baixo, mas as paisagens, elas estão sempre lá, quer precisemos ou não. admire-as sem culpa, sem pesar, porque um dia nós não poderemos apreciá-las, mas elas vão sempre dar alento e esperança aos que ficam...não há nada como observarmos a natureza e apreciar o dia e suas "rotinas", sempre diferentes. tudo toma outro vulto.
acho que deixei meu ponto, né?
Beijo querida amiga! sofia

Antonio Santo disse...

Mais um João né?
Olha Paula, eu mesmo já nem sei o que pensar... a bestialidade humana, por mais conhecida que seja, pois temos exemplos aos montes no decorrer da história (que o diga nosso Lorde), continua nos surpreendendo a cada minuto. Será que tem jeito? Um beijo. Eu não sabia que meu chará, seu pai, iria passar pelo bisturi, espero tenha corrido tudo bem! Bjs.